sexta-feira, fevereiro 08, 2008

O Sobreiro de Portugal

Sobreiro da Herdade de Pai Anes (Póvoa e Meadas) - Imagem retirada de "Árvores Monumentais de Portugal", Ernesto Goes (1984)


O engenheiro Ernesto Goes que percorreu este país, de lés-a-lés, em busca de árvores monumentais, não parece ter hesitado quando escreveu a propósito deste sobreiro (Quercus suber L.) da Herdade de Pai Anes: "Deve ser sem dúvida o sobreiro mais espectacular do país...". E depois de o contemplar é fácil acreditar nestas palavras.

E continua a sua descrição: "Se bem que anteriormente fora parcialmente descortiçado conforme descrição de Sousa Pimentel no seu livro "Árvores Giganteas de Portugal" publicado em 1894, no entanto desde há muitos anos deixou de o ser, pois presentemente dá a impressão que está todo revestido de cortiça virgem. O tronco mantém a mesma grossura (7,20 metros) e a copa idêntica dimensão (presentemente de 30 metros de diâmetro), se bem que algumas grandes pernadas já tivessem caído com o ciclone de 1941."



No passado Sábado tive, finalmente, a oportunidade de lhe prestar a devida vassalagem. E "baptizei-o" como: O Sobreiro de Portugal.


Este colosso feito sobreiro situa-se na Herdade de Pai Anes, nas imediações da povoação de Póvoa e Meadas, no concelho de Castelo de Vide (na estrada que liga esta povoação à vizinha vila de Nisa), estando classificado como árvore de interesse público desde 1993.

O desejo de visitar este monumento natural tinha já alguns anos, tendo sido recentemente avivado após ter lido um texto que alertava para o estado de conservação desta árvore classificada.
Sobreiro da Herdade de Pai Anes (Póvoa e Meadas) - na actualidade

Este desejo concretizou-se, como escrevi atrás, no passado Sábado e da melhor forma possível, ou seja, na companhia de amigos que comigo partilham o amor às árvores.

É certo que a árvore está no estado que as fotos documentam, isto é, uma das pernadas principais caiu, abrindo algumas fendas na zona de inserção no tronco. Mas acreditem que, apesar do descrito, a parte restante da árvore aparenta respirar vitalidade.

No entanto, parece-me imprescindível que seja feita, por técnicos competentes, uma análise criteriosa ao estado de saúde da mesma, como forma de garantir que este sobreiro não corre o risco de colapsar sob o seu próprio peso.

Sobreiro da Herdade de Pai Anes (Póvoa e Meadas) - na actualidade

É certo que o seu proprietário, o Sr. Manuel Carmona, que tivemos o prazer de conhecer na ocasião, já tinha alertado os serviços competentes do Ministério da Agricultura para o estado de conservação da árvore.

Mas, sem querer desculpar a inoperância destes serviços, nada nos garante que a queda da referida pernada fosse um processo evitável. Pelo contrário, a perda de uma pernada mais frágil e doente, poderá mesmo garantir uma maior longevidade da restante parte da árvore. Resta apenas garantir, tal como escrevi atrás, que as pernadas restantes suportam o peso da copa; podendo para tal ser necessário recorrer a estruturas metálicas de suporte, tal como no caso do afamado plátano classificado de Portalegre.

Pelo que referi anteriormente, parece-me evidente que os serviços florestais não podem "abandonar" as árvores e os seus proprietários, após o processo de classificação. O Estado não se pode furtar ao seu papel de auxiliar, pelo menos de um ponto de vista técnico, as pessoas que aceitam a classificação de uma parte dos que lhes pertence.
Afinal de contas, estamos perante património de todos que compete ao Estado ajudar a salvaguardar. É que casos como este, podem levar outras pessoas a descrer dos benefícios de propor para classificação árvores que se situem nas suas propriedades.



Sobreiro da Herdade de Pai Anes (Póvoa e Meadas) - na actualidade

No presente caso, temos ainda que agradecer ao Sr. Manuel Carmona a paciência perante este desinteresse do Estado e o seu empenho no cumprimento da lei. É que outras pessoas, menos sensíveis para a causa da preservação das árvores, já teriam intervido (ainda que com a melhor das intenções), causando danos irreparáveis à árvore.



Sobreiro da Herdade de Pai Anes (Póvoa e Meadas) - na actualidade

Esta árvore é um monumento em si. Até a sua decadência é um processo que encerra alguma grandiosidade... Estamos a falar de uma árvore multissecular que, apesar do descrito, aparenta ter ainda a força e a vontade para impressionar as gerações futuras.

É necessário encarar estes processos, como a queda da referida pernada, com uma certa naturalidade, pois trata-se da inevitabilidade do tempo... O que me choca não é a morte natural de uma árvore, mas antes a estupidez humana que acelera em muito este processo.

No entanto, sendo inegável que este sobreiro entrou num processo de decadência, continua a ser uma árvore que respira vida e nenhum dos presentes duvidou que ela poderá continuar a maravilhar os amantes das árvores monumentais, muitos anos após a nossa partida deste mundo. Assim se garanta, por quem de direito, que a mesma dispõe de condições de sustentabilidade.

Sobreiro da Herdade de Pai Anes (Póvoa e Meadas) - na actualidade

Não digam que já viram uma árvore até terem visto esta! Se já aqui defendi que o sobreiro deveria ser consagrado como a nossa árvore nacional, este magnífico exemplar deveria ser aclamado como O Sobreiro de Portugal.

Sobreiro da Herdade de Pai Anes (Póvoa e Meadas) - na actualidade

5 comentários:

Anónimo disse...

Quantas toneladas nao pesará? Cabe dizer que não pode suportar o proprio peso, e sem ajuda...estava magnifico um seculo atraz, se entendi bem.
um abraço

ljma disse...

Impressionante!

Anónimo disse...

Espantosa esta árvore!
As "minhas" velhas árvores são crianças ao pé desta...
Boa semana

Paúl dos Patudos disse...

Que magnificas são e tão imponentes!
Assim vale apena descansar o olhar.Estas são ÁRVORES :))))
Obrigado Pedro
Abraço
Ana Paula

Anónimo disse...

Infelizmente o Sobreiro já morreu, e foi cortado, gerando qualquer coisa como 86 toneladas de madeira.