(continuação...)
Estou-me a lembrar do início do Manhattan do Woody Allen, em que a personagem que ele próprio desempenha tenta encontrar a melhor forma de começar um livro. Também eu estou para aqui às voltas com o meu cérebro, quase a desesperar, por não saber como começar a escrever este texto. (Bem, ainda que involuntariamente, acho que este parágrafo inicial acabou por funcionar como o meu "desbloqueador de escrita".)
Como é que se descreve uma árvore? Como é que se explica uma paixão? Como é que se explica uma beleza que comove?!
Como é que se descreve uma árvore? Como é que se explica uma paixão? Como é que se explica uma beleza que comove?!
Eu diria que a melhor maneira de compreender a grandiosidade desta árvore é sentindo o peso da sua sombra. Sob a sua imensa copa a sensação de frescura é tal que temos a sensação que toda a canícula é suportável.
Sob a sua copa, qualquer coisa de grandioso nos obriga ao silêncio; e, em simultâneo, uma vontade de transgredir, de gritar, de jogar à bola na imensidão da sua sombra.
Vou cometer a ousadia de pegar em palavras do Torga que um dia falou de um excesso de natureza. Neste caso, atrever-me-ia a dizer que esta azinheira não é uma árvore, é um excesso de árvore! Assim é a azinheira grande...
Mas vamos a coisas práticas:
Como chegar?
Esta azinheira (Quercus rotundifolia Lam.) situa-se na Herdade do Monte Barbeiro, a cerca de 3 km da localidade de Corte Pequena (que tanto quanto consegui apurar se situa no concelho de Mértola).
A localidade de Corte Pequena fica à beira da M509, acessível a partir da N123 (Castro Verde-Alcaria Ruiva) ou da N122 (Beja-Mértola) - ver mapa no ViaMichelin.
As medidas da azinheira:
Altura = 9 m
Perímetro à altura do peito = 3,91 m
Maior diâmetro da copa = 24,65 m
Claro que existem azinheiras no sul do país com medidas idênticas ou até superiores às deste exemplar (caso da azinheira classificada de S. Brás de Alportel ou de um exemplar existente em Benafim, no concelho de Loulé). Mas esta azinheira grande da Herdade de Monte Barbeiro é um caso à parte.
Acreditem, há árvores que, tal como certas pessoas, têm uma personalidade que cativa e enfeitiça. Esta azinheira não é a mais antiga, a mais alta ou a mais grossa. Ela é para mim, simplesmente, a azinheira mais bonita do mundo!
Acreditem, há árvores que, tal como certas pessoas, têm uma personalidade que cativa e enfeitiça. Esta azinheira não é a mais antiga, a mais alta ou a mais grossa. Ela é para mim, simplesmente, a azinheira mais bonita do mundo!
P. S. - Podem espreitá-la dos céus no WikiMapia. No próximo fim-de-semana prometo publicar mais fotografias (já a pensar no próximo Festival of the trees).
10 comentários:
"O peso da sombra"! Caramba!
Parabéns pelo post (e obrigado)!
José,
Obrigado...mas há que retirar os "excessos poéticos" ao meu texto!Isto é, a árvore é grandiosa e merecia estar classificada; mas acho que foi todo o processo da sua descoberta que me fez gostar ainda mais dela...ou seja, foi a nossa "caçada" mais difícil até à data.
Já depois de teres posto este comentário, fiz algumas alterações ao texto, incluindo a inclusão de uma ligação para uma mega-mega-azinheira mas que, provavelmente, já não existirá.
Pedro, que aventura! A azinheira é espantosa. Aqui está uma grande reportagem. Obrigado por partilhares connosco esta descoberta, com todos os detalhes e coordenadas. Aguardamos os próximos episódios.
Um abraço.
Caramba!
O suspense do último post fez-me imaginar as imagens que podias mostrar da senhora árvore. Esperava uma à sombra da azinheira (que já não sabia a idade) por isso adorei particularmente essa. No calor das planícies Aletejanas estas sombras são verdadeiros Oasis.
Parabéns
Pedro,
linda e majestosa!
Valeu a espera... Impressionou e, tenho a certeza que, ao vivo mais ainda!
Só espero que se mantenha viva e saudável por muitos, muitos e muitos anos!
E daqui a 100 anos, o teu blogue/post servirá de estudo e ilustração nas escolas portuguesas do futuro, tal como funciona agora de memória/pesquisa e ferramenta, a muitas pessoas, o livro de Ernesto Goes.
Parabéns pela descoberta e obrigado pela partilha.
:-)
É impressionante com o tronco principal aparenta ser pequeno para segurar os grossos troncos horizontais!!Estes troncos horizontais parecem desafiar as leis da gravidade!!Como é possivel??Surpreendente
Obrigado pelos vossos comentários e elogios que são também para quem me acompanhou e deu alento nesta "descobert": uma palavra especial para o "caçador de árvores" Miguel Rodrigues de quem é a máquina fotográfica e a autoria de algumas das fotos destes textos...e neste caso também ao Hugo, cujo telemóvel com GPS nos permitiu determinar com exactidão as coordenadas da árvore.
Este obrigado também tem que ser para quem primeiro divulgou esta árvore, nomeadamente o "Dias com árvores" que lançou o rastilho...
Apenas mais uma coisa a propósito das palavras tão simpáticas da Maria Lua; o trabalho do Ernesto Goes foi fabuloso...nós vamos acrescentando pequenos grãos de areia, mas o seu trabalho de catalogação das árvores monumentais de Portugal é (quase) insuperável...quem me dera conhecer um terço do que ele viu :)
Não sei se daqui a 100 anos haverá "blogosfera" mas, enquanto existir "a sombra verde", pretendo continuar com o meu principal objectivo: transmitir o meu amor às árvores a todos os que lêem o blogue...como no passado, pessoas como o Professor Jorge Paiva, me ensinaram!
Com alguns erros e muitas dúvidas pelo meio, esse é o meu principal objectivo...
Os vossos comentários fizeram-me sentir recompensado pelo esforço e fizeram valer a pena esta partilha. até já.
Tenho de ver esta senhora ao vivo. Agora em Outubro que vou ter uns dias livres, não escapa... Obrigado pela informação, foi um (duplo) belo post!
Pedro, a azinheira impressionou-me, mas muito mais a sua descrição e o sentimento que expressa.
É uma felicidade dar-nos a possibilidade de conhecermos árvores como esta. O seu esforço valeu para si mas também para quem o visita, como eu.
UAU! (É um comentário foleiro, mas apeteceu-me tanto!) Está na minha 'wish list' de visitas!
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