quarta-feira, outubro 15, 2008

A cretinice


No "bairro dos ricos" as árvores não podem crescer, não podem estragar os passeios ou as suas folhas entupir as sarjetas!

No "bairro dos ricos" as árvores não podem ocupar o lugar de um audi! No "bairro dos ricos" não há lugar para uma árvore, mas não falta espaço para a cretinice...

No "bairro dos ricos" dezenas de árvores, com mais de 20 anos, foram cortadas pela base! O "bairro dos ricos" é a Quinta do Covelo, na Covilhã. As fotos, tiradas há poucos dias, são uma cortesia da Máfia da Cova.










Recordo as palavras da Sophia que li, no outro dia, no Blog de Cheiros:

"O homem que é insensível ou indiferente à poesia, à música ou à pintura é um homem ensurdecido no seu ser e diminuído na sua existência. Um homem mutilado, anormal e temível. É o destruidor da alegria".

Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, outubro 13, 2008

E os 3 000 sobreiros, senhor Presidente?!

Domingos Patacho, dirigente da "Quercus", em visita a uma mancha de mais de 3 000 sobreiros, na freguesia do Tortosendo (Covilhã) - Fotografia do jornal " DiárioXXI"


No início do passado mês de Agosto, interrogava-me sobre o comportamento da Câmara Municipal da Covilhã (CMC) face a duas manchas de sobreiros, situadas na freguesia do Tortosendo.

Em desespero de causa, habituado ao secretismo da CMC, escrevi um e-mail à Autoridade Florestal Nacional, à "Quercus" e ao jornal "Público" para que, no âmbito das respectivas funções, investigassem se a autarquia da Covilhã estaria a cumprir todos os requisitos legais nesta questão. Silêncio! Silêncio, foi a resposta que obtive...

Na altura, confesso, descri dos órgãos de comunicação social locais e regionais. A notícia de hoje do "DiárioXXI"*, uma investigação do jornalista Francisco Cardona, provou que estava errado e que devia ter pedido essa "ajuda" aos jornalistas da terra!

* Nota: a hiperligação não é permanente para a edição de hoje do jornal, pelo que deverão seleccionar a edição de "13-10-2008" e, posteriormente, descarregar a edição do jornal em formato pdf.



Mas vamos passar às explicações, ou seja, ao que está em causa na freguesia do Tortosendo. A CMC pretende:

a) Destruir um pequeno bosque com dezenas de sobreiros, na zona do Cabeço do Tortosendo, para a construção de arruamentos e pavilhões para uma feira que decorre num único dia do ano: o dia 29 de Setembro (dia de S. Miguel).

b) Destruir um segundo povoamento com mais de 3 000 sobreiros, situado num terreno com 83 hectares, com o intuito de ampliar a Zona Industrial do Tortosendo (ZIT) a propósito de um "pretenso" projecto de interesse nacional.
Apenas assim se "compreenderá" a posição assumida pelo Governo que, em reunião do Conselho de Ministros de 25 de Setembro último, ratificou a suspensão do Plano Director Municipal para a zona, de modo a viabilizar "investimentos estratégicos".

Acresce que este terreno onde se situam estes 3 milhares de sobreiros, está integrado na Reserva Ecológica Nacional, na Reserva Agrícola Nacional e na actual carta de ordenamento do Plano Director Municipal (PDM) da Covilhã está classificado "como espaços agrícolas integrando áreas a beneficiar pelo Aproveitamento Hidroagrícola da Cova da Beira e áreas de grande aptidão agrícola, espaços agrícolas complementares e de protecção e enquadramento e, ainda, espaços naturais e culturais integrando áreas de protecção e valorização ambiental".


A notícia de hoje do "DiárioXXI" centra-se apenas na questão da ampliação da ZIT. Uma questão que levou, hoje mesmo, a "Quercus" a emitir um comunicado: Quercus exige Avaliação de Impacto Ambiental.


Em relação a este assunto, reafirmo parte do que escrevi em Agosto passado, quando ainda desconhecia a real dimensão da mancha de sobreiros que estava em causa relativamente à expansão da ZIT:

1º) À Câmara Municipal da Covilhã (CMC) não se pede que concorde com a lei. Pede-se que a conheça, que a respeite e que a faça respeitar.

2º) O sobreiro é uma espécie protegida pela sua crucial importância ecológica em diversos habitats prioritários, que o Estado português se comprometeu a cumprir perante diversas instâncias internacionais, e pela importância económica estratégica da indústria da cortiça.
Tal não significa que o sobreiro seja uma "espécie sagrada", ou seja, podem existir factores de imprescindível utilidade pública que ditem o abate de uma mata desta espécie.

Tal depende de uma ponderação de factores, nomeadamente do empreendimento projectado e dos valores naturais em causa, o que numa zona com mais de 80 hectares e 3 000 sobreiros pressupõe um estudo de impacto ambiental rigoroso.

Factores de imprescindível utilidade pública podem ser a construção de hospitais ou escolas ou, eventualmente e após uma séria ponderação, um investimento industrial que possa gerar centenas de postos de trabalho, directos ou indirectos, e para o qual não existam localizações alternativas.


3º) Da parte da Câmara exige-se simplesmente essa resposta: qual o investimento em causa e que outras localizações alternativas foram ponderadas?

Por exemplo, e não estou a dizer que concordo com essa decisão, para a construção da fábrica do "Ikea" em Paços de Ferreira, o Governo suspendeu o PDM daquele concelho, de modo a possibilitar a instalação daquela empresa em terrenos das Reservas Agrícola e Ecológica.

Repito: não estou a dizer que concordei com essa suspensão, até porque penso que nunca foi suficientemente esclarecida se houve a ponderação de outras localizações, dentro do mesmo concelho. No entanto, pelo menos nesse caso era conhecido qual o investimento em causa.

No caso da ZIT, nem isso! É tudo mistério!...

4º) O Presidente da CMC não nos pode tratar com o habitual discurso indigente de que antes das "florinhas e dos animaizinhos" estão as pessoas; ou o gasto discurso das "forças de bloqueio" ao desenvolvimento do concelho.

Estamos a falar de 3 000 sobreiros! Deveremos passar um "cheque em branco" à CMC, do género: cortem lá os sobreiros e depois logo se vê se aparece algum investimento significativo?! (E se os mesmos não se concretizarem, fazem-se uns loteamentos para condomínios de luxo, como alternativa?! Com o futuro IC para Coimbra, a passar ao lado, todos sabemos o valiosos que são aqueles terrenos...)

5º) Eu até acredito que exista um investimento previsto. E que o mesmo seja avultado e gere muitos postos de trabalho.
De outra forma, não imagino o Governo da República a autorizar a suspensão do PDM. Mas não existirão outros terrenos, no concelho da Covilhã, que possam receber este investimento? Não existirão, nas imediações da ZIT, outros terrenos com vocação industrial?

Porquê esta obsessão com estes 83 hectares?


6º) Como é evidente, este assunto é complexo e pretendo voltar a ele as vezes que forem necessárias....E com mais tempo!

Mas, de entre todas as questões que o "DiárioXXI" apurou, há uma que me deixa particularmente curioso: com que intuito pediu a CMC, à Autoridade Florestal Nacional, autorização para cortar sobreiros que não são sua propriedade? Se os terrenos não são da Câmara, por compra ou expropriação, que direitos tem esta sobre os mesmos?!


São muitas perguntas e nenhuma resposta! Aguardemos...

domingo, outubro 12, 2008

Uma "pata de vaca" exótica


De há uns tempos a esta parte que uma árvore, plantada como ornamental no Algarve, me vinha intrigando...Intrigava-me o seu ar exótico e, em simultâneo, as suas "parecenças" com a olaia.



Após alguma investigação, penso que posso afirmar, com alguma segurança, que a espécie em causa é a Bauhinia variegata L., espécie originária do leste da Ásia, desde a Índia até à China.

Esta espécie é conhecida pelo nome de "pata de vaca" no Brasil, onde é comum como árvore ornamental. Em espanhol é conhecida pelo mesmo nome, sendo que em língua inglesa é conhecida como "orchid tree" ou "camel's foot tree".



Para a respectiva identificação, face a outras espécies do mesmo género, contribuíram alguns pormenores do respectivo fruto (uma vagem* de 20 a 30 cm, plana e recurvada) e das respectivas flores, as quais possuem 5 estames**.

* Visível na primeira fotografia.
** Visíveis na terceira imagem.




As flores podem ser brancas ou de cor rosa (como é visível na última imagem), ocorrendo a floração de Abril a Maio.

No entanto, no mesmo ano, pode ocorrer uma segunda floração mais tardia, embora com menor intensidade. Tal parece ter sido o caso destes exemplares situados em Paderne (Albufeira).

As flores apresentam ainda a particularidade de serem comestíveis.



P.S. - Agradecia que algum leitor, nomeadamente do Brasil, me pudesse confirmar a identificação desta espécie. Antecipadamente agradecido por qualquer ajuda nesta questão.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Agradecimento

Através de alguns amigos, tomei conhecimento de uma referência à "Sombra Verde" no "Biosfera", programa da RTP sobre temáticas ambientais.

Deste modo, agradeço publicamente aos autores do programa pela referência a este blogue no espaço "bio_net".


P.S. - No referido programa em que foi feita a referência à "Sombra Verde", foi também dedicado um espaço à divulgação do arboreto da Escola Secundária de Barcelos, constituído exclusivamente por espécies de árvores e arbustos autóctones de Portugal continental. Um exemplo para ser seguido e não apenas por escolas!

quinta-feira, outubro 09, 2008

A timidez feita árvore

Oxicedro ou zimbro-galego (Juniperus oxycedrus L.) - EM 608 nas proximidades de Vila Flor


O oxicedro (Juniperus oxycedrus L.) é uma espécie que, por norma, não ultrapassa os 6 a 8 metros de altura, embora muitas vezes assuma um porte arbustivo em consequência de ser podada para obter esteios para as vinhas e também por fazer parte da alimentação de alguns animais.

Esta espécie característica da bacia do Mediterrâneo está confinada no nosso país a alguns troços mais interiores dos vales do Douro, Tejo e dos respectivos afluentes.

O oxicedro é uma espécie dióica, ou seja, os órgãos reprodutores masculinos e femininos estão em exemplares distintos.
Possui raminhos pendentes e 3 folhas aciculares* por cada nó. As folhas apresentam, na página superior, duas faixas esbranquiçadas separadas pela nervura verde; esta característica facilita bastante a identificação da espécie, sendo parcialmente visível na segunda imagem.

* Semelhantes a agulhas.


Segundo a bibliografia consultada**, a madeira desta espécie é quase incorruptível, sendo por este motivo bastante apreciada na indústria do mobiliário. A partir da destilação da madeira obtém-se o "óleo de cade", com aplicações medicinais, em particular em veterinária.
Por outro lado, dos seus "frutos"*** e da resina que produz, obtêm-se substâncias com propriedades anti-sépticas.

** "Árboles en España, Manual de Identificación" de A. López Lillo e J.M. Lorenzo Cáceres.; "Guia de Campo. As árvores e os arbustos de Portugal continental", Colecção "Árvores e Florestas de Portugal", coordenada por Joaquim Sande Silva.

*** As gimnospérmicas não possuem verdadeiros frutos; neste caso concreto, a designação correcta da estrutura que encerra as sementes é gálbula baciforme.


Oxicedro ou zimbro-galego (Juniperus oxycedrus L.)


O oxicedro é uma das pérolas da nossa flora lenhosa que, como muitas outras, apresenta um enorme potencial ornamental (ainda) por explorar.

Escondida nas confins do Douro e do Tejo, quase que pedindo desculpas por querer ser árvore, aguarda timidamente e sem pressas a sua vez...O oxicedro ou zimbro-galego é uma das mais bonitas e desconhecidas árvores de Portugal!


P.S.- Podem ver aqui imagens de outro zimbro autóctone de Portugal continental.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Estarão os técnicos equivocados?!

Évora- Jacarandás (Jacaranda mimosifolia D. Don) no centro histórico

Árvores que persistem...



O sobreiro da Garcia Domingues sobreviveu ao seu segundo Verão!

Ainda que enfezado, de perfil desalinhado, longe de nos conquistar por ser planta viçosa, conquista-nos pelo empenho em sobreviver ao calor do Verão e às boladas dos miúdos. É da "raça" dos que não desistem e talvez isso lhe garanta um futuro...



P.S. - Aproveito este texto para relembrar que o leitor Rúben Vilas Boas, da região de Coimbra, possui para "adopção" várias dezenas de árvores (sobreiros, castanheiros e cerquinhos).
Quem estiver interessado em aceitar algumas destas pequenas árvores, poderá enviar-me um e-mail para asombraverde(at)gmail.com, e eu farei por fazer chegar essa informação ao Rúben.


quarta-feira, outubro 01, 2008

Estados de alma



Recordo ter lido algures sobre um blogue, ou um "site", onde se publicam desenhos feitos durante reuniões de trabalho. Mais do que exercícios para matar o tempo, estes desenhos reflectem estados de alma.


Alguns desses desenhos são obras de arte, mas este?!... Este é apenas o desenho de uma árvore triste. Uma árvore de Botelho.



É triste compreender que a qualidade do meu trabalho será medida pelos quilogramas de papel que produzir.

Ultimamente, não tem sido fácil ser professor. Curiosamente, ou talvez não, no meu país continua a não ser fácil ser-se árvore...

Afagar as árvores




segunda-feira, setembro 29, 2008

Projecto DAISIE

Mimosa (Acacia dealbata Link.) - Fotografia de Hélia Marchante


Um interessante projecto de inventariação das espécies invasoras no continente europeu: DAISIE (Delivering Alien Invasive Species Inventories for Europe).

P.S. -
Ligação para a página com as espécies invasoras em Portugal (aqui).

sexta-feira, setembro 26, 2008

Cronologia de um "disparate pegado"


A 21 de Março de 2007, a Câmara Municipal de Albufeira decidiu "festejar" o Dia da Árvore, cortando dezenas de pimenteiras na Avenida dos Descobrimentos.


Um vanguardismo está bem de se ver!


Anunciava-se mais uma daquelas "requalificações" que implicam (quase) sempre o abate de árvores! Nada a que não estejamos já habituados...

Avenida dos Descobrimentos - Albufeira (21 de Março de 2007) - Fotografia de Miguel Rodrigues

Seguiu-se, em Novembro de 2007, e após as ditas "requalificações", a plantação de novas árvores. Mas não umas árvores quaisquer!

A Câmara de Albufeira decide arriscar novamente. Em vez de plantar árvores e de as podar radicalmente passados alguns anos, como acontece na generalidade dos municípios portugueses, decidiu inovar...Para quê esperar alguns anos? Por que não plantar árvores que já tivessem sofrido este "corte à máquina zero"?! E se assim o planeou, melhor o executou...

Avenida dos Descobrimentos - Albufeira (Novembro de 2007)

E eis-nos assim, chegados ao final do Verão de 2008, ansiosos por saber o que aconteceu a estas árvores, vítimas do "experimentalismo arbóreo" da Câmara Municipal de Albufeira?

Avenida dos Descobrimentos (Setembro de 2008)


Muitas destas árvores nunca chegaram a desenvolver folhas e aparentam ter morrido. Curioso!
Só na fotografia anterior contamos 4 jacarandás de aspecto moribundo, sem quaisquer folhas.

Será que sofrem do mesmo "mal" das árvores de Avelãs de Caminho? Claro que sim, mas não se trata de nenhuma doença ou praga. Trata-se de pura estupidez humana!



P.S. - Em Albufeira, a "moda" de plantar jacarandás podados de forma radical, alastrou às obras de requalificação da estrada que liga a zona de Montechoro à EN 125.

Como se pode observar pela imagem sob este texto, as árvores transbordam "vivacidade"! Numa contagem rápida, observei mais de 10 exemplares que não chegaram a produzir quaisquer folhas.

Estrada Montechoro-EN125 (Albufeira) - Setembro de 2008

A incompetência na gestão dos espaços verdes é uma triste realidade que associamos a qualquer concelho português.

Mas no concelho de Albufeira, um dos mais ricos do país, esta situação não é apenas incompreensível. É inaceitável!

quarta-feira, setembro 24, 2008

Arboricídios e surrealismos

Imagem retirada do blogue "Pedaços de Alcongosta"


Este Verão, pude observar um elevado número de árvores mortas em várias localidades, de Norte a Sul do país. Árvores que tinham sido podadas de forma violenta recentemente.

Cada um tira as conclusões que quiser! Confesso que tentei evitar falar do assunto, uma vez que uma pessoa também se cansa de denunciar a óbvia estupidez e irracionalidade destes arboricídios anuais.

Mas, nos últimos dias, duas situações fizeram-me relembrar estes casos e criaram em mim a vontade de voltar ao assunto das podas.

Uma das situações, retratada na imagem que acompanha este texto, aconteceu em Alcongosta (concelho do Fundão). Duas árvores jovens podadas de forma tão desajustada que não sobreviveram ao acto.
Se tiverem a curiosidade em ler o texto que denuncia este caso, poderão observar como um dos comentários retoma a temática de abater todas as tílias por causa da pintura dos automóveis! O que, obviamente, me remeteu para um dos primeiros textos que escrevi neste blogue, sobre a temática das podas em árvores ornamentais: Eu sou pelas tílias.


O segundo caso roça quase o "surreal"! O Presidente da Junta de Freguesia de Avelãs de Caminho (concelho de Anadia) está muito preocupado com a "causa de um fenómeno" que terá levado à morte de 12 árvores na referida localidade.
A preocupação levou-o ao extremo de chamar técnicos do Núcleo Florestal do Centro Litoral, para averiguar o caso. E o que constataram estes técnicos no local? Constataram, pasme-se, que as referidas árvores "foram submetidas a podas intensas recentemente e não possuem qualquer folha verde nem gomos de rebentação deste ano."

Entretanto, este caso chega ao ponto do Presidente da Junta querer apresentar uma queixa contra desconhecidos no Ministério Público! E que tal apresentar essa queixa contra os executantes das referidas podas e, ainda mais importante, contra os mandantes das mesmas?! Ou será que o mandante não terá sido a própria Junta?!

Aguardemos...

sábado, setembro 20, 2008

Ser generoso




"Era uma vez uma árvore que amava um menino."


"A Árvore Generosa" (The Giving Tree) de Shel Silverstein. Bruaá editora.

domingo, setembro 14, 2008

Subitamente, a perfeição feita árvore

Tulipeiro (Liriodendron tulipifera L.) - Jardins da Casa das Artes (Porto) - Fotografia de Miguel Rodrigues


Há qualquer coisa de mágico numa árvore que tem a humildade de tocar, com os seus ramos, o mesmo chão que nós pisamos...


Tulipeiro (Liriodendron tulipifera L.) - Jardins da Casa das Artes (Porto) - Fotografia de Miguel Rodrigues


P.S. - Outras imagens deste tulipeiro no Dias com Árvores.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Um farol na avenida

Avenida da Boavista (Porto)

Curioso como pessoas diferentes reparam nas mesmas coisas.

A Manuela chamou-lhe uma ilha, eu chamo-lhe um farol. Um farol indiferente ao bulício da avenida, indiferente ao tempo que passa....

quinta-feira, setembro 11, 2008

A azinheira da Nave do Barão

Azinheira (Quercus rotundifolia Lam.) - Nave do Barão, Salir (Loulé)

Mais um exemplar notável para ser descoberto no "Árvores Monumentais do Algarve e Baixo Alentejo".

P.S. - Gosto bastante desta azinheira de 18 metros de altura e copa bastante cerrada. Fica "afastada do mundo", o que espero venha a ser suficiente para que o futuro faça dela um exemplar ainda mais majestoso...

terça-feira, setembro 09, 2008

Num qualquer dia de Agosto

Serra da Estrela - Verão de 2008

No princípio de Agosto, a "sombra verde" fez dois anos. Embora contrariado, aproveito o facto como pretexto para fazer aquilo que não gosto de fazer: falar do blogue!

- A sombra surgiu com um misto de boas intenções e como escapatória a um Agosto monótono.

- A sombra começou por falar sobretudo de árvores e da Estrela, porque são dois temas que me são caros. E porque a sombra não teria existido sem o "Cântaro Zangado" e o "Dias com Árvores".

- O objectivo do blogue mantém-se na defesa e divulgação das árvores monumentais de Portugal e na denúncia da falta de rigor na manutenção das árvores ornamentais nas nossas vilas e cidades.

Ocasionalmente, insurjo-me contra os desvarios cometidos no Parque Natural da Serra da Estrela, supostamente em nome do progresso (suponho que por "progresso" se tome o enriquecimento dos monopólios existentes). E, por vezes, insurjo-me quando em causa estão valores naturais únicos no nosso país, como é o caso do vale do rio Tua.

Vai continuar a ser assim no futuro...

- A "sombra verde" é um blogue da responsabilidade de Pedro Nuno Teixeira Santos. No entanto, o blogue é construído diariamente com a ajuda de inúmeros leitores.
Este é um dos motivos que me leva muitas vezes a escrever no plural; o outro é porque em muitas situações, nomeadamente nas que envolvem a divulgação de árvores ornamentais, este é um trabalho a dois com o Miguel Rodrigues (que comigo assina o "Árvores Monumentais do Algarve e Baixo Alentejo" e que é uma espécie de co-autor, não assumido, da sombra).

- Gostava de alterar algumas coisas no aspecto visual do blogue, mas entre as limitações do "blogger" e as minhas, receio que isto seja o melhor que consigo fazer... Sei que há tempos prometi uma reorganização das "Ligações" através do recurso ao "del.icio.us"; esta é uma promessa para cumprir sem data marcada.

- Alguém considera que serei melhor professor e que os meus alunos aprenderão mais e melhor, se preencher mais papéis. Em parte, este será um dos motivos que farão com que o próximo ano tenha uma menor regularidade na publicação de textos.

- Mas também há projectos a nascer e outros a crescer...Tudo a seu tempo!

- Agradeço a todos os que têm contribuído com comentários, e-mails, notícias ou fotografias. Um pedido de desculpas a todos aqueles a quem desiludi, quando a mim recorreram em busca de esclarecimentos aos quais, sobretudo por desconhecimento mas nunca por má vontade, fui incapaz de responder.

- O caminho ainda não vai a meio...Enquanto houver árvores para dar a conhecer e arboricídios por denunciar, a sombra continuará o seu caminho. Até amanhã.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Um jardim digno da nossa pequenez (II)

- A Câmara de Lisboa não pagou verba mensal e o Jardim das Cerejeiras secou. Para ler: "Um jardim digno da nossa pequenez".

- Projecto português quer plantar 400 milhões de árvores no mundo. Apesar de todas as considerações que já tive ocasião de escrever sobre algumas destas iniciativas, há algo que me agrada em particular neste projecto. Pelo menos a acreditar nas palavras de David Lopes, coordenador do projecto: "Até hoje, plantavam-se árvores por plantar. Nós queremos que as empresas que apoiam o programa assegurem também a sua gestão e protecção por um período de 30 anos." Se assim for, excelente!

- Moradores criticam abate de árvores para criar urbanização privada (Quinta do Texugo - Almada): "Este abate implicou ainda o fim de garantias feitas a vários moradores aquando da compra dos seus imóveis (...) são um atentado à qualidade de vida dos moradores, são a continuação de uma exploração imobiliária desumana que não tem em conta a qualidade de vida das pessoas e cujo único objectivo é o lucro.”

- Jornadas sobre árvores monumentais - Parque Natural de la Font Roja (Alicante, Espanha), de 22 a 24 de Outubro. Ver programa em pdf. Notícia via Asociación de Amigos del Tejo.

sábado, setembro 06, 2008

Inscrições para o 5º Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima

Ponte de Lima

Estão abertas até ao próximo dia 30 de Outubro as inscrições para o 5º Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima.

A edição do próximo ano será subordinada ao tema "As Artes no Jardim" - Mais informações na página do evento.

A oliveira de S. Clemente (Loulé)



Uma oliveira monumental pronta a ser descoberta no "Árvores Monumentais do Algarve e Baixo Alentejo".

segunda-feira, setembro 01, 2008

A maior faia do país?

Faia (Fagus sylvatica L.) - Ponte de Lima


Tudo começou com um passeio a Ponte de Lima e uma araucária.

A dita araucária (Araucaria bidwillii Hook. f.) situa-se nos jardins da Santa Casa da Misericórdia, em Ponte de Lima e, na altura, a falta de tempo impediu-me de os explorar convenientemente.

Mas ficou o desejo...

Posteriormente, a Manuela do "Dias com árvores" deixou-me um comentário onde mencionava uma faia (Fagus sylvatica L.) de grandes dimensões, existente nesse mesmo jardim.


O que ela me foi dizer! Claro que aquela informação me ficou a "martelar" o juízo até ao mês passado, altura em que tive ocasião de regressar a Ponte de Lima.


Claro que nem tudo foi perfeito e a chuva que se fazia sentir nesse dia, não me deu a oportunidade para apreciar de forma pausada, o magnífico arboreto existente no jardim da Santa Casa da Misericórdia desta vila minhota. Mas houve uma "trégua" suficiente para a ver...


A Manuela tinha toda a razão, trata-se de uma faia monumental capaz de suscitar as maiores admirações e paixões.


Mas será a maior do nosso país? O "Árvores Monumentais de Portugal" do Ernesto Goes menciona uma faia existente em terrenos da Universidade do Porto, na Rua do Campo Alegre, como sendo o maior exemplar conhecido desta espécie em Portugal.

No entanto, não a consegui localizar na lista das árvores classificadas do distrito do Porto, nem no "Dias com árvores". Fico na expectativa de alguém me poder confirmar se esta faia do Porto continua viva e saudável.

Mas, independentemente disso, esta faia de Ponte de Lima é um exemplar notável, inserida num magnífico arboreto merecedor de ser classificado. Merece uma futura visita mais demorada, de modo a obter as dimensões desta faia e fotografar outras árvores.



Faia (Fagus sylvatica L.) - Ponte de Lima

sábado, agosto 30, 2008

Monumental castanheiro em Moimenta da Beira


Castanheiro (Castanea sativa Mill.) - Beira Valente (Moimenta da Beira), fotografia de Rafael Carvalho


Um magnífico castanheiro (Castanea sativa Mill.), situado no concelho de Moimenta da Beira, para ser descoberto no blogue Arquitectura D'ouro.

O autor deste blogue, Rafael Carvalho, num acto de cidadania merecedor de todos os elogios, decidiu informar por e-mail a Direcção-Geral dos Recursos Florestais acerca da localização deste castanheiro. Resultado? O mesmo silêncio!



P.S. - O leitor Maurício Valle, de Curitiba, enviou-me uma notícia bem interessante sobre as árvores dessa cidade brasileira: Curitiba terá mais árvores livres de corte. Este artigo deveria ser de leitura obrigatória para todos os autarcas portugueses (e não só).

sexta-feira, agosto 29, 2008

quinta-feira, agosto 28, 2008

Discussão pública do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Serra da Estrela

Torre (Serra da Estrela) - Vista para nascente numa manhã de Agosto

Encontra-se em fase de discussão pública, desde o passado dia 25 de Agosto e até ao próximo dia 3 de Outubro, o Plano de Ordenamento do Parque Natural da Serra da Estrela.

Segundo a imprensa regional, a Câmara da Covilhã "não quis estar (presente) nas reuniões de concertação" com os técnicos do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade.
Dito por outras palavras, o poder político eleito democraticamente pelos eleitores do concelho da Covilhã, não quis estar presente no local próprio para colocar todas as dúvidas ou fazer todas as críticas/sugestões a que teria direito.
É mais fácil fazer chegar essas críticas, de forma indirecta, à imprensa regional ou fazer discursos Domingo de manhã para um eleitorado conquistado a priori.

P.S. - A propósito do que esta proposta de plano de ordenamento sugere para as Penhas da Saúde, sugiro a leitura deste texto do José Amoreira.

O Courel

Serra do Courel - Lugo, Galiza

Courel dos tesos cumes que ollan de lonxe! Eiquí síntese ben o pouco que é un home", Uxío Novoneyra


A Serra do Courel (ou Caurel) situa-se no Sudeste da província de Lugo, na Galiza, e inclui alguns dos bosques com maior biodiversidade do território espanhol, como é o caso do bosque da Rogueira.

O Courel é um Sítio de Importância Comunitária e que integra a lista de sítios propostos para a Rede Natura 2000, em Espanha.

Serra do Courel (Castanheiros no bosque da Rogueira) - Lugo, Galiza

Para além dos valores naturais que encerra, o Courel é ainda rico em aspectos culturais, históricos e etnográficos.

Depois de o visitar, compreendem-se bem as palavras do poeta Uxío Novoneyra: "(...) Aqui se sente bem o pouco que é um Homem..."

terça-feira, agosto 26, 2008

Arboricídios e educação


- O Governo autorizou a sociedade gestora do Parque Alqueva, empreendimento turístico em Reguengos de Monsaraz, no entorno da albufeira do Alqueva, a abater 6.484 azinheiras. Supostamente, os promotores deste empreendimento irão plantar mais de 27 mil novas azinheiras.
Não me considero um fundamentalista. Concordo com um aproveitamento turístico de baixo impacto nas margens do Alqueva, desde que não se vendam "empreendimentos imobiliários" destinados a 1ª ou 2ª habitação do "jet-set" nacional e internacional, como sendo investimentos turísticos. Será este o caso?
Proponho aos promotores deste empreendimento que, antes de se preocuparem com a refinaria proposta para Badajoz, forneçam dados mais concretos sobre o tratamentos dos resíduos e efluentes deste mega-empreendimento, sobre a eficiência energética do mesmo e que, antes de arrancarem os mais de 6 milhares de azinheiras propostos, plantem cada uma das novas 27 mil árvores prometidas.

-
Uma dirigente da associação ambientalista Quercus revelou esta segunda-feira que centenas de árvores e arbustos foram destruídos para colocar uma conduta de esgotos, no concelho de Cantanhede, numa zona do domínio hídrico protegida por lei.

- Notícia via Ondas 3: Aterros e escavações destroem vegetação ribeirinha em Vila Nova de Anços.

- A associação ambientalista Quercus estranha que a portaria que estabelece financiamentos para reconversão florestal "esqueça" espécies tradicionais como o carvalho, azinheira e sobreiro e acredita tratar-se de um "lapso" do Ministério da Agricultura.

- Reflorestação de Porto Santo deve continuar "com recurso a espécies já testadas". Já testadas?! Testadas no sentido de terem potencial invasor?! Que mal haverá em recorrer exclusivamente à flora nativa de Porto Santo?

- Do Sargaçal: árvores eliminam produtos resultantes da poluição.

- Em Setúbal, acredita-se piamente que um novo estádio de futebol, bem como a urbanização para 30 000 pessoas que o tornará possível e que implica a destruição de mais de um milhar de sobreiros, será uma mais-valia para a cidade. Suponho que para tal suposição, se baseiem no enorme "sucesso" e "progresso" associados à construção de novos estádios de futebol, em cidades como Aveiro, Coimbra, Leiria ou Faro, por exemplo.

- Em relação às intenções da Câmara Municipal da Covilhã de transplantar um conjunto de sobreiros na freguesia do Tortosendo, escrevi a um conjunto de instituições apelando a que averiguassem se todos os procedimentos legais estarão a ser cumpridos.
Entre elas, escrevi um e-mail à Direcção-Geral dos Recursos Florestais. Tal como no caso de um pedido de esclarecimento relativamente à proposta de classificação de algumas árvores, recebi como resposta um "silêncio absoluto". (O mesmo silêncio obtive por parte do Público e da Quercus).
A um e-mail, tal como a uma carta, deve-se sempre responder. Já que mais não seja, por uma questão de educação!

segunda-feira, agosto 25, 2008

Tal e qual como em Portugal (II)

Plátanos (Platanus sp.) de Berkeley Square (Londres) - Imagem cedida por Paulo Araújo


No seguimento do texto que ontem publiquei sobre a problemática relação dos portugueses com as árvores, em especial das que se situam no espaço urbano, convirá sublinhar o que ocorre noutras latitudes.
Ressalvando sempre que este problema da falta de arborização das ruas ou das podas radicais está longe de ser um problema exclusivo do nosso país, como ainda recentemente pude constatar novamente em Espanha.

Em Abril passado, com base numa notícia do jornal espanhol El Mundo, escrevi um texto precisamente chamado "Tal e qual como em Portugal...".
Nesse texto, aludia à classificação de um plátano situado em Londres, mais concretamente em Berkeley Square, como a árvore mais valiosa de toda a Grã-Bretanha, de acordo com um conjunto de critérios definidos pela London Tree Officer's Association.


O Paulo Araújo, de passagem por Londres, aproveitou para visitar a Berkeley Square, no bairro de Mayfair. A fotografia, de sua autoria, mostra alguns exemplares do conjunto de 31 plátanos plantados em 1789.

O Paulo esclarece ainda que, dado as árvores terem dimensões semelhantes e não existir nenhuma placa identificativa, se torna praticamente impossível identificar o plátano vencedor do referido galardão. Apesar de tudo, confessou um pressentimento relativamente ao exemplar visível no centro da fotografia.

Talvez um dia por cá, as árvores comecem igualmente a ser valorizadas e a sua plantação e manutenção seja feita exclusivamente por técnicos credenciados. Talvez um dia, as árvores não sejam vistas como um inimigo na cidade, mas como um factor que facilita a vivência da própria cidade e que valoriza os imóveis situados em seu redor.

Sonho com o dia em que seja possível andar a meio de uma tarde de Verão, numa qualquer vila ou cidade portuguesa, sem que tal se assemelhe a ter que cruzar o deserto do Saara. Sonho com a sombra de árvores grandes...

P.S. - Ainda sobre o citado plátano de Londres, o Paulo forneceu-me as ligações para duas notícias na imprensa britânica. Podem ler esses artigos aqui e aqui.

domingo, agosto 24, 2008

O culto arboricida

Braga, Inverno de 2008 (na realidade, este tipo de imagem poderia ter sido recolhido em qualquer vila ou cidade portuguesa)


A Júlia chamou-me a atenção para as palavras de João Dubraz, escritor do século XIX, natural de Campo Maior. São palavras com 141 anos, mas ainda bem actuais.


De título bem sugestivo: “Tipos Contemporâneos – O Arboricida

O arboricida nasce como nasce o poeta e o estafador de rimas, o orador e o falador secante, o guerreiro e o poltrão, o homem de Estado e o caturra político, o progressista e o rotineiro, o activo e o indolente, o talentoso e o parvo.
Ainda nas fraldas infantis, nos braços da mãe ou da ama-de-leite, já os instintos destruidores do arboricida se revelam contra toda a planta que se assemelhe a árvore. (…) Decorrido o tempo, o menino tornou-se réu de diversos crimes desta espécie durante as férias das suas tarefas escolares. Por vezes arrepelou as plantas dos canteiros do quintal paterno, atribuindo o estrago ao sujo esgravatar dos gatos. Noutras vezes, encaminhou a mão do irmãozinho para que este faça diante de tidos o que ele próprio receia fazer. Mas, o que sobretudo o atrai é a pequena árvore pública por que roça ao ir para a escola, pois que a vê frágil, apoiada por uma cana, tão maneira, tão sedutora! Daria o mais predilecto dos seus brinquedos para medir a sua força com a resistência que a estaca oferece. Porém, o medo impede-o de tentar. Dizem-lhe na escola que irá para a cadeia onde dão açoites aos meninos que ousem fazer aquilo que ele tanto deseja. E, todavia, o pequeno facínora, que já teme a penalidade e só perante ela recua, apenas orça pelos dez anos! …
Atormentado pela fatal arboricida mania, mas satisfazendo-a sempre que pode, passou o agora adulto arboricida, anos e anos. Inúmeros têm sido os seus malefícios, tantos e tais quantos os que lhe tornou fácil a sua impunidade. Fez-se cínico. Não oculta já, por vezes até exagera, a má paixão que o domina. Desenraíza, abate ou mutila por toda a parte, conforme o capricho do momento. Transformou a bengala em arma ofensiva que, na sua mão, se transformou em instrumento destruidor. Se passeia num jardim, não se pode suster sem decepar alguma vergôntea ou ramo inofensivo: degola sem piedade a flor que se alteia. E, com tão criminosa existência, atingiu os vinte anos sem rugas, sem cabelos brancos e sem remorsos! …
O hábito do crime endurece mais e mais este tiranete sui generis. A impunidade reduplicou-lhe a ousadia. Abalar pequenas árvores que orlam as praças e caminhos, quebrar-lhes as vergônteas, matá-las impiedosamente, são passatempos de insípida vulgaridade. Como os Átilas, os Napoleões e outros tiranos, sonha com campos juncados de mortos: as selvas devastadas e os campos espezinhados deliciam-lhe o pensamento, Quando viaja, se alguma vez, com gesto desdenhoso procura a árvore copada para sob ela conciliar o sono à sua sombra, que sonho pensais que o faz sorrir e arquejar suavemente? … O de imaginar que o seu viçoso dossel foi presa das chamas ou que os seus ramos são desfeitos contra as rochas pelo desbastador do mato, ou que, por acção do carvoeiro, viu transformar-se em carvão o que antes fora planta com vida. Para o arboricida, é terrível acordar vendo incólume a árvore habitante do belo vale. Então, o raivoso tirano evoca as tradições de Nero e diz, parodiando o que aquela fera sanguinolenta terá dito ao ver a cidade de Roma que ardia:
Se eu pudesse reunir num só tronco todos estes parasitas que a terra alimenta, pediria a Deus que me desse um braço bastante forte para os aniquilar de uma vez.
Inspiraram-me estas ideias que acabo de expor, um passeio pela estrada de Campo Maior a Elvas. Havia há pouco tempo, junto ao hortejo dos herdeiros de Vaz Touro, uma superfície de uns cinquenta centiares de terra, coberta toda de choupos, plantados pelo condutor Caldeira quando fez a estrada. Em terra tão pobre de arvoredo como é Campo Maior, a vista pousava deliciosamente naquele pequeno oásis. O que julga o leitor que fui encontrar? … Vi uma hecatombe lastimosa: vi quase todas as árvores abatidas … provavelmente para restituir o mesquinho terreno à cultura de aveia ou cevada! Os cadáveres lá estavam ainda, mutilados e em montão, quase escondidos a um canto do lugar do suplício. Considerei-os por alguns instantes com dor de alma. Via ali a obra de um tugue* de nova espécie. Quem é? Como se chama? Não sei. Que importa o nome do arboricida, se o seu malefício é já irreparável!

* No seu blogue, Francisco Galego esclarece que "tugue" tem origem na palavra inglesa thug, a qual designa os elementos de uma extinta associação religiosa indiana de estranguladores.


Passado quase século e meio, a relação dos portugueses com as árvores continua a ser problemática. Aliás, é mais do que apropriado afirmar que os arboricidas estão no poder!

As árvores são quase sempre um estorvo, tememos que nos ocultem a espiação de quem passa na rua ou da casa do vizinho e temos bem enraizado no nosso "ADN colectivo" essa fobia às árvores grandes, esse medo de que tombem sobre nós ou, pior ainda, sobre o mais precioso dos bens materiais de um português, o seu automóvel!

Mesmo quem afirma gostar de árvores, jura a pés juntos que as árvores precisam de ser podadas para ganharem "força".

Deste modo, o poder político limita-se a fazer a vontade aos que se sentem incomodados com a sombra.

Um mal que, igualmente no século XIX, o grande escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, também anotou ao passar por Lisboa. Para ler com atenção nos "Amigos do Botânico".


Passados quase 150 anos a situação em nada evoluiu. Com os exemplos que podemos observar diariamente nas nossas vilas e cidades e, bem mais grave, nas nossas escolas, estamos a perpetuar gerações e gerações de arboricidas.

Até quando? Não sei, mas sei que o exemplo tem que começar nas escolas.

sábado, agosto 23, 2008

O carvalho de Santa Cruz da Trapa


Carvalho (Quercus sp.) de Santa Cruz da Trapa (São Pedro do Sul) - Fotografia de Francisco Paiva

O Francisco Paiva teve a gentileza de partilhar comigo a "descoberta" deste belo carvalho, situado na freguesia de Santa Cruz da Trapa (concelho de São Pedro do Sul).

Muitas vezes me tenho questionado sobre o que permite que algumas árvores escapem ilesas às podas mutiladoras e alcancem o estatuto de monumentais (?)... Será por mero acaso ou pura sorte? Ou talvez por não "interferirem" com nada, nem mesmo com a mesquinhez de ninguém?

Prefiro pensar que resultam de "actos de amor". Em Portugal, como em muitos outros países, as árvores só têm direito a ser monumentais se forem protegidas pelo amor de uma pessoa ou de uma comunidade. Só que o amor, como se sabe, é dado a caprichos e, no decurso dos seus processos sinuosos, protege algumas e abandona outras... Felizmente para este carvalho, o amor de um (ou de muitos) decidiu protegê-la.

domingo, agosto 17, 2008

4º Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima - Parte III


Le trou noir, source d'energie



Bathe in energy flow



The orange fuel grove



Virevent


Termina aqui a publicação de imagens relativas ao 4º Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima.

P.S. - A "Sombra Verde" regressa com novos textos no próximo Sábado.