terça-feira, agosto 26, 2008

Arboricídios e educação


- O Governo autorizou a sociedade gestora do Parque Alqueva, empreendimento turístico em Reguengos de Monsaraz, no entorno da albufeira do Alqueva, a abater 6.484 azinheiras. Supostamente, os promotores deste empreendimento irão plantar mais de 27 mil novas azinheiras.
Não me considero um fundamentalista. Concordo com um aproveitamento turístico de baixo impacto nas margens do Alqueva, desde que não se vendam "empreendimentos imobiliários" destinados a 1ª ou 2ª habitação do "jet-set" nacional e internacional, como sendo investimentos turísticos. Será este o caso?
Proponho aos promotores deste empreendimento que, antes de se preocuparem com a refinaria proposta para Badajoz, forneçam dados mais concretos sobre o tratamentos dos resíduos e efluentes deste mega-empreendimento, sobre a eficiência energética do mesmo e que, antes de arrancarem os mais de 6 milhares de azinheiras propostos, plantem cada uma das novas 27 mil árvores prometidas.

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Uma dirigente da associação ambientalista Quercus revelou esta segunda-feira que centenas de árvores e arbustos foram destruídos para colocar uma conduta de esgotos, no concelho de Cantanhede, numa zona do domínio hídrico protegida por lei.

- Notícia via Ondas 3: Aterros e escavações destroem vegetação ribeirinha em Vila Nova de Anços.

- A associação ambientalista Quercus estranha que a portaria que estabelece financiamentos para reconversão florestal "esqueça" espécies tradicionais como o carvalho, azinheira e sobreiro e acredita tratar-se de um "lapso" do Ministério da Agricultura.

- Reflorestação de Porto Santo deve continuar "com recurso a espécies já testadas". Já testadas?! Testadas no sentido de terem potencial invasor?! Que mal haverá em recorrer exclusivamente à flora nativa de Porto Santo?

- Do Sargaçal: árvores eliminam produtos resultantes da poluição.

- Em Setúbal, acredita-se piamente que um novo estádio de futebol, bem como a urbanização para 30 000 pessoas que o tornará possível e que implica a destruição de mais de um milhar de sobreiros, será uma mais-valia para a cidade. Suponho que para tal suposição, se baseiem no enorme "sucesso" e "progresso" associados à construção de novos estádios de futebol, em cidades como Aveiro, Coimbra, Leiria ou Faro, por exemplo.

- Em relação às intenções da Câmara Municipal da Covilhã de transplantar um conjunto de sobreiros na freguesia do Tortosendo, escrevi a um conjunto de instituições apelando a que averiguassem se todos os procedimentos legais estarão a ser cumpridos.
Entre elas, escrevi um e-mail à Direcção-Geral dos Recursos Florestais. Tal como no caso de um pedido de esclarecimento relativamente à proposta de classificação de algumas árvores, recebi como resposta um "silêncio absoluto". (O mesmo silêncio obtive por parte do Público e da Quercus).
A um e-mail, tal como a uma carta, deve-se sempre responder. Já que mais não seja, por uma questão de educação!

6 comentários:

Anónimo disse...

Pedro, não dê tanto cavaco à falta de resposta a emails seus solicitando conformação de dados ou pedindo informações complementares. Eu conheço o filme. É que nem o Pedro, nem eu, nem outros do género não fazem parte do status quo da blogosfera. Se fizessem certamente eram citados a torto e a direito pelos amiguinhos dos me(r)dia de reverência. Não desanime. Abraço. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Caro Octávio,

É tudo uma questão de expectativas, sei bem que não pertencemos a essa "elite"...E ainda bem!

Por exemplo, do "Ecosfera" do "Público" nem esperava resposta, pois devem receber dezenas de e-mails por dia e por certo até nem será função deles fiscalizar as centenas de intenções dos municípios portugueses que, diariamente, interferem com o ambiente. Para isso existirão outras entidades...

Mas "dói-me" mais o silêncio da "Quercus", por exemplo. Nem sequer um simples: " Ok, obrigado pela informação, vamos pedir mais pormenores à Câmara".
Será que as associações ambientalistas contam, nos dias que correm, com tanta adesão que se possam dar ao luxo de "filtrar" os assuntos que lhes convêm relatar daqueles que nem merecem resposta?!

Por parte da DGRF custa-me ainda mais...Sou funcionário público e filho de uma funcionária pública. Como tal, custa-me sempre muito ouvir aquelas "bocas" acerca da ineficiência dos serviços públicos, pois sei que há muitos funcionários públicos que são excelentes profissionais.
Ainda por cima, esse mesmo silêncio da DGRF já tem antecedentes noutras situações.
Eu até acredito que não tenham disponibilidade para ter um funcionário que responda aos e-mails mas, para isso, mais valia não fornecerem essa forma de contacto. É que, deste modo, se nunca respondem aos e-mails, essa forma de contacto é verdadeiramente "virtual"...

Obrigado pelas palavras de incentivo. Não é isto que nos irá fazer parar ou calar!

Um abraço.

Anónimo disse...

Caro Pedro Teixeira Santos,

Não compreendi, sinceramente, o seu comentário relativamente às arborizações na ilha de Porto Santo que, descontando as Selvagens, deve ser o sítio de Portugal mais difícil de revegetalizar.

É que os solos são degradadíssimos, chovem em média menos de 400 mm, com grande variação interanual e os ventos fortes são uma constante. A destruição da vegetação indígena e a erosão, provocadas pela agricultura e pelas cabras e coelhos lançados pelos colonizadores, foram de tal ordem que a ilha chegou a ficar desabitada durante vários anos!

A partir do fim do séc. XIX foram encetados os dificílimos trabalhos de rearborização, sobretudo com resinosas frugais exóticas (Pinus e Cupressus) e de correcção torrencial, que continuam até hoje e que, apesar das ditas "monoculturas", são um orgulho da engenharia portuguesa.

Por isso, quando leio na notícia do Jornal da Madeira que vai ser reforçada a utilização de espécies como o dragoeiro, a oliveira-brava e o barbusano, todas elas espécies folhosas raras e ameaçadas da flora natural da ilha, só nos podemos regozijar!

E não consta que a alfarrobeira, para mais nestas condições ecológicas, se possa considerar uma espécie invasora...

Abraço

P. Faúlha

PS: recomendo-lhe a leitura do livro "Repovoamento Florestal no Arquipélago da Madeira (1952-1975)", com imagens absolutamente incríveis do trabalho de recuperação e conservação da floresta madeirense e porto-santense. Pode solicitá-lo (gratuitamente) na Biblioteca da DGRF em Lisboa.

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Caro P. Faúlha,

Muito obrigado pelos seus oportunos esclarecimentos.

Apesar do que possa pensar, não sou contra a introdução de exóticas* que, em certos casos, acabam por ser melhores opções que algumas espécies autóctones. Aliás, com a progressiva recuperação dos solos e criação de zonas de ensombramento, até poderão criar condições para o reaparecimento de certa vegetação autóctone.


(* Desde que sejam exóticas que, comprovadamente, não tenham um carácter invasor ou, no mínimo, essa seja uma possibilidade ínfima com base nos conhecimentos actuais).


A minha questão neste ponto, porque penso que se trata não de plantações com vista a uma exploração comercial mas antes a uma tentativa de "re-naturalização" dos habitats, é que penso que deveriam ser usadas preferencialmente espécies autóctones. Daí as minhas referências à oliveira-brava e á alfarrobeira, por exemplo.
Mas admito que no actual estado de degradação dos solos, esse mesmo factor imponha algumas limitações ao uso de espécies autóctones do arquipélago.

Reconheço que desconhecia que o barbusano era autóctone de Porto Santo, julgava que era apenas autóctone nas Canárias (apesar da similitude da flora nativa entre as diversas ilhas da "Macaronésia").

Eu e o Miguel Rodrigues, devido ao nosso trabalho no "árvores monumentais do Algarve e baixo Alentejo" deveremos ir à DGRF, em Lisboa, até ao final do presente ano. Se assim for, procurarei consultar a obra que me refere. É uma temática que me agrada bastante.

Agradecido pela informação suplementar, um abraço.

Anónimo disse...

Caro Pedro Teixiera,

Só uma pequena nota ao seu comentário: de facto a oliveira-brava é também indígena da Madeira, Porto Santo e Desertas. Trata-se da subespécie (às vezes considerada espécie autónoma) Olea europaea ssp. maderensis, em risco de extinção na ilha de Porto Santo, mas ao que parece a recuperar bem nas Desertas (depois de terem eliminado as cabras selvagens há alguns anos, bem entendido...)

Mais informação interessante por exemplo no endereço http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/slu/v15n2/v15n2a06.pdf

Abraço,

P. Faúlha

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

P. Faúlha,

Obrigado (uma vez mais) por esta informação suplementar bem interessante e que desconhecia.

Cumprimentos.