O carvalho-alvarinho ou roble (Quercus robur L.) é uma das árvores dominantes dos bosques de influência atlântica da Europa ocidental. Nas palavras de Jorge Capelo e Filipe Catry (Os Carvalhais - Um Património a Conservar; Colecção Árvores e Florestas de Portugal), o carvalho-alvarinho "é uma espécie de óptimo territorial atlântico", ou seja, é uma árvore que encontra as melhores condições ecológicas em zonas onde predomina o "clima atlântico" (zonas onde o regime de precipitação não apresenta um período seco ou, quando existe, é muito curto; acresce que, dada a acção amenizadora do oceano, tipicamente não se verificam grandes extremos em termos de temperatura).
Em Portugal continental, estas condições prevalecem no noroeste do território ainda que, mesmo no coração do chamado Portugal Atlântico, se verifique uma diminuição das chuvas no Verão (clima temperado submediterrânico), o que propicia o aparecimento de espécies como o sobreiro (Quercus suber L.), que associamos ao Mediterrâneo.
A fronteira entre os macrobioclimas temperado e mediterrânico não é hermética e os seus limites têm variado ao longo da história climática do planeta.
Nas Beiras o domínio do alvarinho estende-se até ao interior do distrito de Viseu (Mangualde), notando-se gradualmente a transição para o carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.) e mesmo para carvalhos de folha persistente, como a azinheira (Quercus rotundifolia Lam.) e o sobreiro (Quercus suber L.).
Apesar da intervenção humana que provoca sempre grandes alterações na paisagem, esta variação é ainda perceptível a quem circule na A25 no sentido de Viseu para a Guarda.
O carvalho-alvarinho aparece ainda mais para interior do distrito de Viseu, na vertente oeste da Serra da Estrela (concelhos de Gouveia e Seia), isto é, já no distrito da Guarda.
Para leste da Serra da Estrela é possível observar ainda o Quercus robur na Serra da Gardunha (em particular na vertente norte) e na encosta da Estrela sobranceira à Covilhã. Os elevados índices de precipitação que aqui se verificam do começo do Outono ao início da Primavera, parecem assim compensar a seca estival, proporcionando condições que evitam um stress hídrico capaz de tornar insustentável a sobrevivência da espécie.
Vejamos, a este propósito, as opiniões de Jorge Capelo e Filipe Catry na obra supracitada: "Tais situações são relíquias climáticas e vegetacionais e correspondem a áreas que possuíram macrobioclima temperado há apenas um ou dois milhares de anos e onde a floresta de carvalho-roble persiste ainda em situação excepcional".
2 comentários:
Olá Pedro
Suponho ter visto carvalhos alvarinhos na Serra de S. Mamede. Não tenho a certeza absoluta. Mas é natural que existam dadas as condições climáticas da serra.
Olá Júlia,
A Serra de S. Mamede é uma "ilha de Atlântico" nesse Alentejo que associamos logo ao Mediterrâneo...neste texto que cito, os autores referem também a presença do alvarinho em S. Mamede. Eu também não me admirava nada de aí os encontrar...se conseguir fotografias não hesite em mostrá-las no "Entre Tejo...".
Retenho alguns magníficos carvalhos, mas negral, que há ainda em vários pontos da Serra e mesmo a ladear estradas, como na que vais de Portagem (Marvão) para Portalegre. Infelizmente, da última vez que fui ao monte da Penha em Castelo de Vide (fez esta Primavera um ano), reparei que tinha ardido em parte..e, já se sabe, diminuíram os carvalhos e os castanheiros e aumentaram os eucaliptos e as mimosas.
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