Poda em Grevíleas ou carvalhos-sedosos (Grevillea robusta A.Cunn.) - Moura
Poda em Grevílea ou carvalho-sedoso (Grevillea robusta A.Cunn.) - Moura
Existiu em tempos uma aldeia gaulesa cujos habitantes, destemidos perante o invasor romano, temiam apenas que o céu lhes caísse sobre a cabeça.
Vários séculos depois, existe um povo no Sul da Europa, cujo maior receio é que as árvores (por serem teimosas e insistirem em crescer) lhes tombem sobre as cabeças.
E é isto que me custa particularmente a compreender...num país com Verões sufocantes, a sombra benigna das árvores deveria ser um luxo a defender; a arborização das cidades e vilas deveria ser criteriosamente planeada, aumentando as zonas de ensombramento, como forma de diminuir o efeito de ilha de calor típico dos aglomerados urbanos.
Pelo contrário, as árvores são perseguidas, qual processo inquisitorial, e condenadas sem hipótese de recurso a cepos com ramos disformes, incapazes de efectuar a mais elementar das tarefas: dar sombra!
Neste caso, sobre o qual muito tenho pensado (e até tido pesadelos!), revela-se uma curiosa colisão entre dois saberes: o dito popular e o dito científico. Passo a explicar...
Existe por vezes a tentação de se considerar que estes dois saberes se excluem e são incapazes de se complementar; existem fanáticos de ambos os lados, uns que pensam que todo o saber está nas universidades e outros que pensam que o dito conhecimento popular, feito da experiência de gerações e gerações, é incorruptível e superior a qualquer coisa que se possa aprender com um livro...Resumindo: neste caso, existe uma tradição de gerações de podar desta forma as árvores e as pessoas já nem questionam o seu porquê. Aceitam-no sem discutir. Se sempre foi feito por pessoas simples e com a tal sabedoria ancestral, é porque só pode estar correcto...
E a verdade é que a maioria das pessoas pensa que este tipo de podas favorece as árvores e que são até imprescindíveis a uma boa saúde das mesmas, até porque são feitas por pessoas com muita experiência no ofício, que sempre as fizeram desde pequeninos...já assim os seus pais e os pais dos seus pais as faziam, como poderão estar erradas?
Por este motivo, quando aparece um qualquer doutor das ditas universidades, é evidente que a maioria das pessoas vai desconfiar, porque em Portugal existe este típico sentimento contraditório: por um lado a valorização social do senhor doutor mas, simultaneamente, um eterno desconfiar perante a sabedoria dos livros.
É por isso que este caso das podas camarárias é de tão difícil resolução...porque é, sobretudo, uma questão cultural: uma tradição de gerações e estas, como se sabe, não se questionam...aceitam-se.
Nota: Este não é um discurso anti-cultura popular...acreditem, eu estive numa universidade e sou licenciado, melhor que ninguém sei que não há nenhum saber que possa prescindir de outro...os diferentes saberes são sempre inacabados e complementares entre si, o que não significa que estejam necessariamente no mesmo patamar em determinada questão.
Poda em Grevílea ou carvalho-sedoso (Grevillea robusta A.Cunn.) - Moura
Existiu em tempos uma aldeia gaulesa cujos habitantes, destemidos perante o invasor romano, temiam apenas que o céu lhes caísse sobre a cabeça.
Vários séculos depois, existe um povo no Sul da Europa, cujo maior receio é que as árvores (por serem teimosas e insistirem em crescer) lhes tombem sobre as cabeças.
E é isto que me custa particularmente a compreender...num país com Verões sufocantes, a sombra benigna das árvores deveria ser um luxo a defender; a arborização das cidades e vilas deveria ser criteriosamente planeada, aumentando as zonas de ensombramento, como forma de diminuir o efeito de ilha de calor típico dos aglomerados urbanos.
Pelo contrário, as árvores são perseguidas, qual processo inquisitorial, e condenadas sem hipótese de recurso a cepos com ramos disformes, incapazes de efectuar a mais elementar das tarefas: dar sombra!
Neste caso, sobre o qual muito tenho pensado (e até tido pesadelos!), revela-se uma curiosa colisão entre dois saberes: o dito popular e o dito científico. Passo a explicar...
Existe por vezes a tentação de se considerar que estes dois saberes se excluem e são incapazes de se complementar; existem fanáticos de ambos os lados, uns que pensam que todo o saber está nas universidades e outros que pensam que o dito conhecimento popular, feito da experiência de gerações e gerações, é incorruptível e superior a qualquer coisa que se possa aprender com um livro...Resumindo: neste caso, existe uma tradição de gerações de podar desta forma as árvores e as pessoas já nem questionam o seu porquê. Aceitam-no sem discutir. Se sempre foi feito por pessoas simples e com a tal sabedoria ancestral, é porque só pode estar correcto...
E a verdade é que a maioria das pessoas pensa que este tipo de podas favorece as árvores e que são até imprescindíveis a uma boa saúde das mesmas, até porque são feitas por pessoas com muita experiência no ofício, que sempre as fizeram desde pequeninos...já assim os seus pais e os pais dos seus pais as faziam, como poderão estar erradas?
Por este motivo, quando aparece um qualquer doutor das ditas universidades, é evidente que a maioria das pessoas vai desconfiar, porque em Portugal existe este típico sentimento contraditório: por um lado a valorização social do senhor doutor mas, simultaneamente, um eterno desconfiar perante a sabedoria dos livros.
É por isso que este caso das podas camarárias é de tão difícil resolução...porque é, sobretudo, uma questão cultural: uma tradição de gerações e estas, como se sabe, não se questionam...aceitam-se.
Nota: Este não é um discurso anti-cultura popular...acreditem, eu estive numa universidade e sou licenciado, melhor que ninguém sei que não há nenhum saber que possa prescindir de outro...os diferentes saberes são sempre inacabados e complementares entre si, o que não significa que estejam necessariamente no mesmo patamar em determinada questão.
1 comentário:
Concordo plenamente e até costumo dizer que nós saímos da Universidade apenas com o equivalente á carta de condução, depois é preciso fazer km para podermos dizer que sabemos conduzir.
Mas estas fotos estão....surpreendentes; nunca pensei ao fim destes anos e depois de ver tanta desgraça, ainda me conseguir surpreender por uma acção tão...original!
Só falta mesmo... cair o céu...rsrs
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