sexta-feira, maio 04, 2007

Uma notícia boa, uma má e uma, no mínimo, surrealista

Imagem retirada do blogue Cores da Terra


Comecemos pela boa notícia:

- Do blogue Cores da Terra chegam-nos imagens de um sobreiro localizado na freguesia de Belazaima do Chão (concelho de Águeda), classificado como árvore de interesse público desde 28/09/1994.

São excelentes notícias saber da existência de árvores autóctones deste porte num distrito, como o de Aveiro, que foi particularmente afectado por uma "eucaliptização aguda" nas últimas décadas.

Como confessei à autora do Cores da Terra, eu e os meus colegas de universidade, chegámos a ponderar colocar no IP5 (hoje A25) à entrada do distrito de Aveiro, um cartaz com os dizeres: Bem-vindos à Austrália!
É que desse ponto pouco mais se avista, para Sul ou para Norte, do que hectares e hectares de eucaliptal, intercalados com alguns acaciais para combater a "monotonia da paisagem"...
Eu imagino a dificuldade dos meus colegas professores de Ciências para convencer os seus alunos de que o eucalipto não é uma árvore autóctone...ou que estas terras de Aveiro já foram outrora cobertas de extensos carvalhais e sobreirais...deve dar cada "discussão"!...

Não nego que muito do território do distrito possa ter condições (geomorfológicas, edáficas, climáticas,...) favoráveis à cultura do eucalipto mas, para tudo, haverá um limite!...Até porque são hoje claros os efeitos práticos de florestar hectares contínuos com uma espécie altamente inflamável, como o eucalipto...incêndios como os de Albergaria-a-velha, Sever do Vouga, Serra da Ossa ou o que entrou pelo perímetro urbano de Coimbra, só para citar alguns, já deveriam ter servido de lição...

Eu só me interrogo é sobre o que faremos destes hectares de eucalipto quando a cultura do mesmo deixar de ser rentável? Este lixo verde também será reciclável? Veremos...

Mas deixemos estas coisas tristes para outras ocasiões e celebremos este sobreiro notável que, para além de ter resistido à eucaliptização, ainda sobreviveu à podite aguda tão comum por todo o país.


Imagem retirada do Blog de Cheiros

A :

Sobre o abate dos 97 plátanos em Lisboa, duas coisas apenas...

1ª) Vamos "aceitar", por momentos, que todas as noventa e sete árvores estavam irremediavelmente doentes; a ser verdade, este facto não responsabiliza apenas o empreiteiro responsável pelas obras no Campo Pequeno. Tal facto, responsabiliza em primeiro lugar a Câmara Municipal de Lisboa (CML) por não ter sabido prever os efeitos práticos da referida obra; ou então, tendo alertado para tal o dono de obra (através de um estudo técnico), por não ter sabido acompanhar a mesma de modo a evitar o que veio a acontecer.

2ª) A segunda possibilidade é as árvores não estarem doentes e tal não passar de mais um "arboricídio" sob a forma de um enorme embuste a todos os cidadãos.

É por tudo isto que eu considero que o que se deve exigir à CML em primeiro lugar é tão somente o seguinte: que se tornem públicos os relatórios técnicos que comprovam o estado de saúde dos plátanos.

De qualquer maneira, tal não isenta a CML das culpas...apenas queremos saber é se para além de irresponsáveis serão igualmente mentirosos!...





A surreal...

Apetece-me desabafar que até para se ser Serra é preciso ter sorte...e a Estrela nasceu sem nenhuma...

Apenas o seguinte:

- O Parque Natural, entidade que respeito, se sabia do projecto e nada fez para acompanhar a sua execução é, pura e simplesmente, co-responsável por este nojo!

- Em segundo lugar, os meus mais sinceros parabéns aos autores disto (Câmara Municipal de Manteigas, Turistrela...eu sei lá, sinceramente nem me interessa...) pois está dado o primeiro passo para transformar o Vale Glaciar do Zêzere em Património Mundial da Pimbalhada!

Envergonhem-se, emendem o que é possível ainda ser emendado e peçam-nos desculpas...sim, já nem peço a demissão de ninguém...isto é Portugal!

As duas últimas fotos são da página http://picasaweb.google.com/ametade/Estaleiro

Tomei conhecimento deste caso vergonhoso pelo Cântaro Zangado, nomeadamente através deste texto.

P.S. - Uma nota final: por mais que eu considere que o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) tem responsabilidades neste caso, considero que não poderemos cair na tentação de o "condenar" liminarmente...ele não é o inimigo!

Se isolarmos o PNSE estaremos a enfraquecer a única estrutura com reais poderes e interesse em defender a Serra da Estrela. E nós, os ambientalistas que amamos a Estrela, somos os únicos verdadeiros aliados do PNSE.

Convém não esquecer isso...nunca.

2 comentários:

Maria Lua disse...

Obrigado Pedro.
Tenhámos ESPERANÇA que estas más notícias acabem depressa...
Bom final de semana.

teresa g. disse...

Obrigada pela referência, só vi agora! Em relação ao fim da rentabilidade do eucalipto, parece-me que não estará longe do fim, já se vêem por aí muitas plantações jovens afectadas por uma coisa que me parece ser um fungo, não fui ver de perto, e que enfraquece bastante as árvores. Mas tenho algum receio que ele se tenha estabelecido, e fique depois de deixar de ser cultivado, e mesmo que se torne invasor, porque depois do incêndio de 2005, há zonas nas bordas da estrada em que eles nascem aos milhares.

Uma vez vi uma entrevista de um estrangeiro qualquer que passou por Portugal de bicicleta e disse que achou a paisagem muito estranha, porque parecia que estava na Austrália! Por isso parece que o vosso cartaz nem é necessário, pelo menos na imagem que se passa para os visitantes estrangeiros!

Um abraço