terça-feira, março 27, 2012

Salvar o maior poeta de Guilhafonso

Fotografia de Ricardo Nabais

Chamar a atenção das autoridades para tentar salvar o maior poeta de Guilhafonso, como lhe chamou Fernando Alves, foi o que mais de 20 pessoas fizeram no sábado passado.

"Está árvore está fortemente ligada à história da minha família, ao local onde nasceu meu bisavô e sob seus galhos e sombras brincou quando criança, antes de vir ao Brasil." Este comentário, escrito do outro lado do Atlântico, ilustra bem o poder que uma árvore pode ter sobre várias gerações, mesmo sobre
aquelas que, provavelmente, só a conhecem de histórias e fotografias.

Salvar uma árvore histórica, com séculos de existência, um marco na paisagem e na vida de tantas pessoas, é o dever da nossa geração. Um dever ético e moral...Não se pode deixar morrer esta árvore sem termos a certeza que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para a salvar.
 

quarta-feira, março 21, 2012

Um poema ou uma árvore podem ainda sal­var o mundo

Carvalho negral (Quercus pyrenaica Willd.) - Santana da Azinha (Guarda)

Eis o que tenho a pedir-vos nos meus oitenta anos: Plan­tem nesse lugar um plá­tano, onde o vento enro­la­di­nho no sono possa dor­mir sem sobres­sal­tos; ou uma oli­veira, ou um cho­rão, e à sua roda ponham uma sebe da flor doce e musi­cal de espi­nheiro branco. Embora tenha pouca ou nenhuma fé seja no que for, a terra ficará mais habi­tá­vel. Um poema ou uma árvore podem ainda sal­var o mundo
. - Eugénio de Andrade

sexta-feira, março 16, 2012

Será um ato fascista gostar de uma árvore?!

Fotografia de Rivaldo Ribeiro - Blogue Aldeia Mundus

Do Brasil,da cidade de José Bonifácio, chegou-me um pedido de ajuda. Um pedido de ajuda para divulgar uma ação arboricida.

Apesar do oceano que nos separa, não podia deixar de dar uma resposta positiva a esse pedido. Há uma longa história que liga a Sombra Verde ao Brasil, de onde, aliás, não param de chegar novos leitores a este blogue.

Infelizmente, lá, como por cá, existem casos de  desrespeito pela memória coletiva das pessoas e pelo papel que as árvores desempenham na construção dessa mesma memória. Tudo parece ser desculpa para derrubar árvores, sem se considerarem alternativas, sem ouvir as pessoas...

Em José Bonifácio, quem defende as árvores é apelidado pelo poder político como "fascista" ou "nazi", o que revela, acima de tudo, uma profunda ignorância pelo significado dessas palavras e pelas vítimas dessas doutrinas políticas.

É curioso notar as semelhanças no discurso político entre alguns presidentes de câmara portugueses e alguns prefeitos do Brasil: tudo parece desculpável desde que se mandem plantar novas árvores.

A árvore, nas cidades, é vista não como um elemento com história, que constrói a identidade dos lugares e das pessoas que o habitam. Não, para quem manda nas cidades, a árvore é um bem descartável, que serve apenas para fazer marketing verde à medida dos interesses políticos do momento.

quarta-feira, março 14, 2012

"A sombra verde" por Fernando Alves

Castanheiro de Guilhafonso (Guarda) - Verão de 2007

O Sinais, do Fernando Alves, na TSF, falou hoje no castanheiro de Guilhafonso. Pegando nas palavras de Torga, quando falava do velho negrilho de S. Martinho de Anta, Fernando Alves conseguiu dizer o que eu quis e não soube, sobre este magnífico castanheiro.

Um poeta tem a capacidade de nos arrancar à vulgaridade dos dias. Assim é uma árvore monumental, um poeta capaz de marcar a vida de todos os que o viram desenhar a paisagem do sítio onde nasceram, do lugar a que pertencem.

Com caramba, não se pode deixar partir uma árvore com séculos, um poeta dos nossos dias e das nossas horas, sem dar luta! No dia 24 de março, demonstrem que somos pessoas para quem preservar a sua identidade, ainda é uma causa que vale a pena.

Quando perdermos a nossa paisagem, perderemos os nossos referenciais pessoais, os mesmos que fizerem de nós aquilo que somos hoje. Quando perdermos a nossa paisagem, perderemos tudo...



De seguida, o texto, na íntegra, da crónica de Fernando Alves:

"Este blogue dá uma sombra boa. Este blogue dá sombra tal como um certo negrilho dá sombra ao busto do Torga. O Torga considerava que esse negrilho era o único poeta da terra onde nascera.

Há dias, este blogue, "A Sombra Verde", reeditou uma fotografia de 2007, a fotografia do castanheiro de Guilhafonso. Tal como o negrilho do Torga, aquele castanheiro é o maior poeta, talvez o único, de Guilhafonso. O castanheiro de Guilhafonso é uma árvore majestosa, sentada na paisagem, com os seus ramos largos como asas de uma águia imponente que tenha desistido de voar mas não de guardar os caminhos da Guarda.
O blogue A Sombra Verde veio avisar, no fim de Fevereiro, que está a ser preparada uma caminhada em defesa do castanheiro de Guilhafonso. A caminhada está marcada para 24 de Março, é já deste sábado a oito. As inscrições podem ser feitas no núcleo regional da Quercus, na Guarda. Outras instituições, como a Árvores de Portugal e a Associação Transumância e Natureza, apoiam a iniciativa. Uma caminhada. Em defesa de uma árvore secular. Será notícia no Telejornal?
O aviso d'A Sombra Verde já ecoou entre os amigos das árvores. Alguém foi à caixa de comentários do blogue e avisou que a Câmara da Guarda vai garantir a conservação do castanheiro e da área envolvente.
Senhores, estamos a falar do maior castanheiro da Europa. Tem mais de 400 anos. 19 metros de altura, diâmetro de copa de 26 metros.
É por isso que, ao chamar-me para a caminhada de dia 24, este blogue espalha sobre a minha mesa uma sombra que me chama para dentro de um poema de António Ramos Rosa. O poema fala de um homem que esperou/ à sombra de uma árvore/ mudar a direcção/ ao seu pobre destino." 

Ouvir a crónica na voz do Fernando Alves (aqui).


terça-feira, março 13, 2012

Às vezes...

Praia dos Salgados - Algarve

Às vezes, os finais de tarde no Algarve ainda me conseguem surpreender...




Adenda: Se concordarem, assinem a petição que pretende impedir a prospeção de petróleo e de gás natural, ao largo da costa algarvia (aqui). Eu já assinei...

sexta-feira, março 09, 2012

segunda-feira, março 05, 2012

sábado, março 03, 2012

Gente da minha terra

Parque Natural da Serra da Estrela - Abril de 2008

Há poucos a defender a Serra da Estrela. Há muitos, infelizmente, a destruí-la invocando o interesse público, em favor de interesses privados bem conhecidos.

É desta forma que ao enriquecimento de uns, baseado no paradigma do turismo do alcatrão e do saco de plástico, se opõe a destruição de habitats, da paisagem e o continuado empobrecimento desta região, incapaz de suster a fuga, para outros pontos do país e estrangeiro, dos que aqui nascem.

Porém, o facto de haver poucos a defender a Estrela, não significa que não haja quem o faça de forma persistente e coerente há muitos anos, criticando com coragem e lucidez e, coisa rara noutros casos, propondo soluções alternativas.

Assim sendo, nos 30 anos dos Amigos da Serra da Estrela (ASE) cabe-me apenas dizer: obrigado!


Adenda: O comentário do José Amoreira, autor d'O Cântaro Zangado, levou-me a querer acrescentar esta adenda ao meu texto inicial.
Dizer obrigado aos que defendem a Serra da Estrela, como a ASE e o José Amoreira, não basta. É preciso também incentivar todos aqueles que, como ele, lutam para mudar o estado das coisas na Serra da Estrela. E porquê? Porque é um trabalho difícil, uma vez que os "inimigos" não se limitam a meia dúzia de autarcas ou operadores de turismo.

O problema principal continua na mentalidade de muitas pessoas da região que acreditam e defendem esta mesma lógica de mais alcatrão. Só no concelho da Covilhã, são recorrentes os pedidos de asfaltamento das estradas que permitiriam uma ligação mais direta entre as Cortes do Meio e Unhais da Serra e o maciço central da serra.

Em resumo, e apesar da crise em que estamos, resultado de um país que nas últimas décadas apenas investiu no alcatrão e no betão, tornando-nos ainda mais pobres e endividados, há quem continue a acreditar que serão as estradas que, por artes mágicas, farão de Portugal um país gerador de riqueza.

Na Serra da Estrela, especificamente, as estradas servem apenas para levar mais pressão humana e poluição a zonas ambientalmente sensíveis, aumentando o turismo de passagem, ou seja, o turismo de quem se limita a passear sem sair do carro e que, na melhor das hipóteses, dá dinheiro a ganhar a quem tem o exclusivo da maioria das unidades hoteleiras no maciço central.

Ao contrário, a serra precisa de um turismo de permanência, de quem chegue e depois a descubra lentamente (de bicicleta, a pé, a cavalo,...), distribuindo riqueza por vários operadores de turismo, criando empregos, diversificando a micro economia local.

Por isso, força ASE e força Cântaro Zangado!

quinta-feira, março 01, 2012

Aprender a conhecer as nossas plantas

Flora interativa de Portugal: Flora on

Foi lançada pela Sociedade Portuguesa de Botânica um portal interativo sobre a flora de Portugal, de nome Flora on. É uma excelente iniciativa, com imenso potencial científico e educativo, que permite colmatar, pelo menos em parte, a inexistência de um guia de identificação da nossa flora que seja acessível a todos, nomeadamente à clara maioria dos cidadãos (leigos na matéria).

Há um par de anos, a coleção do jornal Público, sobre as árvores e florestas de Portugal, editou um guia de campo, de boa qualidade, sobre a nossa flora lenhosa. Porém, para um leigo, uma imagem vale bem mais do que 1 000 palavras e, nesse sentido, parece-me que este projeto pode ter uma utilidade acrescida, para quem não domina as terminologias botânicas, ao incluir diversas imagens para cada espécie, retratando diversos aspetos da sua morfologia.

Nota: Embora isso em nada retire mérito a esta louvável iniciativa, pessoalmente preferia que um portal sobre a flora portuguesa se chamasse Flora lusa, por exemplo, em vez de Flora on, com recurso a um anglicismo perfeitamente desnecessário.