quarta-feira, maio 02, 2007

As árvores da Estrela

Pequeno bosque de carvalho-alvarinho (Quercus robur L.) na encosta da Covilhã

A Serra da Estrela constitui um território ímpar ou, como lhe chama Jan Jansen, é a "jóia da coroa" do património ecológico do interior de Portugal.

Boa parte dessa riqueza reside na sua flora autóctone, "possuindo como endemismos exclusivos, sete espécies e subespécies e outras tantas variedades e formas (...)" (A. R. Pinto da Silva e A. N. Teles).

As diferenças na vegetação resultam de um conjunto de factores ambientais: de ordem climática, geomorfológica, edáfica e biótica.

Ao contrário de outros locais do nosso país, a Serra da Estrela possui várias obras que se debruçam sobre a sua flora, destacando as seguintes:

- "A Flora e a Vegetação da Serra da Estrela" de A. R. Pinto da Silva e A. N. Teles; edição do Instituto de Conservação da Natureza;

- "Guia Geobotânico da Serra da Estrela" de Jan Jansen; edição do Instituto de Conservação da Natureza;

Ambas as obras se encontram à venda nas delegações do Parque Natural da Serra da Estrela, embora possam estar ocasionalmente esgotadas, como aconteceu durante vários anos com o livro de Pinto da Silva e A. Teles.


Entretanto, com bastante humildade e consciente das falhas no meu saber, decidi fazer uma síntese da informação de ambas as obras (juntando a outros textos que conheço sobre a Estrela) e propus-me fazer uma lista das árvores autóctones da Serra da Estrela (à qual acrescentei alguns arbustos que podem atingir ocasionalmente um porte arbóreo).

A lista que se segue será pois um documento inacabado (com alguns erros e incompleta) mas que se aproxima ao que é hoje o conhecimento sobre a flora da Estrela, a qual está em permanente evolução não apenas em função de factores naturais mas da acção humana que, desde tempos imemoriais, introduziu novas espécies e contribuiu para o (quase) desaparecimento de outras.


Pinheiro-silvestre (Pinus sylvestris L.) -Penhas da Saúde

Segue-se a lista (por ordem alfabética do nome científico seguido das designações correntes da espécie):

Alnus glutinosa (L.) Gaertn. - Amieiro
Arbutus unedo L. - Medronheiro
Betula alba L. - Vidoeiro, Bidoeiro, Bétula
Crataegus monogyna Jacq. - Pilriteiro
Frangula alnus Mill. - Sanguinho, sanguinho-de-água, amieiro-negro
Fraxinus angustifolia Vahl - Freixo
Ilex aquifolium L. - Azevinho
Malus sylvestris Mill. - Macieira-brava
Olea europaea L. var. sylvestris (Mill.) Lehr. - Zambujeiro, oliveira-brava
Phillyrea angustifolia L. - Lentisco-bastardo, lentisco, aderno-de-folhas-estreitas
Pinus sylvestris L. - pinheiro-silvestre, pinheiro-de-casquinha
Populus alba L. - Choupo-branco, álamo-branco, faia-branca, amieiro-branco
Populus nigra L. - Choupo-negro, álamo-negro, faia-preta
Prunus avium L. - cerejeira, cerejeira-brava
Prunus lusitanica L. - azereiro
Prunus padus L. - azereiro-dos-danados
Prunus spinosa L. - Abrunheiro-bravo
Pyrus cordata Desv. - Escalheiro
Quercus rotundifolia Lam. - Azinheira
Quercus pyrenaica Willd. - Carvalho, carvalho-negral, carvalho-pardo
Quercus robur L. - Carvalho, roble, carvalho-alvarinho, carvalho-roble
Quercus suber L. - sobreiro
Salix atrocinerea Brot. - Borrazeira, borrazeira-preta, salgueiro-preto, salgueiro-cinzento
Salix salvifolia Brot. - Borrazeira-branca, salgueiro-branco
Salix x secalliana Pau & C.Vicioso - ?
Sambucus nigra L. - Sabugueiro
Sorbus aucuparia L. - Tramazeira, cornogodinho, sorveira
Sorbus latifolia (Lam.) Pers. - Mostajeiro
Sorbus torminalis (L.) Crantz - Mostajeiro
Taxus baccata L. - Teixo
Viburnum tinus L. - Folhado


Notas:

- Algumas destas espécies são referidas apenas numa das obras citadas; a espécie Prunus padus L. é referida como sendo de ocorrência extremamente rara.

- Os vidoeiros autóctones da Estrela pertencem à espécie Betula alba L., embora em muita literatura apareçam referidos como sendo da espécie Betula celtiberica Rothm. & Vasc. ou mesmo da espécie Betula pubescens Ehrh.

- A espécie Salix x secalliana Pau & C.Vicioso será um híbrido entre Salix atrocinerea Brot. e Salix salvifolia Brot.

- Alguns botânicos consideram que a espécie Populus nigra L. não é autóctone em Portugal.

- Dentro da área do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) existem exemplares de loureiros (Laurus nobilis L.) mas não existe um consenso sobre se a mesma será autóctone na Estrela; note-se que o loureiro, juntamente com o azereiro (e, para alguns, também o azevinho) faria parte da flora que existiria na Península Ibérica antes da última glaciação Wurmiana (e que, no seu conjunto, formariam matas designadas por Laurisilva).

- O plátano-bastardo ou padreiro (Acer pseudoplatanus L.), sendo vulgar dentro dos limites do PNSE, foi muito provavelmente introduzido.

- Parace ser consensual entre os botânicos, que as populações de pinheiro-silvestre da Serra da Estrela se terão extinto no passado, tendo as actuais populações desta espécie tido origem numa reintrodução por parte dos serviços florestais.

- Sendo espécies características de ambientes de influência mediterrânica, tal como o zambujeiro ou o lentisco-bastardo presentes em certas zonas do PNSE, as espécies Pinus pinea L. (pinheiro-manso) e Pyrus bourgaeana Decne. (Catapereiro ou pereira-brava) não são consideradas como autóctones na Estrela.

- Ao longo dos séculos várias espécies foram introduzidas sendo as duas mais importantes, pela área que ocupam e importância ao nível económico e social, o castanheiro (Castanea sativa Mill.) e o pinheiro-bravo (Pinus pinaster Aiton).

P.S.- De bom grado aceitarei todas as correcções a esta lista.



8 comentários:

Anónimo disse...

Olá,
Eu já ouvi falar muuuito dessa covilhã e dizem que é linda linda linda!!!!
Se Deus um dia me der a benção de poder visitar lugares tão lindos assim nossa serei extremamente grata!
Pois é mtto lindo!!!
Aqui no Brasil tem serras e interiores muito lindos tb.
Mais o mais legal é q as casas a floresta tem um mistério parece!
bjus*
Ótima semana*
Nádia.

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Olá,

Apesar de ser da Covilhã, reconheço que Portugal tem cidades mais bem conservadas, como Guimarães ou Évora; apesar disso,a Covilhã tem um patimónio industrial muito interessante,cuja história está resumida parcialmente no Museu dos Lanifícios (um dos melhores museus industriais da Europa).

Claro que o maior atractivo da Covilhã é mesmo a Serra da Estrela, embora a maior parte das pessoas se desloque por causa da neve durante o Inverno, as suas maiores riquezas são as de carácter ambiental..

Boa semana

TPais disse...

EXcelente contributo para o conhecimento da flora local Pedro!
Infelizmente trago aqui uma má noticia!Consulta o ultimo artigo do CZ aqui:
http://ocantarozangado.blogspot.com/2007/05/o-avano-da-foleirizao.html
Atenção que as imagens são eventualmente chocantes para pessoas mais sensiveis.
Abraço

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Tiago, Obrigado pelo elogio embora o mérito seja todo dos botânicos que estudam a Estrela...eu apenas me limitei a tentar resumir a informação dispersa por algumas obras...aliás gostava muito que o Jan Jansen pudesse dar a sua opinião acerca desta lista.

E sobretudo obrigado por me chamares a atenção para o escândalo do Covão d'Ametade que me estava a passar "ao lado"

Abraço

Anónimo disse...

Viva...

Como sempre é um prazer ler o seu blog


Suscitou-me a atenção : Em que zona se evidencia o aparecimento de Phylirreia ~? ... Desconheço totalmente a especie... Mais alguma info adicional ?

Obrigado.

MMeruje

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

O lentisco-bastardo (Phillyrea angustifolia)faz parte do estrato arbustivo de zonas da Serra onde a influência mediterrância é predominante (sendo que no passado seriam zonas cobertas por bosques de azinheiras; hoje os azinhais praticamente desapareceram, restando exemplares isolados e de porte arbustivo).

Uma das zonas onde esta influência mediterrânica é mais acentuada é em certos troços do vale do Zêzere a jusante de Manteigas (zonas do Sameiro e Vale de Amoreira) e em vales de afluentes deste rio (Vale de Beijames).

Obrigado, abraço

Anónimo disse...

Obrigado pela pronta resposta.

Consegue contudo evidenciar-me uma zona onde realmente a especie prolifere, visto tratar-se de um arbusto, ou é de facto uma especie pouco vista ?


Cumprimentos,

MMeruje

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Não será das espécies mais abundantes visto algumas das zonas onde predominaria essa influência mediterrânica terem sido florestadas com pinheiro-bravo; depois também existe a situação de alguns dos últimos azinhais, em cujo sub-bosque pode aparecer o lentisco-bastardo, ocorrerem em zonas recônditas do Vale das Cortes ou do Mondego.

No entanto, como referi na última resposta, ao longo do Vale do Zêzere, entre Manteigas e Valhelhas subsistem pequeníssimas núcleos de azinheira e é natural que aí ocorra o lentisco.

A ideia que eu tenho é que o lentisco-bastardo ocorre em situações de influência mediterrânica muito acentuada, situações estas que são minoritárias dentro do Parque; embora, mais ou menos acentuada, essa influência mediterrânica se possa fazer sentir até aos 800 m de altitude (aproximadamente).

Depois, como escrevi atrás, se adicionarmos a influência humana que introduziu nesses habitats muitas outras espécies, como o pinheiro-bravo ou mais recentemente as mimosas (que são perigosas infestantes), chegámos à situação actual de quase desaparecimento das manchas de azinhal na serra.

No entanto, há espécies bem mais raras dentro do Parque.

Abraço