Amendoeiras [Prunus dulcis (Mill.) D. A. Webb]
A espessura da árvore
é branca
A casa repercute
os favos de silêncio
Ouço a medula da madeira
o pudor do silêncio jovem
O sangue circula sem bandeiras
ri na brancura
do corpo
Um rosto sob a cabeleira
rompe
no ardor do instante
em relâmpagos de ternura
Todas as hastes livres nascem
do quadrado aberto
sobre o rio
A palavra é um rosto que deixa ver o branco
do seu tremor
Do branco ao negro o branco
fogo
de uma árvore que estala em cada mão
O tronco antigo
é a casa nova
nos seus ramos vivos
Não uma escrita invulgar mas como as ervas
pobres. Como as pedras.
Tu poderás captar o esplendor
chamar-lhe-ás suave sob um sono de árvores.
Caminharás entre as plantas. Sentirás a sua sede
e o olhar abrir-se-á no escuro fresco.
Ninguém te dirá que não te perdes na
densa água negra. Ou no branco papel.
Nunca apagarás o desejo. Nem
desistirás de procurar o lugar
ainda que lhe chames ausência.
Procura e não procures. Não existe um centro
mas a clareira por vezes
de súbito retém-nos.
António Ramos Rosa
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