terça-feira, outubro 31, 2006

Salvem as árvores da minha cidade - Parte IV

Porque continuo a ser pelas tílias, decidi partilhar com os leitores deste blogue, mais dois belos exemplares deste género, existentes na Covilhã...a primeira fotografia, refere-se a uma tília situada na zona da Travessa da Tapada e as duas restantes são de um exemplar existente junto à entrada principal da cidade, na Alameda Pêro da Covilhã (perto da linha de comboio, do lado oposto a uma gasolineira).


Tília na Travessa da Tapada


São dois belos exemplares, com copas bem desenvolvidas e que, se protegidas da acção nefasta de podas mal executadas, poderão tornar-se nos próximos anos exemplares ainda mais notáveis, merecedores de classificação como árvores de interesse público.


Tília situada na Alameda Pêro da Covilhã

quinta-feira, outubro 26, 2006

Fragmentos de uma estação chuvosa

Em primeiro lugar, peço desculpa ao John Cale por lhe roubar o título deste texto...em segundo, peço desculpa à meia-dúzia de pacientes leitores deste blogue que suportam a minha preguiça (recente) para escrever coisas novas...

Deixo um pedaço do Algarve, em forma de fotografia, e uma preocupação: com os recentes temporais que têm provocado a queda de muitas árvores, receio bem que as câmaras deste país se preparem para mais uma época da poda camarária, algumas até (bem intencionadas) convictas de que estão, efectivamente, a proteger os cidadãos e respectivos bens materiais...


Praia da Amoreira, Aljezur 2006/10/21

sexta-feira, outubro 20, 2006

Um jardim botânico na Covilhã?

Li com agrado no "Interior" desta semana, que a Câmara da Covilhã planeia reconverter o Parque Alexandre Aibéo num jardim botânico com espécies autóctones da Serra da Estrela (ver notícia completa aqui). A ideia é excelente até porque o Parque já tem hoje em dia alguns espécimes de dimensões assinaláveis (embora nem todas autóctones), incluindo alguns carvalhos-alvarinhos (Quercus robur L.), espécie bem mais frequente na vertente oeste da Serra.


Parque Alexandre Aibéo

Quero com isto dizer que já existe um excelente conjunto arbóreo e que a intervenção deverá ser "minimalista" no sentido de preservar o que existe e apenas introduzir alguns espécimes, nomeadamente de espécies em vias de extinção, como o pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris L.), o azereiro (Prunus lusitanica L.), o azevinho (Ilex aquifolium L.) ou o teixo (Taxus baccata L.), só para citar alguns exemplos da flora lenhosa. O facto do arquitecto responsável ser o mesmo que projectou o Jardim do Lago, Luís Cabral, faz-me antever que o resultado final será positivo...Já agora, aproveitem também para preservar as árvores exteriores ao parque, nomeadamente as tílias que existem entre o antigo hospital e os muros do parque e aproveitem para eliminar algumas acácias australianas que se foram infiltrando neste espaço.
E, já agora, não poderiam criar um corredor verde, ligando o Parque Alexandre Aibéo aos jardins da delegação local da Direcção-geral dos Recursos Florestais?

terça-feira, outubro 17, 2006

Plátano do Barranco dos Pisões

A cerca de 3 km da vila de Monchique situa-se o Barranco dos Pisões que, apesar de cercado por eucaliptos e acácias, mantém uma aura de um certo encanto, devido , em parte, a uma mata de amieiros que nos remete imediatamente para paisagens bem mais setentrionais.


Mata de amieiros


É aqui que encontramos um dos maiores plátanos do nosso país, com dimensões verdadeiramente majestosas. Está classificado desde 1947 e tem perto de 40 m de altura; quanto ao perímetro do tronco medimos uns impressionantes 5,12 m.

Plátano (Platanus orientalis L. var. acerifolia Aiton)

Plátano (Platanus orientalis L. var. acerifolia Aiton)

O espaço no qual se encontra o plátano está preservado e limpo, no entanto, a árvore tem sofrido com alguns actos de vandalismo, nomeadamente com pessoas que insistem em declarar o seu amor através do tronco de uma árvore.


Embora seja um tipo de solução que não me agrada particularmente, penso que se deveria ponderar a protecção da árvore com um gradeamento, tal como acontece, por exemplo, com o "Cedro" de S. José (Cupressus lusitanica Miller), na Mata do Buçaco.

segunda-feira, outubro 16, 2006

1 milhão de carvalhos

Este texto é apenas mais um, no seguimento do que já li no Cântaro Zangado , sobre o projecto da ASE (Associação Cultural dos Amigos da Serra da Estrela) que prentende dinamizar a reflorestação da Serra da Estrela, com a sua espécie arbórea mais significativa, o carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.) ; ver a ligação aqui.

Esta espécie de folha caduca (ou marcescente, em certas condições) seria a espécie mais significativa da Serra da Estrela, sobretudo acima dos 800 m de altitude. No entanto, diversos factores, como os incêndios e a florestação com outras espécies (em particular com o castanheiro, o pinheiro-bravo e outras coníferas), tornaram esta espécie praticamente residual dentro dos limites do Parque Natural.

No entanto, fora dos limites do Parque, ainda encontramos alguns carvalhais; como estou quase sempre no Algarve, não me vai ser possível participar de forma activa nesta actividade, mas deixo a sugestão de alguns sítios para apanhar bolotas:
- Guarda (na zona compreendida entre a estação e as aldeias de João Bragal; junto ao Intermarché também existem bons exemplares bem como junto às nacionais para o Sabugal e Pinhel).
- Belmonte (na Serra da Boa Esperança, na vertente virada para Orjais e Vale Formoso; na zona de Caria);
- Fundão (em praticamente todas as freguesias a norte da Gardunha);
- Covilhã (próximo do aeródromo e zonas limítrofes com o concelho de Belmonte; na própria cidade há um bom exemplar junto à rotunda do Hotel Sta. Eufêmia);
- Manteigas (na encosta da Pousada de S. Lourenço).


Devo acrescentar que, com a colaboração das escolas da região, o Parque Nacional da Peneda-Gerês tem vindo a desenvolver a "Operação Bolota"; nesta iniciativa, técnicos do Parque acompanham professores e alunos na tarefa de recolha de bolotas que serão posteriormente plantadas nas escolas. No ano seguinte, os alunos irão transplantar as plantas para zonas escolhidas dentro do Parque Nacional. Penso que os diversos benefícios de uma actividade como esta são inúmeros e poderiam facilmente ser replicados na Serra da Estrela. Estamos à espera de quê?

Espero por tudo isto, que esta iniciativa da ASE tenho o apoio do Parque Natural da Serra da Estrela e a colaboração activa de todos os cidadãos, nomeadamente dos mais novos através das respectivas escolas. Tem tudo para dar certo...mão à obra!

quinta-feira, outubro 12, 2006

Plataforma para o Desenvolvimento Sustentável da Serra da Estrela

Foi criada pela Associação de Desportos Aventura Desnível, a ASE (Associação Cultural "Amigos da Serra da Estrela"), a Liga para a Protecção da Natureza e a Quercus—Associação Nacional de Protecção da Natureza , a Plataforma para o Desenvolvimento Sustentável da Serra da Estrela (PDSSE), à qual já aderiram alguns cidadãos a título individual (o autor deste blog incluído).

Nota: para já não dispõem de morada física, nem na internet, solicitando apenas que as pessoas os contactem por correio electrónico, para padesse@gmail.com , caso queiram aderir a este movimento que visa, entre outros objectivos, reflectir sobre a forma de conciliar a preservação dos habitats serranos com um desenvolvimento sustentado, que não se alicerce no enriquecimento de alguns à custa do empobrecimento de um património que é de todos!


E, porque falamos de património, é minha opinião que uma das principais iniciativas deste fórum de reflexão deverá ser a de, dentro das suas possibilidades, dinamizar o início de um processo que sustente a classificação do Vale Glaciar do Zêzere como Património da Humanidade! Como já escrevi aqui, pese embora todos os atentados a quem tem estado sujeito, este é o verdadeiro coração da Estrela e a união de esforços em seu redor seria um bom teste para saber se estamos todos dispostos a remar na mesma direcção!

Penso que, entre muitas outras colaborações, seria indispensável arrastar para esta causa as instituições de ensino superior, como a U.B.I. e outras instituições, como a Associação de Produtores Florestais do Paul que, nos últimos anos, fruto de um trabalho no âmbito do programa europeu Life, veio dinamizar a protecção de habitats ameçados, como os cervunais e os bosques de teixo!

Ninguém é dono da serra e muito menos a turistrela!

terça-feira, outubro 10, 2006

Era uma vez...

...uma daquelas tardes invernosas de Dezembro, um temporal de chuva e vento, como não há no Algarve... (esta história já terá uns 4 a 5 anos).
Passava na Avenida 25 de Abril quando deparo com um enorme choupo-branco tombado sobre um carro...não houve vítimas mortais porque a árvore desfez o lado direito do carro onde não ia ninguém! Aquela árvore tombou e foi a única, não por ser a mais alta da avenida (que não era!), mas porque já não tinha a sustentação necessária. Estaria, com toda a certeza, doente (nomeadamente, ao nível do sistema radicular).








De facto, as árvores adoecem e por vezes não existem soluções capazes de as salvar e têm mesmo que ser abatidas e substituídas por outras! Quantas câmaras municipais terão técnicos credenciados para fazer este diagnóstico? Quantas, na sua ausência, contratarão os serviços de empresas ou técnicos exteriores à autarquia, para realizar este trabalho que exige elevado conhecimento técnico? Receio bem que a resposta a ambas seja "nenhuma".

Voltando à Avenida 25 de Abril, é fácil de adivinhar o que a Câmara da Covilhã fez nos dias subsequentes...poda radical em todas as árvores da avenida, ou seja, a conclusão a tirar é: as árvores caem porque são altas! Esta medida serviu sobretudo para passar para os cidadãos a ideia de que a câmara agiu com rapidez e acautelando os interesses dos cidadãos...nada mais errado!

O pessoal que executa estas tarefas, na Câmara da Covilhã como nas demais, na melhor das hipóteses tem o conhecimento de como se podam "árvores de fruto"; a poda das chamadas "árvores de fruto" visa garantir que a árvore produza mais frutos nos anos subsequentes. Nas árvores ditas ornamentais, a poda deveria apenas ser executada, por técnicos especializados, e apenas em situações precisas, por exemplo, para eliminar um ramo onde exista uma doença, evitando que a mesma alastre ao resto da árvore. Como dizia o arquitecto Ribeiro Telles, podar um plátano não é o mesmo que podar uma macieira!

No entanto, estas podas mal executadas, não se limitam a desfigurar a árvore; o pior é que, porque não são tomados os cuidados básicos (seja por ignorância ou por pura incompetência), estas árvores vão ganhar nos anos seguintes um conjunto de doenças que as vão debilitando e logo, tornar mais susceptíveis a serem derrubadas por temporais!

Logo, a acção que a Câmara da Covilhã tomou, de podar de forma radical as árvores da Avenida 25 de Abril, não só não serviu para prevenir futuros acidentes com quedas de árvores, como tornou este cenário bem mais provável!
Deixo um conjunto de fotografias de tílias e de exemplares de Acer negundo L. As feridas no tronco e o estado decrépito de muitas destas árvores dizem tudo...

Nota: estas fotografias não são repetidas, ou seja, são todas de árvores diferentes e, como estas, poderia ter tirado muitas mais! Só mais uma pergunta: se neste Inverno, uma destas árvores tombar, de quem será a responsabilidade?


domingo, outubro 08, 2006

A sequóia dos Penedos Altos

A Covilhã ganhou, através do Programa Polis, alguns espaços verdes novos, como o Jardim do Lago e outros renovados, como o Jardim Municipal. E, nestes tempos de "contenção financeira", estamos ainda sem perceber se iremos ter ou não, o Parque da Goldra!

Mas alguns dos espaços verdes mais interessantes da Covilhã são aqueles que têm passado um pouco à margem das modas e de renovações, como é o caso do Parque Alexandre Aibéo (de que falarei um dia destes) ou os jardins dos Penedos Altos.


Vista parcial do Bairro dos Penedos Altos

Os Jardins dos Penedos Altos apresentam uma diversidade dendrológica interessante (tílias, olaias, ameixeiras-de-jardim, cedros, pseudotsugas, ciprestes, pinheiros-mansos, etc.), tendo já tido oportunidade de, num texto de Agosto passado, ter chamado a atenção para um azevinho de dimensões generosas aí existente.

Azevinho (Ilex aquifolium L.)

De igual modo, existe um belo conjunto de tílias (ainda não desfiguradas!!) e um pinheiro manso com um assinalável perímetro de tronco.


Pinheiro-manso (Pinus pinea Mill.)


Tílias (Tilia sp.)





...e mais tílias

No entanto, desde há algum tempo, que uma árvore me vinha chamando a atenção, mesmo à distância da janela do meu quarto, por se atrever a crescer mais do que todas as outras! Com excepção de alguns plátanos, sobre os quais aqui tenho escrito, poucas árvores na Covilhã se atrevem a ultrapassar as pseudotsugas...quis saber quem tinha cometido a ousadia e fiquei aliviado, pois fica tudo entre parentes próximos, com origem comum na Califórnia! Trata-se de uma sequóia, da espécie Sequoia sempervirens (D. Don) Endl., espécie originária da costa oeste norte-americana, podendo alcançar e, mesmo ultrapassar, os 100 m de altura, o que as torna nas árvores mais altas do mundo (pese embora, haja conhecimento de terem existido na Austrália, exemplares de Eucalyptus regnans F. J. Muell, que ultrapassaram em altura estas sequóias). No entanto, como já aqui referi anteriormente, as sequóias mais famosas talvez sejam as da espécie Sequoiadendron giganteum (Lindl.) Buchh., por serem árvores mais volumosas.


Sequoia sempervirens (D. Don) Endl.



Sequoia sempervirens (D. Don) Endl.


Apesar de, para a espécie, ainda ser uma árvore jovem (deverá ter aproximadamente a idade dos edifícios do chamado Bairro Económico dos Penedos Altos, que datam da década de 50), tem um porte notável e é já uma das árvores mais altas da cidade. No nosso país, o exemplar mais alto desta espécie situa-se na Mata do Buçaco, tendo mais de 45 m de altura e mais de 5 m de P. A. P. (segundo Ernesto Goes, "Árvores Monumentais de Portugal").


O bairro dos Penedos Altos é assim, fruto deste conjunto de vegetação, um dos mais aprazíveis locais da cidade e seria bom que nenhuma mente iluminada viesse romper este equilíbrio entre a Natureza e a cidade.

Nota: O Bairro Económico dos Penedos Altos, da autoria de Rafael dos Santos Costa, é uma das obras referidas pela Ordem dos Arquitectos no trabalho IAPXX (Inquérito à Arquitectura Portuguesa do Século XX).

sábado, outubro 07, 2006

Eu sou pelas tílias

Para que se não pense que luto contra moinhos de vento, aqui fica a transcrição integral de um texto publicado no blogue "Cão de Fila", no passado dia 13 de Junho. Reza assim...

"Substituam-se as tílias da avenida...

A Av. Heróis do Ultramar está ladeada de árvores, o que se aplaude. Os peões agradecem, especialmente nos dias de maior calor. Só que há árvores e... árvores!No troço compreendido pelas ruas Prof. Gonçalves Figueira e 1º de Maio, algumas dessas árvores são tílias. Que podem ser bonitas mas... deixam cair matéria gordurosa que, para além de dar cabo da pintura dos automóveis - cujo estacionamento é pago! - deixam o pavimento e os passeios escorregadios, originando que os peões menos precavidos possam mesmo dar um trambolhão.Não seria possível substituir estas árvores? Nos viveiros - talvez mesmo onde o município adquire as flores que embelezam as pracetas, rotundas e jardins - existem árvores mais apropriadas (ameixeiras ou plátanos também não!) para ocuparem o lugar das tílias, com tamanho já razoável, capazes de dar sombra já no próximo verão.A sugestão aqui fica."

Este texto é assinado pelo editor do respectivo blogue e as ditas avenidas e ruas ficam na cidade de Pombal.

A esta pérola apraz-me responder da seguinte forma: de facto, as árvores só dão chatices! Aliás, já tive a oportunidade de sugerir por mais do que uma vez, que as câmaras começassem a plantar árvores de plástico. Seriam só vantagens: não consomem água, não crescem, não provocam alergias, etc.

Eu diria mesmo mais...Abatam-se todas as árvores e também as aves que sujam os automóveis, bem como os insectos das auto-estradas; abatam-se os cães que urinam nos pneus e os seus donos descuidados.
Prendam os miúdos que, descuidados, atiram bolas de futebol contra os carros ou simplesmente se encostam a eles; proíbam-se todas as obras que fazem pó que se cola aos tejadilhos e proíba-se aquela chuvinha miúda que deixa as pinturas manchadas.

Em relação aos passeios, substitua-se a calçada à portuguesa para que ninguém escorregue...Não nos esqueçamos também de proibir os sapatos de sola e os de salto alto; de proibir as câmaras de abandonar, após as obras, os montinhos de pedras e areia nos passeios; de proibir a geada e, mesmo a chuva, que às vezes também é bem escorregadia...

No fundo, eliminem-se todos os tolos que, por falta de precaução, se deixam escorregar em matérias gordurosas!

Há quem seja pelos carros. Eu sou pelas tílias!

sexta-feira, outubro 06, 2006

Salvem as árvores da minha cidade - Parte III

O Bairro do Rodrigo já teve, e custa muito conjugar o verbo no passado, um conjunto de tílias notáveis...um dia chegou-lhes a hora, que é como quem diz, chegou-lhes a poda...Até as duas que davam sombra à Escola Primária do Rodrigo, onde estudei e onde ainda voto (bem como o nosso actual Primeiro-ministro), sucumbiram...debaixo dos seus ramos despidos brincávamos, no Inverno, imitando os nossos heróis da "Galactica" e atirávamos bolas de neve, numa altura em que os nevões ainda faziam parte da paisagem covilhanense...de Verão, trepava-se às tílias para colher a flor que se vendia nas farmácias (sim, eu ainda sou do tempo, em que a tília não se comprava, já embalada, nas prateleiras de supermercados).
















A pouco e pouco, foi-lhes chegando a moto-serra, e hoje sobra apenas uma...uma só, a resistente...Arrisco dizer que pertence à espécie Tilia tomentosa Moench, e é um exemplar saudável, com uma copa ampla, uma árvore perfeitamente harmoniosa, à qual ainda ninguém se atreveu a amputar a beleza e a dignidade.







E é para esta árvore que peço, à Junta de Freguesia da Conceição e à Câmara Municipal da Covilhã, a misericórdia de a pouparem ao tratamento vergonhoso que deram às restantes tílias do bairro!





Até as tílias, ainda novas, plantadas na Rua Ferreira de Castro (perto da Rua Mateus Fernandes), já levaram neste Inverno passado um "tratamento correctivo"...penso que neste, como noutros casos, o que afligiu os funcionários camarários, foi a possível interferência com a iluminação pública!
Aliás, enquanto tirava estas fotografias, houve um habitante do bairro que me interpelou, perguntando-me se eu trabalhava para a EDP. Na opinião deste habitante, a tília (podada) que tem à frente de sua casa já começa a interferir com o poste de iluminação pública e por isso a queria (ainda mais) podada...ele bem me disse que não a queria cortada, apenas um pouco mais amputada! De facto, não lembra a ninguém que as árvores cresçam em altura, isto só traz é aborrecimentos...

Esqueci-me foi de perguntar aos irlandeses, enquanto por lá estive no Verão passado, e onde as árvores cresciam livres, como é que eles faziam para compatibilizar as duas coisas, árvores e iluminação pública! Mas também não se pense que isto da podite é exclusivo luso, pois ainda no ano passado, na cidade de Bejar (Salamanca), pude ver que num jardim bem no centro da cidade, esta "virose" também por ali tinha atacado! Curiosamente, em Sevilha, pareceu-me terem um respeito bem maior pelas árvores...talvez por aí compreenderem bem o quanto vale uma sombra...verde!

Salvem as árvores da minha cidade - Parte II

O cognome para estes dois plátanos (Platanus orientalis L. var. acerifolia Aiton), situados junto ao eixo TCT (antiga nacional que ligava a Covilhã à Guarda), à beira da ribeira que atravessa o Canhoso, poderia muito bem ser "Os sobreviventes". E passo já a justificar o porquê da escolha deste epíteto...

"Os sobreviventes"

Esta via era toda ela ladeada por dezenas de plátanos de dimensões semelhantes ou até superiores a estes dois exemplares. Durante anos eles não pareceram incomodar ninguém, até que em meados da década de 90 eles começaram a ser um empecilho! O que é que se seguiu? O habitual...foram decepados, posteriormente foram adquirindo várias doenças, tendo começado a definhar rapidamente até que, há cerca de dois anos, alguém decidiu acabar-lhes com o sofrimento e foram arrancados e substituídos por novas árvores. Restaram apenas estes dois exemplares, porque até os pobres de espírito terão tido um pouco de pudor e decidiram poupá-los ao massacre que perpetraram nos demais! Se acham estes dois exemplares magníficos, tentem imaginar esta via com dezenas de outros plátanos de um lado e outro da estrada...

A poda dos plátanos pode provocar-lhes uma doença mortal, conhecida vulgarmente como "cancro dos plátanos", provocada por um fungo do grupo dos que infectam mortalmente os ulmeiros (doença designada por grafiose). Este cancro tem dizimado os plátanos na zona central da Europa e já chegou ao nosso país, tendendo a alastrar-se através das podas incorrectas perpetradas um pouco por todo o lado. De igual modo, também as folhas dos plátanos podados estão mais sujeitas ao ataque de um oídio (Melanospora platanii Howe), tendo esta outra doença dos plátanos sido identificada no nosso país pela primeira vez em 1980. (Nota: recomendo a leitura do livro do Professor Jorge Paiva, "A Crise Ambiental, Apocalipse ou Advento de uma Nova Idade II, uma edição da Liga dos Amigos da Conímbriga).

Quanto às causas que levam a tamanho ódio aos plátanos por parte dos portugueses, estas permanecem para mim um mistério insondável...Embora, em muitos casos, estas podas resultem da falta de planeamento das câmaras municipais, que plantam estas árvores de grande porte em zonas urbanas onde estas vão ter pouco espaço físico para crescer. Bastaria para tal, plantar árvores de menor porte!....
Noutros casos, são as pessoas que solicitam a poda às juntas de freguesia e câmaras municipais. Porquê? Incomoda-lhes a sombra? Têm medo que estas lhes caiam em cima? Neste caso, só estaríamos seguros se cortássemos todas as árvores! Mas é curioso, que muitas dessas pessoas não se incomodam por ter as casas rodeadas de mato a cada Verão que passa!

Há também quem se incomode com o pólen que suja os carros ou com os pássaros que escolhem as árvores para repousar e que, sendo criaturas desprovidas da gloriosa inteligência dos humanos, decidem fazer as suas necessidades mais prementes sobre os nossos automóveis...Podamos as árvores ou abatemos os pássaros?
E os insectos que se colam à dianteira dos carros nas auto-estradas? Pois bem, deveremos fumegar as auto-estradas com insecticidas? E o que deveríamos fazer em relação aos cães que urinam nas rodas dos carros? Deveríamos fazer carros sem rodas ou abater todos os cães das cidades ou talvez mesmo os seus donos?! (num país onde se abandonam milhares de animais por ano tenho até medo de saber a resposta a estas interrogações).

Há, por último, os que solicitam as podas porque as flores, o pólen, os frutos ou as sementes, lhes causam reacções alérgicas...vai daí, toca de podar! Excelente solução...excepto pelo facto de que a poda vai no ano seguinte aumentar a floração e, logo, a produção de frutos e sementes! Aliás, é por isso que as ditas "árvores de fruto" são podadas. Acrescento que, como é óbvio, tenho o maior respeito pelas pessoas alérgicas ao pólen das plantas, a minha mãe é aliás bastante alérgica ao pólen de uma planta que cresce vulgarmente nos muros das cidades e dos campos, a alfavaca-de-cobra (Parietaria sp.), e que lhe causa grandes transtornos de saúde.
Aliás, algumas das plantas que causam maior número de alergias são as gramíneas, como os cereais, e não penso que se esteja a considerar a hipótese de deixar de plantar o trigo ou o centeio, com o qual fazemos o pão que comemos todos os dias! Além de que as pessoas tendem a esquecer que na base de muitas alergias estão precisamente muitas substâncias libertadas por várias indústrias e pelos automóveis! Mas é mais fácil descarregar nas árvores...as tais que nos fazem o favor de renovar o ar que respiramos.

Assim sendo, apesar de ainda haver muito a acrescentar, ajudem-me a salvar estes dois plátanos porque, nunca se sabe, podem estar a incomodar alguém...

quinta-feira, outubro 05, 2006

Reflexões sobre a estupidez humana

Sempre que começa mais um Verão sofro por antecipação, ao pensar que parte ainda imaculada do nosso sacrificado Portugal, irá sucumbir aos incêndios florestais...no começo de cada Outono, a minha angústia é tentar adivinhar quais as árvores da Covilhã que irão sucumbir ao terrorismo da moto-serra ou, como se diz na gíria, à poda camarária!
Por exemplo, no Inverno passado, chegou a vez a muitos dos plátanos monumentais que existiam na estrada Covilhã-Tortosendo e também a alguns plátanos e tílias situados na Rua Cidade do Fundão (junto à ponte Mártir-in-colo) e que, apesar de ainda serem relativamente jovens, se apresentavam bastante vigorosos. E, por fim, chegou também a hora às árvores (na sua maioria, tílias) plantadas na entrada principal do cemitério municipal.




Este último caso intriga-me sobremaneira...a quem poderia incomodar a sombra daquelas árvores? A todos aqueles que repousam na sua última morada não seria com certeza! Será que foi apenas para agradar aos habitantes de um condomínio, entretanto construído num terreno anexo, e que assim viram aumentadas as suas vistas para a serra? Preferia pensar que assim não foi...




Mas, fosse qual fosse o motivo que levou a esta mutilação de árvores inocentes, o que é certo é que as mesmas foram condenadas a uma morte lenta... um cenário de árvores moribundas incapazes de descansar num espaço que, apesar de ser um cemitério, deveria ser um monumento de respeito ao valor da vida humana e de todas as criaturas da mãe Natureza! Paz aos pobres de espírito!...

O carvalho do Alcaide

Num daqueles passeios sem destino definido à priori, acabei no Alcaide, (aprazível aldeia na encosta norte da Gardunha), onde descobri este belo carvalho-alvarinho (Quercus robur L.).



Trata-se, sem dúvida, de um dos melhores exemplares de carvalho-alvarinho que conheço na região, e que merece todo o cuidado da Junta de Freguesia do Alcaide e da Câmara Municipal do Fundão, na respectiva salvaguarda. A árvore é de dimensões algo modestas quando comparada com alguns exemplares classificados no Norte e Centro do país, no entanto, é um exemplar digno de registo até por se tratar de uma espécie pouco frequente no interior beirão.
Acresce que a árvore apresenta-se bastante vigorosa pelo que, se devidamente protegida de podas (a que alguns plátanos vizinhos não conseguiram escapar!), poderá vir a ser dentro de algumas gerações, um exemplar notável para a espécie.



Renovo o apelo aos representantes locais do poder autárquico e, sobretudo, à população do Alcaide, para que se empenhe de forma activa na defesa do seu património.