Chamo-me Pedro Nuno Teixeira Santos; tenho 33 anos e sou português; sou licenciado em Biologia e sou professor (e tenho orgulho nisso); não sou filiado em nenhum partido político, nem em nenhuma organização sindical; não estou ligado a interesses privados de qualquer espécie; as minhas ambições políticas são nulas.
Tenho um defeito: gosto de árvores e, já agora, da minha cidade!
Escrevo esta carta aberta porque estou cansado; cansado de escrever em jornais e em blogues; cansado de um país e de um povo que não tem a sensibilidade e a inteligência para defender o que é seu, isto é, o pouco património construído e natural que ainda nos resta...pobre povo, pobre país!Estou cansado de ver crimes por punir e de ver a passividade de quem não protesta.
Escrevo em memória de uns plátanos que foram assassinados...Que não haja meias palavras: a acção perpetrada contra os plátanos da N230 na Covilhã foi um acto criminoso, cobarde, de pura maldade e para o qual, nem a incompetência nem a ignorância, servem de atenuantes.Que não haja dúvidas: não há um único motivo científico, técnico, da razão conhecida dos homens, que justifique a barbárie perpetrada contra estes plátanos...não há um único!
Poderia, mais uma vez, recorrer aos argumentos de pessoas como o Professor Dr. Jorge Paiva, o arquitecto Gonçalo Ribeiro-Telles ou do Dr. Francisco Coimbra, pessoas de competência técnica inatacável nestas questões, mas é impossível fazer ver a razão a quem se recusa a escutar e a ver (
o pior cego...)
Acaso estariam aquelas árvores doentes, em risco de tombar sobre a via pública pondo em risco vidas humanas e bens materiais? Onde estão então os relatórios técnicos que comprovem essa situação?Em lado nenhum...porque ainda que alguma das árvores em causa estivesse doente e a necessitar de uma intervenção, a Câmara Municipal da Covilhã ou qualquer das suas Juntas de Freguesia, não dispõe de técnicos habilitados para tal: nem para identificar as referidas doenças, nem para saber como proceder.
Então o que está por detrás destes actos? A conjugação de dois factores perigosos:
- o egoísmo ignóbil de pessoas que se julgam donas da via pública e que pressionam as Juntas de Freguesia e as Câmaras Municipais para podar as árvores, apenas porque estas lhes tapam as
vistas de casa; ou porque, sabe-se lá, se sentem incomodados pelas folhas que caiem, talvez pelos dejectos dos pássaros, pelo pólen, pela sombra...eu sei lá por que estupidez mesquinha! Ou porque, pura e simplesmente, têm medo que estas lhes tombem em cima…(já agora, se eu
pedir com jeitinho para fazerem uma “poda” destas na Torre de Santo António, também me fazem a vontade?)
- em segundo lugar, estas pessoas sabem que os órgãos autárquicos e os seus eleitos receiam perder um voto que seja; e as câmaras adoram passar a ideia de que zelam pela segurança das pessoas...Acresce um significativo número de funcionários que há que manter ocupados durante o Inverno.
Será necessário relembrar uma vez mais, que o interesse individual de um cidadão não se sobrepõe ao interesse colectivo e que uma das competências mais elementares das estruturas do estado, nomeadamente dos órgãos autárquicos, é a de defender o património colectivo, incluindo o património arbóreo de um concelho?
Será necessário relembrar uma vez mais, que para que uma autarquia defenda eficazmente a segurança dos seus cidadãos e dos seus bens deverá ter obrigatoriamente técnicos credenciados para tal? O que neste caso significa ter técnicos de arboricultura com a formação necessária, não bastando saber como funciona uma moto-serra ou saber podar uma macieira. Já agora, gostava de saber quais os critérios que levam à contratação deste pessoal? Não bastará já de “habilidosos”?
Eu não sei quem ordenou este acto escandaloso, se a Câmara Municipal ou alguma das suas Juntas de Freguesia, mas um crime foi perpetrado. Estou a 500 km de distância e sinto-me envergonhado com os poderes públicos da minha cidade e concelho! Faço por conter a revolta mas não é fácil...Eu tenho o senhor presidente da Câmara Municipal da Covilhã como um homem de bem, inteligente e sensível a estas questões e por isso, quero acreditar que sentirá a mesma
revolta interior se por lá passar...e passar por lá não é o mesmo que ver fotografias a 500 km de distância!
Noutro país haveria repercussões e assumir de responsabilidades mas quanto a isso já perdi a ilusão; já vão sendo 33 anos de Portugal....
Senhor presidente, de que serve gastar dinheiro dos contribuintes para fazer novos espaços verdes e plantar árvores se, por outro lado, se mutilam e matam as já existentes? Se estão de
consciência tranquila com o trabalho feito então que publicitem esta acção, chamem os órgãos de comunicação social e mostrem-lhes como tratam bem das árvores da cidade. Recolham toda a propaganda turística e façam novos folhetos recheados de fotografias destes plátanos decepados, decerto que irão impressionar
positivamente todos os possíveis turistas que queiram vir à Covilhã...
Não vou pedir, como já o fiz no passado, que a autarquia contrate técnicos credenciados na área ou que delegue esses trabalhos em empresas especializadas...vou pedir apenas que nos poupem ao sofrimento de termos que imaginar, a cada ano que passa, quais as árvores que irão ser destruídas: podem-nas todas! De uma vez por todas...as do Jardim Municipal, do Monumento a Nossa Senhora da Conceição, os plátanos de Unhais e os da Estação dos comboios e as dos Penedos Altos...acabe-se logo com todas elas e, a mim, acabem-me com este sofrimento anual! Substituam-nas por
árvores de plástico: não crescem e não gastam água!
Obrigado.