terça-feira, julho 31, 2007

Uma vila de interesse público



Imaginemos uma vila nas faldas da Serra da Estrela, cujos campos mantêm o verde no pico do Verão e onde o som das águas que correm na ribeira é o suficiente para nos refrescar do calor.

Essa vila, quase de conto de fadas, existe e chama-se Unhais da Serra.



Unhais da Serra fica a 20 km da sede de concelho, a Covilhã. É uma vila que merece figurar no roteiro de todos os que gostam de árvores e, em particular, de plátanos.

São dezenas, dezenas de plátanos, que formam duas alamedas, a primeira ao longo da N230 que atravessa a vila e a segunda ao longo do caminho que conduz às instalações termais.

Por ventura, individualmente nenhuma destas árvores mereceria referência face a exemplares classificados, mas o conjunto é soberbo e deixa-nos quase sem adjectivos. Chegamos a duvidar estar em Portugal, num país onde as árvores (e sobretudo os plátanos) são tão maltratados.

É esse conjunto que é magnífico e merecedor de classificação. Abençoadas gentes, abençoada vila...abençoadas árvores.

As fotografias, sem mais comentários, estão longe de lhes fazer justiça...























P.S. - Claro que estas árvores não estão a salvo; por todo o lado, há quem se incomode com a sombra e Unhais não deverá ser excepção. Por esse motivo, vou escrever uma carta ao presidente da Junta de Freguesia de Unhais da Serra a apelar à sua conservação e a que proponha, inclusivamente, a classificação deste conjunto de plátanos como árvores de interesse público.

segunda-feira, julho 30, 2007

O carvalho-alvarinho na Beira Interior

Bosque de carvalho-alvarinho (Quercus robur L.) - Encosta sobranceira à Covilhã, Serra da Estrela


O carvalho-alvarinho ou roble (Quercus robur L.) é uma das árvores dominantes dos bosques de influência atlântica da Europa ocidental. Nas palavras de Jorge Capelo e Filipe Catry (Os Carvalhais - Um Património a Conservar; Colecção Árvores e Florestas de Portugal), o carvalho-alvarinho "é uma espécie de óptimo territorial atlântico", ou seja, é uma árvore que encontra as melhores condições ecológicas em zonas onde predomina o "clima atlântico" (zonas onde o regime de precipitação não apresenta um período seco ou, quando existe, é muito curto; acresce que, dada a acção amenizadora do oceano, tipicamente não se verificam grandes extremos em termos de temperatura).


Em Portugal continental, estas condições prevalecem no noroeste do território ainda que, mesmo no coração do chamado Portugal Atlântico, se verifique uma diminuição das chuvas no Verão (clima temperado submediterrânico), o que propicia o aparecimento de espécies como o sobreiro (Quercus suber L.), que associamos ao Mediterrâneo.

A fronteira entre os macrobioclimas temperado e mediterrânico não é hermética e os seus limites têm variado ao longo da história climática do planeta.

Exemplares de carvalho-alvarinho (Quercus robur L.) - Castelo Novo (Fundão)

Nas Beiras o domínio do alvarinho estende-se até ao interior do distrito de Viseu (Mangualde), notando-se gradualmente a transição para o carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.) e mesmo para carvalhos de folha persistente, como a azinheira (Quercus rotundifolia Lam.) e o sobreiro (Quercus suber L.).

Apesar da intervenção humana que provoca sempre grandes alterações na paisagem, esta variação é ainda perceptível a quem circule na A25 no sentido de Viseu para a Guarda.

O carvalho-alvarinho aparece ainda mais para interior do distrito de Viseu, na vertente oeste da Serra da Estrela (concelhos de Gouveia e Seia), isto é, já no distrito da Guarda.


Pequeno bosque de carvalho-alvarinho (Quercus robur L.) com a Gardunha ao fundo (Castelo Novo)


Para leste da Serra da Estrela é possível observar ainda o Quercus robur na Serra da Gardunha (em particular na vertente norte) e na encosta da Estrela sobranceira à Covilhã. Os elevados índices de precipitação que aqui se verificam do começo do Outono ao início da Primavera, parecem assim compensar a seca estival, proporcionando condições que evitam um stress hídrico capaz de tornar insustentável a sobrevivência da espécie.

Vejamos, a este propósito, as opiniões de Jorge Capelo e Filipe Catry na obra supracitada: "Tais situações são relíquias climáticas e vegetacionais e correspondem a áreas que possuíram macrobioclima temperado há apenas um ou dois milhares de anos e onde a floresta de carvalho-roble persiste ainda em situação excepcional".

Adopção de árvores

Plátano a precisar de espaço para crescer...sem podas! - imagem do blogue Maria Pudim

A Maria lançou uma campanha para conseguir candidatos à adopção das árvores que tem no seu quintal - está tudo aqui.


domingo, julho 29, 2007

Silly season II

Bem, suponho que um título alternativo para este texto poderia ser "A Sombra Verde a fazer de Ondas 3"...sabendo, de antemão, que não consigo igualar o original!

Duas notícias do Público de hoje chamaram-me a atenção (nota: não coloco as ligações para as referidas notícias pois teriam validade limitada no tempo).

"Lince ibérico regressa ao Algarve como atracção turística". Bom, aparentemente, a conclusão é do jornalista (Idálio Revez) que escreve a notícia. No entanto, preocupa-me que este título tenha sido escolhido com base em comentários (off the record) que o mesmo tenha ouvido a responsáveis governamentais.
Dito por outras palavras, preocupa-me bastante que esta possível tentativa de reintrodução do lince-ibérico não obedeça a uma estratégia de conservação perfeitamente definida e antes a "operações de cosmética" delineadas em cima do joelho.

Sim, porque se conseguir que a espécie se reproduza em cativeiro é difícil, em nada se compara à libertação desses espécimes no seu habitat natural e em conseguir condições para que estes prosperem. Cá estaremos para ver...

Também me preocupa, porque ninguém ainda explicou, porque é que (aparentemente) se decidiu colocar o centro nacional de reprodução em cativeiro no Algarve e não na Malcata. Se é a melhor solução técnica, excelente...expliquem-nos é o porquê. Até porque seria muito mau ficarmos todos a pensar que seria apenas para tentar calar os ambientalistas acerca da barragem de Odelouca.

"Câmaras Municipais não aplicam multas a autores de incêndios por negligência". Então é assim, as câmaras municipais não aplicam as coimas, previstas por lei, aos autores de incêndios florestais por negligência. No ano passado, em mais de um milhar de autos enviados pela GNR para os municípios, os responsáveis pela protecção civil municipal - na maioria dos casos os próprios presidentes das câmaras - desdenharam sempre a possibilidade de receberem as importâncias previstas, substituindo as mesmas por admoestações escritas.

Instado a comentar esta situação, o Sr. Jaime Soares, vice-presidente da Associação Nacional de Municípios, debitou esta pérola: "(A GNR) passa o tempo a importunar as pessoas por motivos fúteis". Para quem não sabe, os ditos "motivos fúteis" são a principal causa dos incêndios florestais no nosso país.

Este senhor desculpa-se com a falta de rendimentos das pessoas (que eu não nego em muitos casos...mas as leis não serão iguais para todos?).
Claro que todos sabemos que a verdadeira razão que leva as Câmaras a não aplicar estas multas é o medo de perder votos. Vá lá, que pelo menos o Sr. Jaime Soares, ao contrário do Sr. Fernando Ruas, não chega a sugerir que se corra com a GNR à pedrada!

Posso estar enganado, mas acho que o calor não desculpa tamanha irresponsabilidade!

sábado, julho 28, 2007

Amor à primeira vista

Castelo Novo


A bonita aldeia de Castelo Novo (concelho do Fundão) situa-se na vertente Sul da Serra da Gardunha, sendo uma das aldeias históricas de Portugal.

Como acontece na generalidade das outras localidades que fazem parte desta rede de povoações históricas, nota-se um cuidado na preservação do património histórico. Infelizmente, tal cuidado não é extensível ao património natural e nesta, como na generalidade das povoações portuguesas, abundam as árvores decepadas, com troncos feridos e copas ridículas, incapazes de amenizar o calor do Verão.

É devido a esse mesmo calor que hoje se faz sentir com inclemência, que me vou abster de falar de podas radicais.

Vou antes falar do belo sobreiro (Quercus suber L.), ilustrado nas três fotografias que se seguem, e que fica à beira da estrada, na Quinta do Ouriço (Sociedade Agrícola), no início do acesso ao centro da aldeia.

Sobreiro (Quercus suber L.) - Castelo Novo

É um bom exemplar desta espécie, que impressiona pela grossura do tronco. Embora não tivesse medido o respectivo perímetro, não hesito em dizer que é um dos sobreiros mais grossos que conheço na região.

Sobreiro (Quercus suber L.) - Castelo Novo

Infelizmente, como é bem visível na última fotografia, foram-lhe amputados alguns dos ramos principais, querendo acreditar que os mesmos foram cortados por estarem doentes e não por nenhum dos motivos fúteis que habitualmente presidem à mutilação das árvores ornamentais.

Ainda assim, tal não é suficiente para amputar a beleza deste sobreiro...foi amor à primeira vista.
Sobreiro (Quercus suber L.) - Castelo Novo

sexta-feira, julho 27, 2007

Uma questão de confiança

Tília (Tilia tomentosa Moench.) - Bairro do Rodrigo, Covilhã

Chegado a casa de férias, deparo com uma carta da Direcção-Geral dos Recursos Florestais. Sabia que era a resposta ao pedido de classificação para a tília da fotografia. No fundo sabia a resposta que, tal como antevira, foi negativa: "...o referido exemplar não reúne os requisitos inerentes a esta classificação".


Sei bem que estes critérios são claros...entenda-se, não subjectivos. Sei, até porque conheço exemplares classificados desta espécie (como este em Trancoso), que esta tília ainda não terá as dimensões exigidas para usufruir do tal estatuto. Também lhe faltará relevância histórica ou qualquer outra curiosidade...Concordo igualmente que não poderemos proteger todas as árvores por sabermos que daqui a 10 ou 20 anos irão ser notáveis (descontados eventuais acidentes de percurso...).

Mas, como fiz questão de sublinhar na carta que escrevi aos serviços da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, a classificação desta tília notável poderia servir como incentivo para ajudar a população local e as autoridades municipais a mudar a forma como encaram e tratam o património arbóreo da cidade. Dirão que essa não é a missão da Direcção-Geral dos Recursos Florestais. Concordo.

Mas com toda a certeza mudarei de opinião no mesmo dia em que a vir tombar, como já aconteceu a várias outras tílias deste bairro, às mãos das podas assassinas.

P.S. - Na referida carta é-me feita a sugestão de propor à Câmara Municipal da Covilhã a classificação desta tília como árvore de interesse concelhio. Com certeza que o farei mas apenas para aliviar a consciência.

Afinal, a Direcção-Geral dos Recursos Florestais não sabe, mas já tenho todo um historial de "diálogo de surdos" com a Câmara da Covilhã. Por este motivo, não posso estar à espera que aqueles que executam ou mandam executar o tipo de podas que aqui denuncio, venham agora (cheios de arrependimento) oferecer-se para salvar uma árvore!

Para quem não sabe do que esta gente é capaz, recordo que quando confrontado com esta situação das podas radicais (pelo Diário XXI na sua edição de 21 de Março último), o administrador da Águas da Covilhã, Leopoldo Santos, ousou atribuir a responsabilidade das mesmas à Planeta das Árvores.

A Planeta das Árvores, que é uma das poucas empresas no nosso país que sabe efectuar correctamente este tipo de trabalhos, perdeu o concurso público para conservação das árvores do concelho a favor de uma empresa da Covilhã (sem qualquer historial de competência na execução de podas a árvores ornamentais). Tal foi-me confirmado pelo próprio fundador da Planeta das Árvores, o Sr. Serafim Riem, pessoa de créditos inatacáveis no que concerne a questões relacionadas com a arboricultura.

Por tudo isso, volto a afirmar, irei escrever a referida carta a solicitar a classificação desta tília como árvore de interesse concelhio. Mas será de ter confiança?...

Silly season

"Terrina"...perdão, Marina de Albufeira

O jornal Tal & Qual lançou uma iniciativa designada "As (7) Grandes Aberrações de Portugal" - está tudo neste blogue.

No referido blogue, algumas personalidades públicas são convidadas a votar nas suas 7 aberrações nacionais. Hoje foi a vez de Elidérico Viegas, Presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve.

As suas escolhas foram as seguintes:

1. Obras inacabadas da Fortaleza de Sagres
2. Prédio Coutinho
3. Frente ribeirinha de Lisboa, uma cidade de costas para o rio
4. Projecto do aeroporto da Ota
5. TGV Lisboa/Porto
6. A não realização da barragem de Foz Côa
7. Políticas de ordenamento do território que promovem a desertificação e desigualdades.

Então o Sr. Presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve considera que a única aberração do Algarve são as obras inacabadas da Fortaleza de Sagres?!
E que tal todo o litoral de Portimão a Faro? Armação de Pêra, Albufeira ou Quarteira serão na Andaluzia?

O prédio Coutinho em Viana do Castelo? O Sr. Presidente já foi a Viana?! Considera que o problema da falta de enquadramento do prédio Coutinho é comparável ao das dezenas de mamarrachos da Praia da Rocha?

E aquele campo de golfe em Alcantarilha implantado nos melhores terrenos agrícolas do Algarve? E as dezenas de campos de golfe (na realidade, TODOS excepto o dos Salgados) que não utilizam "água reciclada" para rega?

O que incomoda o senhor é a não construção da Barragem de Foz Côa?! Mais valia que se incomodasse com a construção da de Odelouca. Ah, desculpe, ingenuidade a minha, aqueles campos de golfe e os que estarão para vir precisarão da água de Odelouca...que todos nós ajudaremos a pagar!

Por último, num apontamento de requintado humor, o senhor Presidente refere como aberração do nosso país as "Políticas de ordenamento do território que promovem a desertificação e desigualdades"...aqui, mais uma vez peço desculpas, mas tive que me rir à gargalhada.
Em relação às políticas que favorecem a desertificação, não estará o Sr. Presidente a falar do seu próprio Algarve e de todas as medidas que têm nestes últimos anos conduzido à concentração da população no litoral e esvaziado o interior da região?

Desculpe, ingenuidade a minha, esqueci-me que para os senhores o Algarve é só aquela franja encostada ao mar...

quinta-feira, julho 26, 2007

Todas as histórias têm um fim...

Em Janeiro do corrente ano, tive a ocasião de aqui escrever, por mais de uma vez, o que me ia na alma a propósito das podas radicais aos plátanos da estrada N230, entre a Covilhã e o Tortosendo - podem reler aqui e aqui.

Deste crime também fizeram denúncia outros blogues: Dias com Árvores; Dias sem Árvores; A Poda (com Ph) das Árvores Ornamentais e a Máfia da Cova; espero não me ter esquecido de nenhum...

Mas a história não poderia acabar aqui; passado meio ano, era altura de regressar ao local do crime. Pois bem, foi o que fiz na terça-feira passada.


Os plátanos estão "altos", "revigorados"...Atrever-me-ia mesmo a dizer que foram "requalificados" de uma forma excepcional! Enche-nos o coração ver o "saudável" que estão, a sombra que nos proporcionam acalma o mais violento dos estios... (Desculpem-me o estilo mas, por vezes, a ironia é a única arma que nos resta).

N230 (Covilhã - Tortosendo)

De todas as árvores mutiladas que pude fotografar em Janeiro passado, a da fotografia seguinte foi a que mais me impressionou.

N230 (Covilhã - Tortosendo)


A fotografia seguinte mostra esse mesmo "plátano" (as aspas aplicam-se porque chamar plátano a este cepo é no mínimo um acto de mau gosto).

A sério, qual é a utilidade destes cepos com meia dúzia de folhas? Será que esta estupidez não entrará pelos olhos das pessoas? Que proveito tiram as pessoas destas práticas? Cortem-nas logo pela base, poupem-lhes a morte lenta...

N230 (Covilhã - Tortosendo)

Claro que há as que morrem logo, talvez num assomo de derradeira dignidade. Afinal, as árvores morrem de pé...


N230 (Covilhã - Tortosendo)



N230 (Covilhã - Tortosendo)

quarta-feira, julho 25, 2007

Curtas

Parque Natural da Ria Formosa

- Decorre em Olhão, de 26 a 29 de Julho, a II Edição da Feira Nacional de Parques Naturais e Ambiente;



- Pelo Cântaro Zangado fiquei a saber que o José Maria Saraiva dos Amigos da Serra da Estrela irá receber na próxima sexta-feira, na Mãe D'Água das Amoreiras em Lisboa, o Prémio Nacional de Ambiente 2006/2007 atribuído pela Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente.


Um justo prémio ao principal dinamizador da iniciativa "Um Milhão de Carvalhos para a Serra da Estrela", que conseguiu mexer com a sociedade civil e arrastar outras entidades para uma iniciativa louvável na sua dupla vertente de recuperação de habitats e de educação ambiental. Parabéns!



- Pelo Ecosfera chega-nos a notícia de que se irá iniciar em breve, na Zona Industrial do Monte da Barca (Coruche), a construção do Observatório do Sobreiro e da Cortiça. Será desta que a investigação relativa ao sobreiro e à cortiça terá o destaque que merece?

Sobreiro (Quercus suber L.) da Herdade de Pai Anes, Póvoa de Meadas - fotografia do blogue Geogra(ph)ias

E já que se fala de sobreiros, queria chamar a atenção para o alerta do blogue Geogra(ph)ias; o autor deste blogue, António José Cebola, alerta para o estado de conservação do sobreiro da Herdade de Pai Anes (Póvoa de Meadas, concelho de Castelo de Vide).


Este sobreiro que Ernesto Goes, no livro "Árvores Monumentais de Portugal", classifica como "...o mais espectacular do país (...)", possui mais de 7 m de P.A.P e um copa com mais de 30 m de diâmetro (apesar de ter perdido algumas pernadas durante o ciclone de 1941). Este sobreiro há muitos anos que não é descortiçado dando a impressão de estar revestido pela cortiça virgem. Está classificado como árvore de interesse público desde Novembro de 1993.



Será que nada poderá ser feito para salvar este monumento vivo? Será o mal que afecta esta árvore irreversível ou, pelo contrário, será passível de ser tratado por técnicos especializados, concedendo mais algum tempo de vida a este sobreiro? Recordo que o espectacular carvalho de Calvos foi intervencionado no passado (tendo-lhe sido amputado um ramo que possuía um cancro que se estava a propagar a toda a árvore), tendo sido possível, deste modo, não apenas salvá-lo mas fazer com que recuperasse todo o seu vigor.


Não estou a sugerir que esse seja o problema (e, logo, a solução) para o sobreiro de Pai Anes, mas será que alguém se importará em investigar o que pode ser feito por esta árvore?


- Pelo Ondas 3 (que apesar de estar pela América continua muito bem informado!..), fiquei a saber que o projecto Invader (Plantas Invasoras em Portugal) acaba de disponibilizar (através de download gratuito) um conjunto de fichas que incluem, além de fotografias e breves descrições morfológicas para cada espécie, algumas metodologias de controlo e outra informação considerada relevante.

terça-feira, julho 24, 2007

Não é apenas o idioma que nos une

Plátanos anões - Tortosendo (Covilhã)


A Cristina do blogue Praticando a Fotografia e a Jardinagem, chamou-me a atenção para o problema das podas radicais do outro lado do Atlântico - está tudo nesta notícia.

Algumas partes desta notícia são muito interessantes:

- "No início do mês um morador foi multado em R$ 800 após podar incorretamente nove árvores de uma residência (...)" Isto é, no Brasil as pessoas são multadas por efectuarem podas radicais. E por cá? Veremos algum dia as câmaras municipais e as juntas de freguesia a multarem os seus próprios serviços (ou as empresas que contratam) por estes actos de vandalismo?

- "Em recente entrevista ao O PROGRESSO, o engenheiro agrônomo da prefeitura, Laércio Arruda, alertou sobre os riscos da poda radical. "Sem árvores, a cidade fica mais quente, com baixa (h)umidade relativa do ar e exposta aos poluentes e vendavais que poderiam ser barrados", disse". E por cá? Até quando teremos que esperar para que as câmaras municipais tenham técnicos devidamente credenciados, que compreendam a importância das árvores (bem tratadas) no espaço urbano?

- O mesmo técnico da Prefeitura de Dourados reconhece que: "Nas últimas décadas, segundo ele, Dourados "abusou" das Sibipirunas, visando o conforto térmico sem levar com conta o porte destas espécies". Tal como por cá, grande parte dos problemas surge na hora em que se escolhem as espécies a plantar ou, dito por outras palavras, resultam da falta de planeamento. Caso se fizesse uma escolha criteriosa da espécie a plantar, em função do espaço que esta terá para crescer, grande parte destes problemas relacionados com as podas radicais nem se colocaria.

Plátanos anões - Tortosendo (Covilhã)


No entanto, o que para mim resulta de mais significativo após a leitura desta notícia é que nesta cidade brasileira o problema das podas radicais resulta da acção de pessoas (ou empresas) que actuam à margem da lei. E que existe um município preocupado em alterar esta situação.

O dramático é que em Portugal são as autoridades municipais, as tais que deveriam zelar pelo património público, as principais responsáveis pelos atropelos cometidos contra as árvores (e, pasme-se, muitas vezes delapidando património público para satisfazer os pedidos de alguns particulares).


Plátanos mortos (vítimas de poda inadequada) - Tortosendo (Covilhã)

Na referida notícia, estima-se que por ano esta cidade brasileira perca mais de 700 árvores devido às podas radicais.

Para os que duvidam dos efeitos nefastos destas acções sobre as árvores fica a imagem anterior; há árvores que preferem morrer com dignidade a sujeitarem-se à humilhação de uma morte lenta e anunciada. A sombra continua a incomodar muita gente...Triste povo que sofre sob a canícula!

A Estrela....infelizmente, no seu pior

Poços de Loriga - imagem do blogue "Loriga"

Esta imagem ajuda a compreender o que são as "traseiras" da Estância Vodafone...que é como quem diz, este é um muitos destinos finais de todo o lixo que é abandonado no Planalto da Torre e que, espalhado pelo vento ou pela escorrência das águas, se espalha pelas zonas adjacentes a menor altitude.


Isto é Portugal
no século XXI. Talvez pareça estranho a alguns, mas a Serra da Estrela não é uma espécie de parque natural...é mesmo um Parque Natural! E que, pretensamente, usufrui dos seguintes estatutos de conservação:


- Decreto
-Lei nº 557/76, de 16 de Julho: cria o Parque Natural da Serra da Estrela;
- Decreto Regulamentar nº 50/97, de 20 de Novembro: reclassifica a Área Protegida mantendo o estatuto anterior mas redefinindo os seus limites;
- Resolução do Conselho de Ministros nº 76/00, de 5 de Julho: cria o Sítio “Serra da Estrela” (proposto para Sítio de Importância Comunitária - SIC - Rede Natura 2000);
-Rede de Reservas Biogenéticas do Conselho da Europa: “Planalto Central da Serra da Estrela” (área actualmente integrada no Sítio “Serra da Estrela” - Rede Natura 2000).


Há responsabilidades
de várias instituições, mas a primeira é de quem aqui vem (supostamente em turismo) e abandona o lixo...este não se evapora, nem é derretido pela neve. Este lixo está, neste preciso momento, a poluir linhas e nascentes de água que dão de beber (através das bacias do Mondego e do Zêzere/Tejo) a milhões de portugueses. Provavelmente a si, que está a ler este texto.


Pense nisso, da próxima vez que abrir a torneira.

segunda-feira, julho 23, 2007

A mãe e a descendência


Pinheiro-manso (Pinus pinea L.) - Quinta de Marim, Parque Natural da Ria Formosa (Quelfes, Olhão)

O pinheiro-manso (Pinus pinea L.) da imagem anterior, situado em pleno Parque Natural da Ria Formosa, é o progenitor destes rebentos que moram em minha casa (na Covilhã) e na da minha namorada (em Braga).

O rebento da Covilhã


O rebento de Braga

Está a chegar o doloroso momento da separação e de decidir quem os irá receber; como todas as decisões difíceis ficará para depois das férias de Verão....

P.S. - O José do Cântaro Zangado tem também uma história de sucesso para nos contar.

sexta-feira, julho 20, 2007

A oliveira do Algoz



A Escola EB 2,3 do Algoz (Silves) é, tanto quanto tenho conhecimento, o único estabelecimento de ensino que possui uma árvore classificada nas suas instalações.

Afortunados os alunos, funcionários e professores desta escola, por poderem descansar os olhos nesta extraordinária oliveira (Olea europaea L.), classificada desde 1999.

As medidas que obtivemos para esta oliveira justificam plenamente o estatuto de protecção de que usufrui:

Perímetro à altura do peito = 7,66 m

Altura = 7,25 m

Diâmetro da copa = 9 m



Esta árvore foi preservada por acção dos elementos que constituiram a comissão instaladora desta escola, que tiveram a sensibilidade para perceber que este era um exemplar de dimensões extraordinárias. Devido a esta vontade, foi possível evitar que esta oliveira sofresse o mesmo destino que muitas das outras árvores existentes no terreno onde foi edificada a escola.

Todas as árvores merecem um futuro...esta teve apenas um pouco mais de sorte do que a maioria. Como já escrevi aqui em ocasiões anteriores, ainda que a mutilação continuasse nas ruas das cidades portuguesas, as escolas deveriam ser exemplos de preservação do património arbóreo - para a comunidade escolar e para todos os demais.

Quando os que educam não dão o bom exemplo, não se pode pedir que os outros o façam...




P.S. - Definitivamente, esta árvore tem uma estrelinha da sorte a seu favor: há cerca de dois anos, um aluno da escola vendo entrar um rato para uma das cavidades existentes na base do tronco, decidiu introduzir no seu interior um objecto em chamas para queimar o referido animal.

Esta acção irreflectida acabou por atear um fogo à árvore, tendo sido necessário abafar o fogo (que consumia a árvore pela base a partir do respectivo interior), com a ajuda de terra para submergir o tronco em chamas.

Felizmente, dada a enérgica e rápida reacção, foi possível salvar a árvore. Há árvores com sorte...porque têm quem as ame e proteja.

quinta-feira, julho 19, 2007

Oliveiras monumentais em Albufeira



Em Novembro passado, tinha dado conta da descoberta de uma propriedade em Albufeira, próxima da zona do Páteo, com algumas oliveiras (Olea europaea L.) dignas de registo.


Esta semana regressámos à mesma, para efectuar algumas medições nas duas árvores que mais se destacam em termos de dimensões.

A primeira dessas oliveiras (foto anterior) possui as seguintes medidas:

Perímetro à altura do peito (P.A.P.) = 5,51 m

Altura = 4,5 m

O diâmetro máximo da copa que medimos foi de 6,8 metros.






A segunda destas oliveiras, (que é a minha favorita), possui as seguintes dimensões:

P.A.P. = 6,78 m

Altura = 4,5 m

O diâmetro máximo da copa que medimos foi de 8,8 metros.


Estas duas oliveiras são os melhores exemplares que existem na propriedade e que, dadas as suas dimensões, justificariam um estatuto que lhes garantisse alguma protecção.




Embora de dimensões inferiores, existem outras oliveiras interessantes nesta propriedade, como a da imagem anterior, que possui um P.A.P. de 4,86 m.

É um conjunto de árvores merecedor de atenção, mas o facto de se encontrar em propriedade privada, faz depender a sua preservação da sensibilidade do proprietário para estas questões...

ele poderá responder a questões como: Irão estas árvores sobreviver à "betonização" galopante de Albufeira? Irão acabar transplantadas no jardim de algum famoso ou numa rotunda?

quarta-feira, julho 18, 2007

Ciclistas e linces

Serra da Estrela - Poios Brancos

Do Diário XXI vêm duas notícias que merecem o meu comentário:

- os Amigos da Serra da Estrela (ASE) vêm alertar para o impacto que a passagem da Volta a Portugal em Bicicleta provoca na preservação de habitats prioritários dentro do território do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE).

De e
ntre os vários pontos que a ASE destaca, saliento a questão das pinturas (supostamente de incentivo aos ciclistas) escritas nos blocos de granito que ladeiam a estrada de acesso à Torre.

Eu vejo as imagens da Volta a França ou a Espanha e vejo esse mesmo tipo de frases escritas...mas no alcatrão da estrada! Infelizmente, e custa-me dizer isto porque sou professor (e deveria ter por isso uma fé inabalável nas virtudes da pedagogia), considero que no nosso país os alertas e os pedidos não são suficientes.
Deste modo, a GNR deveria patrulhar as estradas da Serra (nas vésperas destas etapas), garantindo que apenas fossem pintadas frases no alcatrão.


Por outro lado, temos aquele que é um dos principais problemas da Serra da Estrela, isto é, os incêndios florestais. E o que é isso tem a ver com os ciclistas? Em Agosto de 2003, com o país a arder, o repórter da TSF que acompanhava a subida da Covilhã para a Torre, contou dezenas de fogueiras acesas, em churrascos improvisados, por pessoas que pretendiam assistir à passagem dos ciclistas.

Convinha pois que a organização da Volta a Portugal alertasse para esta questão, uma vez que esta prova arrasta largas centenas de pessoas para o interior do PNSE, com as consequentes e inevitáveis fogueiras para assar febras...e todos nós já assistimos a fogueiras feitas sem a mais mínima preocupação com a segurança; fogueiras que depois acabam em incêndios (foi assim em Guadalajara, Espanha, onde em Agosto de 2005 arderam 12 o00 hectares e morreram 11 pessoas devido a uma fogueira mal apagada; embora sem consequências tão trágicas, foi assim também em Viana do Castelo no mesmo ano).

Também nesta questão, acho que a pedagogia não é suficiente e que as autoridades deverão ter uma abordagem mais activa como forma de prevenir os acidentes.

Serra da Estrela - Cântaros (Magro e Gordo)


- O presidente da Câmara Municipal de Penamacor está interessado na reintrodução do lince-ibérico (Lynx pardinus) na Reserva Natural da Serra da Malcata; isto no seguimento de um eventual processo de reprodução em cativeiro no nosso país, semelhante ao que decorre actualmente no centro El Acebuche (Parque Nacional de Doñana).

Independentemente dos condicionalismos que envolvem uma possível reprodução em cativeiro do lince no nosso país, considero bastante positivo que a autarquia de Penamacor encare como vantajosa a reintrodução desta espécie no seu território (ainda que os motivos por detrás desse desejo tenham mais a ver com eventuais proveitos turísticos, do que propriamente com um interesse na sobrevivência da mesma).
Mas daqui não virá mal ao mundo, até porque é possível (e desejável) conciliar a preservação do ambiente com um turismo sustentável.

terça-feira, julho 17, 2007

Oliveira da Quinta da Sinagoga (Tavira)

Oliveira (Olea europaea L.), estrada Tavira - Santo Estevão (Quinta da Sinagoga)

É um privilégio poder ver, tocar, cheirar, fotografar ou, numa única palavra, sentir, árvores como a oliveira classificada de Pedras D'el Rei. Observar um ser vivo com dois mil anos de história reduz-nos à nossa insignificância temporal o que, curiosamente, também nos aumenta a percepção do que é estar vivo...

Acresce a sensação de estarmos perante exemplares únicos pois, mesmo para uma espécie como a oliveira, poucas alcançam esta longevidade e isto por factores que, muitas das vezes, nada têm a ver com causas naturais. Não podemos ignorar que vivemos num país que persiste em não respeitar o seu património, sobretudo o natural. Pois se a opinião pública já se escandaliza com os atropelos ao património histórico construído, continua a ser bastante complacente e compreensiva com o destruir do património natural (como é o caso das árvores monumentais).

Mas, se fotografar estes exemplares classificados é sempre factor de contentamento, consigo ainda encontrar um prazer mais redobrado quando participo da descoberta de árvores ainda não referenciadas. Foi o que aconteceu nesse mesmo Domingo em que fomos a Pedras D'el Rei...

Oliveira (Olea europaea L.), estrada Tavira - Santo Estevão (Quinta da Sinagoga)

Na estrada que liga Tavira a Santo Estevão, descobrimos esta bela oliveira situada na Quinta da Sinagoga (visível a partir da referida estrada). O conjunto é formado por três rebentamentos, algum dos quais poderá ter sido enxertado (esta é uma análise que já ultrapassa o nosso grau de conhecimento actual).


O conjunto formado por estes rebentamentos é de grande beleza e com medidas impressionantes:

Perímetro à altura do peito = 7,21 m
Diâmetro da copa = 12,5 m
Altura = 10 m

Recordo que para a obtenção do diâmetro da copa (ou perímetro), estamos a utilizar uma técnica que consiste em medir aqueles que nos parecem ser o maior e o menor raio (da mesma) e depois calcular a média.

No entanto, em situações como a desta árvore, onde não existe um único tronco, pareceu-nos ser mais rigoroso medir directamente o diâmetro fazendo a fita métrica passar pelo centro dos rebentamentos; (da mesma forma fizemos duas medições e calculámos a média).

domingo, julho 15, 2007

As oliveiras de Pedras D'el Rei





Visitar Tavira, para quem gosta de árvores, implica uma visita ao aldeamento turístico de Pedras D'el Rei. Foi isso mesmo que eu e o caçador de árvores, Miguel Rodrigues, fizemos no Domingo passado.

Neste aldeamento situa-se uma magnífica oliveira (Olea europaea L.), classificada desde 1984 (ver as duas fotografias anteriores).

As medidas que obtivemos para este exemplar são impressionantes, sobretudo a do perímetro à altura do peito (P.A.P.):

Altura = 9 m

P.A.P. = 7,8 m

Diâmetro da copa = 9,8 m

Estima-se* que esta árvore tenha cerca de 2 000 anos de idade. Esta oliveira é, sem sombra de dúvida, uma das árvores mais extraordinárias que já pude observar. Não podemos deixar de nos sentir muito pequeninos perante este monumento vivo com dois milénios.

*através dos métodos dos carbonos 12 e 14.





Perto desta oliveira existe um outro exemplar (ver foto acima) com dimensões igualmente notáveis e que justificaria, com inteira justiça, o estatuto de árvore de interesse público.


O P.A.P. ronda os 6 m (ficando atrás da sua irmã classificada) mas supera-a em altura (11 m) e no diâmetro da copa (11,7 m). Para quando a sua classificação?



Existem outras oliveiras interessantes neste aldeamento, nomeadamente a que se situa junto à piscina (ver foto anterior).

sábado, julho 14, 2007

Tree-nation e outras notícias

Pelo blogue Quinta do Sargaçal descobri o projecto Tree-nation, o qual visa conseguir plantar 8 milhões de árvores na região Saariana (mais concretamente no Níger, um dos países mais pobres do mundo e tal como toda a região Sub-saariana, gravemente atingido pelo problema da desertificação).

Entre as entidades que apoiam este projecto estão as Nações Unidas, nomeadamente através do UNEP (United Nations Environment Programme) - o qual, por sua vez, coordena o projecto Plant for the Planet.

Queria, por outro lado, agradecer publicamente ao jornal Tal & Qual, que na sua edição da passada Sexta-feira, destaca a Sombra Verde (com base neste texto, que partiu de uma denúncia do leitor deste blogue, Albano Matos, a quem agradeço o envio das fotos).

Para terminar, uma notícia preocupante, que nos chega através do Ecosfera. A Almargem denuncia que alguns dos últimos núcleos de diabelha do Algarve (Plantago algarbiensis Samp.), podem estar ameaçadas pelo avanço de uma zona industrial no Algoz (concelho de Silves).

Sim, eu sei que as zonas industriais são necessárias; mas seria pedir muito que os estudos de impacto ambiental (EIA) contemplassem medidas para minimizar as consequências sobre exemplares raríssimos da nossa flora?! E já nem me atrevo a sugerir a utopia dos EIA poderem sugerir alternativas de localização para este tipo de empreendimentos.

sexta-feira, julho 13, 2007

De regresso a Tavira

No passado Domingo regressámos a Tavira para, entre outras coisas, medir as dimensões de algumas araucárias [Araucaria heterophylla (Salisb.) Franco]. São três exemplares de que já tinha falado neste texto de Novembro passado.




A primeira destas araucárias [Araucaria heterophylla (Salisb.) Franco], a que se referem as duas fotografias anteriores, situa-se junto ao Cine-Teatro António Pinheiro e possui as seguintes dimensões:

Perímetro à altura do peito (P.A.P) = 3,10 m

Altura= 32 m





Na Praça Dr. António Padinha situam-se duas outras araucárias da mesma espécie com dimensões igualmente notáveis, sobretudo ao nível da altura.

A mais alta destas araucárias mede 32, 5 m de altura e 1,95 m de P.A.P; o outro exemplar é menos alto (30 m) mas possui um tronco ligeiramente mais grosso (2,07 m).