Chegado a casa de férias, deparo com uma carta da Direcção-Geral dos Recursos Florestais. Sabia que era a resposta ao pedido de classificação para a tília da fotografia. No fundo sabia a resposta que, tal como antevira, foi negativa: "...o referido exemplar não reúne os requisitos inerentes a esta classificação".
Sei bem que estes critérios são claros...entenda-se, não subjectivos. Sei, até porque conheço exemplares classificados desta espécie (como este em Trancoso), que esta tília ainda não terá as dimensões exigidas para usufruir do tal estatuto. Também lhe faltará relevância histórica ou qualquer outra curiosidade...Concordo igualmente que não poderemos proteger todas as árvores por sabermos que daqui a 10 ou 20 anos irão ser notáveis (descontados eventuais acidentes de percurso...).
Mas, como fiz questão de sublinhar na carta que escrevi aos serviços da Direcção-Geral dos Recursos Florestais, a classificação desta tília notável poderia servir como incentivo para ajudar a população local e as autoridades municipais a mudar a forma como encaram e tratam o património arbóreo da cidade. Dirão que essa não é a missão da Direcção-Geral dos Recursos Florestais. Concordo.
Mas com toda a certeza mudarei de opinião no mesmo dia em que a vir tombar, como já aconteceu a várias outras tílias deste bairro, às mãos das podas assassinas.
P.S. - Na referida carta é-me feita a sugestão de propor à Câmara Municipal da Covilhã a classificação desta tília como árvore de interesse concelhio. Com certeza que o farei mas apenas para aliviar a consciência.
Afinal, a Direcção-Geral dos Recursos Florestais não sabe, mas já tenho todo um historial de "diálogo de surdos" com a Câmara da Covilhã. Por este motivo, não posso estar à espera que aqueles que executam ou mandam executar o tipo de podas que aqui denuncio, venham agora (cheios de arrependimento) oferecer-se para salvar uma árvore!
Para quem não sabe do que esta gente é capaz, recordo que quando confrontado com esta situação das podas radicais (pelo Diário XXI na sua edição de 21 de Março último), o administrador da Águas da Covilhã, Leopoldo Santos, ousou atribuir a responsabilidade das mesmas à Planeta das Árvores.
A Planeta das Árvores, que é uma das poucas empresas no nosso país que sabe efectuar correctamente este tipo de trabalhos, perdeu o concurso público para conservação das árvores do concelho a favor de uma empresa da Covilhã (sem qualquer historial de competência na execução de podas a árvores ornamentais). Tal foi-me confirmado pelo próprio fundador da Planeta das Árvores, o Sr. Serafim Riem, pessoa de créditos inatacáveis no que concerne a questões relacionadas com a arboricultura.
Por tudo isso, volto a afirmar, irei escrever a referida carta a solicitar a classificação desta tília como árvore de interesse concelhio. Mas será de ter confiança?...
4 comentários:
Acrescento um desabafo...
Será que os senhores presidentes das camaras não notam toda a diferença que as árvores fazem na vida das cidades?
Como conseguem viver ao lado de um tronco descaracterizado que nem somba consegue fazer?
Onde os leva o seu coração?
Continua a desconcertar-me a incapacidade de visão da maioria dos "senhores que mandam" neste país.
Uma avenida com árvores não tem nada a ver com um avenida, uma árvore que traz sombra não tem nada a ver com um tronco cortado esforçando-se para não parecer ridículo.
Desculpe, o desabafo
Ora essa, não tem nada que pedir desculpa pelo desabafo; eles, os que nos privam da sombra das árvores, é que deveriam pedir desculpas por delapidarem o património que é de todos.
De facto, como diz, estas questões deveriam ser evidentes mas, infelizmente, não o são. Sobretudo porque a maioria dos portugueses tem "entranhada", ainda que de forma inconsciente, uma cultura "anti-árvore".
A verdade é que a maioria das pessoas considera estas podas como necessárias...alguns consideram que elas não prejudicam as árvores e outros, pasme-se, que até as favorecem.
É contra esta cultura que temos que lutar...vai levar algumas gerações mas chegaremos lá.
Compreendo o seu (quase) desânimo, mas, apesar de tudo, acho que vale a pena insistir, até porque, ainda que grão a grão, creio que alguma coisa estará a mudar.
Em Lisboa, e ainda não há muitos anos, quem protestava contra o abate de árvores (já nem falo das podas assassinas) era visto, na hipótese mais simpática, como um um lunático sem mais nada com que se entreter que não fosse defender arvorezinhas.
Hoje, e no estado miserável a que chegou esta cidade, o antigo lunático já pelo menos é visto como alguém "que até tem uma certa razão". Pode não ser muito, mas sempre é uma mudança.
Há anos atrás um presidente de câmara podia decepar, em nome do "progresso", todas as árvores de uma Avenida de Répública - que em tempos foi um esplendor, e hoje é uma anedota - perante a indiferença de quase todos os cidadãos, e mesmo dos moradores da zona.
Hoje, o abate de várias árvores no jardim do Campo Pequeno provocou já um coro de protestos que a Câmara Municipal se viu obrigada a vir a público informar que iriam plantar novas árvores e reconstruir o jardim.
E, espanto dos espantos, isso está mesmo a acontecer. E fosse, ou não, a reconstrução do jardim, o plano original da Câmara, é um progresso notável em relação ao triste passado.
Acrescento que estou convencido que estas mudanças de mentalidade e resultados se devem em boa medida a pessoas que, como você, insistem em «chatear» as autoridades públicas com racionalidade e bom-senso.
Pelo que espero que não perca a confiança... :-)
Já agora, como é a primeira vez que aqui venho, permita-me que o felicite pelo seu blog, que é uma bela surpresa.
Paulu,
Obrigado pelos elogios ao blogue.
Apesar do "desânimo", não vou desistir...já antes de ter criado este blogue, escrevia nos jornais locais. E vou continuar a fazê-lo...é preciso mudar a opinião das pessoas, uma a uma.
E a verdade é que, também pela Covilhã, já se vão vendo algumas mudanças...há mais pessoas que se indignam e que também escrevem em blogues e nos jornais. Infelizmente, é um processo lento e, no entretanto, continuam a perder-se árvores; e eu já estou a sofrer "por antecipação", imaginando as que serão "podadas" no próximo ano. Custa-me sobretudo, por ser professor, ver essas "podas" serem feitas nas escolas, com a complacência dos conselhos executivos e dos meus colegas de Ciências.
Eu até tenho conhecimento que na empresa municipal que trata destes assuntos (a Águas da Covilhã) há pessoas com alguma sensibilidade para estas questões; infelizmente, estão "entaladas" entre as cúpulas da empresa que apenas pensam em termos de "política", ou seja, em não perder votos e os jardineiros que sempre assim trataram as árvores (e que, como tal, até julgam que estão a "ajudar" as árvores).
Em Lisboa e no Porto, para além dos muitos cidadãos que se indignam, existe o factor "pressão da comunicação social"...e isso ajuda muito. Mesmo no caso dos plátanos do Campo Pequeno, se não tem coincidido com toda a "confusão" que envolveu a demissão de Carmona Rodrigues, penso que a comunicação social ainda teria feito maior "alarido" deste caso. Nos meios mais pequenos, alguma comunicação social (mas não toda, sublinhe-se!) ainda é muito complacente com o poder das Câmaras Municipais.
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