Em conversas de café com amigos costumo dizer que o que o mais me choca em Portugal não é a corrupção, a aldrabice ou a incompetência, mas o facto destas, sistematicamente, não implicarem qualquer espécie de consequência para quem as pratica.
Burlões e vigaristas, corruptos ou pessoas incompetentes existem em todos os países. O que por cá não existe é uma sociedade civil que seja intransigente na exigência do seu castigo e um sistema judicial que seja eficaz a cumprir as leis do povo. Resumindo: vivemos na mais completa das impunidades!
Vamos a um primeiro exemplo:
- Em Setembro passado, já lá vai meio ano, os Amigos da Serra da Estrela levantaram a seguinte questão: onde foram plantadas as árvores da campanha de reflorestação patrocinada pela Sociedade de Águas da Serra da Estrela? Como escrevi aqui, na altura ninguém soube (ou quis) responder a esta questão pertinente.
Passado este tempo todo pergunto eu: já alguém encontrou explicação para as árvores desaparecidas? Houve apuramento de responsabilidades? Não estaremos perante uma situação que no mínimo poderá corresponder a uma campanha que ludibriou centenas de pessoas?
E a mais importante de todas: alguma autoridade deste país deu importância a esta história e foi à procura das respostas? Pois...temos o país que merecemos!
Mais duas denúncias do Estrela no seu melhor:
- Lembram-se daquele passeio de "jipinho" em plena Reserva Biogenética? E do orgulho da jornalista do "Público"? Pois bem, faltava a cereja em cima do bolo: a Câmara Municipal da Covilhã decidiu, com dinheiro de todos os contribuintes, patrocinar esta iniciativa até porque, e como diz o nosso líder, antes das florezinhas e dos animais estão as pessoas! Somos grandes....
- Lembram-se da concentração de motas autorizada para o Covão d' Ametade? Pois bem, a imagem que acompanha este texto é apenas o aperitivo!
Situações como esta levam-ma a concluir que o Parque Natural da Serra da Estrela é uma estrutura meramente virtual. Um Parque Natural não existe apenas porque é real no papel e se depois, no dia-a-dia, se permitem todo o tipo de atropelos.
É ainda importante sublinhar a propósito desta situação que o "principal" desta história não é tratar-se de uma concentração de motas; uma pessoa não é menos amiga do ambiente por andar de mota!
O "principal" foi uma estrutura do Estado, responsável por fazer cumprir a legislação ambiental nacional e aquela a que nos comprometemos em termos da União Europeia, ter permitido a concentração de centenas de pessoas e dos seus veículos num dos espaços mais emblemáticos de um Parque Natural.
Eu sei que isto parece utópico, mas se foi apresentada queixa do Estado português em Bruxelas pela projectada destruição dos valores naturais do rio Sabor, não poderá o mesmo tipo de queixa ser apresentado com base nos repetidos e quase semanais atentados contra a conservação da natureza na Serra da Estrela? Ainda que seja só para "marcar uma posição" e chamar a atenção da "pouca-vergonha" que aqui se passa?
2 comentários:
Pedro,
nem sei o que dizer... estamos a ir pelo abismo!
Também fiz um post sobre a Tapada das Necessidades - um espaço de 10 hectares de verde, no centro de Lisboa - e que está a ser pressionado (por todos os lados!) para deixar de existir ou transformar-se num condomínio privado...
São tantas as asneiras, as impunidades e a falta de protecção pela natureza e o nosso património, que é difícil manter algum alento...
:-(
Maria,
E se é assim em Lisboa, com a "vigilância" de tantas associações e da própria comunicação social, imagina no resto do país!
Vivemos na mais completa das impunidades e é isso que está a minar a confiança das pessoas no país e nas suas instituições.
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