As folhas dos plátanos
desprendem-se e lançam-se na aventura do espaço,
e os olhos de uma pobre criatura
comovidos as seguem.
São belas as folhas dos plátanos
São belas as folhas dos plátanos
quando caem, nas tardes de Novembro
contra o fundo de um céu desgrenhado e sangrento.
Ondulam como os braços da preguiça
no indolente bocejo.
Sobem e descem, baloiçam-se e repousam,
traçam erres e esses, ciclóides e volutas,
no espaço escrevem com o pecíolo breve,
numa caligrafia requintada, o nome que se pensa,
e seguem e regressam,
dedilhando em compassos sonolentos
a música outonal do entardecer.
São belas as folhas dos plátanos espalhadas no chão.
Eram lisas e verdes no apogeu
da sua juventude em clorofila,
mas agora, no outono de si mesmas,
o velho citoplasma, queimado e exausto pela luz do Sol,
deixou-se trespassar por afiados ácidos.
A verde clorofila, perdido o seu magnésio,
vestiu-se de burel,
de um tom que não é cor,
nem se sabe dizer que nome tenha,
a não ser o seu próprio,
folha seca de plátano.
A secura do Sol causticou-a de rugas,
contra o fundo de um céu desgrenhado e sangrento.
Ondulam como os braços da preguiça
no indolente bocejo.
Sobem e descem, baloiçam-se e repousam,
traçam erres e esses, ciclóides e volutas,
no espaço escrevem com o pecíolo breve,
numa caligrafia requintada, o nome que se pensa,
e seguem e regressam,
dedilhando em compassos sonolentos
a música outonal do entardecer.
São belas as folhas dos plátanos espalhadas no chão.
Eram lisas e verdes no apogeu
da sua juventude em clorofila,
mas agora, no outono de si mesmas,
o velho citoplasma, queimado e exausto pela luz do Sol,
deixou-se trespassar por afiados ácidos.
A verde clorofila, perdido o seu magnésio,
vestiu-se de burel,
de um tom que não é cor,
nem se sabe dizer que nome tenha,
a não ser o seu próprio,
folha seca de plátano.
A secura do Sol causticou-a de rugas,
um castanho mais denso acentuou-lhe os nervos,
e esta real e pobre criatura
vendo o solo coberto de folhas outonais
medita no malogro das coisas que a rodeiam:
dá-lhes o tom a ausência de magnésio;
os olhos, a beleza.
e esta real e pobre criatura
vendo o solo coberto de folhas outonais
medita no malogro das coisas que a rodeiam:
dá-lhes o tom a ausência de magnésio;
os olhos, a beleza.
António Gedeão
(poema retirado do blogue Botânica nas Ilhas)
P.S. - Na imagem que acompanha o poema, o espectacular plátano (Platanus orientalis L. var. acerifolia Aiton) de Portalegre, classificado como árvore de interesse público desde 1939.
7 comentários:
olá!! Mais uma terra, mais uma árvore. Esta deve conhecer, é na vila de Gonçalo, aí perto. AInda nao a vi ao vivo, mas já me falaram dela: http://goncalocultural.blogspot.com/2006/11/fotos-de-gonalo_29.html
Para um plátano monumental só um poema de A. Gedeão. Ficam muito bem juntos.
Bom fim de semana
Artemísia,
Conheço Gonçalo, claro, mas desconhecia por completo este carvalho (que suponho ser "negral"). Vou tentar descobri-lo da próxima vez que for à Covilhã.
Vou publicar a foto na próxima Terça. Obrigado.
Olá Júlia,
Ficam mesmo muito bem um com o outro...(Não me "canso" deste plátano!)
Bom fim-de-semana e bons passeios.
Lindos os dois, o plátano e o poema.
Abraço
Fique bem
Ana Paula
Ana Paula,
Obrigado pelo comentário.
Boa semana.
Desapareceu do éter uns comentários quer aqui queria deixar.
Foram escritos ao sabor do pensamento.
Só queria deixar os meus parabéns pelo reportório de temaS EXCELENTES e de nos obrigar a pensar e ACTUAR rapidamente.
Já agora vamos nós plantar árvores nas auto-estradas, por exemplo? Numa acção relâmpago?!...
Amigo António,
Isso sim, seria uma REVOLUÇÃO: plantar árvores!
Vamos todos nós plantar uma árvore, e apenas uma, onde tenha espaço para crescer frondosa e sem necessidade de podas mutiladoras.
No entanto, antes dessa "subversão verde" de plantar mais árvores, faz-nos falta outra...Saber cuidar e respeitar as árvores que já temos plantadas nas nossas cidades.
Plantar árvores faz muita falta, mas talvez não tanta como saber cuidar das que temos nas nossas vilas e cidades.
Vamos continuar a lutar e a denunciar a falta de profissionalismo no tratamento da árvore ornamental em Portugal. Rendição? Nunca! Desânimo? Nunca!
Um forte abraço e boa semana.
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