Hoje debruço-me sobre as diferenças existentes ao nível das bolotas entre 3 tipos de carvalhos de folha caduca*, comuns na área do Parque Natural da Serra da Estrela: o carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.), o carvalho-alvarinho ou roble (Quercus robur L.) e o carvalho-americano** (Quercus rubra L.).
** existe no nosso país mais do que uma espécie do género Quercus com origem na América do Norte. Por este motivo, embora vulgarmente a designação de carvalho-americano se refira à espécie Quercus rubra, em determinados casos ela é atribuída a outras espécies de carvalhos procedentes da América do Norte.
Bolota de carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.) - em fase de maturação
* numa disposição semelhante às das telhas num telhado.
Bolota de carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.) - madura
Bolota de carvalho-alvarinho (Quercus robur L.)
As bolotas de carvalho-alvarinho (Quercus robur L.) possuem um tamanho médio que ronda os 2 a 4 cm de comprimento e 0,8 a 1,8 cm de largura; a respectiva cúpula apresenta escamas imbricadas e soldadas entre si, sendo algumas planas e outras apresentando uma ligeira saliência.
Na árvore, as bolotas de carvalho-alvarinho são muito fáceis de distinguir relativamente às bolotas de carvalho-negral, devido à existência de um pequeno pedúnculo delgado que pode possuir ligado a si até 3 bolotas (esse pedúnculo é parcialmente visível na imagem anterior).
Bolotas de carvalho-americano (Quercus rubra L.)
As bolotas de carvalho-americano (Quercus rubra L.) possuem 2 a 3 cm de comprimento, com uma forma arredondada na base (possuem uma forma aproximadamente semelhante a um barril); a cúpula auxilia na respectiva identificação, uma vez que tem um aspecto comprimido (aproximadamente semelhante a um disco).
Bolotas de carvalho-americano (Quercus rubra L.)
Resumindo: a identificação das bolotas não é fácil, sobretudo porque parte das características que as permite distinguir se situa na respectiva cúpula; a qual pode estar separada do fruto propriamente dito, quando formos proceder à sua recolha nas florestas. Este facto dificulta bastante (ou torna quase impossível) a respectiva distinção quanto à espécie de procedência.
Deste modo, se o leitor pretende recolher exclusivamente bolotas de carvalho-negral para a campanha "Um Milhão de Carvalhos para a Serra da Estrela", evite as zonas onde estes carvalhos (em especial o negral e o alvarinho) convivem na mesma área (exemplos: encosta da Covilhã, vertente norte da Serra da Gardunha e boa parte dos territórios dos concelhos de Seia e Gouveia abaixo dos 1 000 metros de altitude); prefira as zonas de domínio (quase) exclusivo do carvalho-negral (muitas das quais se situam em redor da A23, nomeadamente entre os nós de Covilhã Norte e Caria e em redor da área de serviço da Guarda).
Por último, evite propagar o carvalho-americano pois é uma espécie exótica que pode vir, no futuro, a assumir características invasoras.
14 comentários:
Pedro, obrigado pelas dicas. São mais uma grande ajuda para quem, como eu, tem dificuldades em distinguir os vários tipos de carvalhos.
Ups, acho que já tenho uma ou outra bolta de Alvarinho no saco!!eheh!
Obrigado pelas dicas pedro!
Abraço
Paulo,
As maiores dificuldades poderão surgir apenas no caso dos híbridos que se podem formar, nomeadamente entre o negral e o alvarinho ou entre a azinheira e o sobreiro. De resto, com um pouco de treino, estas espécies são fáceis de distinguir.
Outras espécies com mais semelhanças são o cerquinho e o carvalho-de-monchique (embora este só cresça em zonas muito restritas da serra que lhe dá o nome).
Já entre os carvalhos da América do Norte por vezes é necessário algum cuidado para distinguir o Quercus palustris do Quercus coccinea; mas o Q. rubra é o mais comum.
A Serra de Sintra é um paraíso natural e lá se podem encontrar todos os carvalhos autóctones de Portugal (com excepção do de Monchique): alvarinho, negral, cerquinho, azinheira, sobreiro e ainda os carvalhos arbustivos: carrasco e carvalhiça. Infelizmente, a Serra de Sintra está hoje em grande parte invadida por acácias e pitósporos.
Abraço
Tiago,
Não há grande problema...o alvarinho também é autóctone na Estrela; o alvarinho, no nosso país e de forma natural, não cresce acima dos 1000 m de altitude; deste modo, se for plantado acima dessa altitude, pode até sobreviver mas nunca assumirá um grande porte ou se tornará uma "ameaça" ao domínio do negral.
Já em relação ao carvalho-americano é preciso mais cuidado pois para além de ser uma espécie introduzida, pode vir a tornar-se invasor. Mas as bolotas deste carvalho são um pouco diferentes das dos carvalhos autóctones.
Abraço
Pedro, não venho comentar sobre os carvalhos, porque por aqui praticamente só há azinheiras e alguns sobreiros. Só mais a Norte, na Serra de S. Mamede, é que eles existem.
É sobre o problema das invasoras. Tenho observado que uma árvore muito frequente nos parques e jardins é a "Koelreuteria paniculata Laxm.", designada por Árvore da Chuva Dourada pelos viveiros do ISA de Castelo Branco. Ora, esta espécie produz grande quantidade de sementes que podem ser levadas pelo vento a alguma distância. Observei que, na proximidade destas árvores, começam a aparecer árvores jovens em quantidade razoável. Esta espécie não consta na lista de invasoras a que nos remeteu num dos últimos postes.
Tem alguma informação sobre isto?
Cumprimentos
Concordo que deve evitar introduzir-se em ambiente natural (ou que quer reproduzir, tanto quanto possível, as condições naturais de uma região) uma árvore que não faça parte da flora autóctone. Eu próprio fico irritado quando encontro, em carvalhais nossos que são uma herança de tempos remotos, carvalhos americanos plantados pelos ignorantes (ir)responsáveis por esses espaços. Mas acho que é só essa a razão que deve ser invocada: se formos plantá-los na Serra da Estrela, não ficamos com uma floresta representativa da flora local. De resto, do ponto de vista ecológico, não acho que os carvalhos americanos representem ou possam vir a representar qualquer ameaça. Dado o seu parentesco com os carvalhos nacionais, é de crer que fornecessem alimento à mesma fauna e não inibissem a restante flora autóctone. Uma "invasão" de carvalhos americanos seria infinitamente preferível às invasões de acácias ou de eucaliptos que temos que aguentar. Para além disso, não me consta que alguma espécie de carvalho tenha alguma vez sido declarada invasora em qualquer um dos muitos locais do planeta onde eles foram introduzidos. O carvalho americano ainda teria mais dificuldade em expandir-se do que os nossos carvalhos, pois só as árvores já adultas produzem bolotas, e cada um delas leva dois anos a amadurecer. A haver germinação de bolotas (e alguma haverá sempre), ela acontece em pequena escala e é de fácil controle.
Obrigado, Pedro, por mais este esclarecimento.
Um abraço.
Júlia,
Tanto quanto tenho conhecimento a espécie Koelreuteria paniculata Laxm. não consta das espécies consideradas como invasoras (ver DL 565/99) nem desta lista mais recente de espécies potencialmente invasoras.
No entanto, aconselhava-a vivamente a entrar em contacto com a Drª Hélia Marchante do Projecto "Plantas Invasoras em Portugal"; é uma pessoa bastante acessível que lhe poderá dar outro tipo de informações e que poderá também estar interessada nesse tipo de informações sobre a referida espécie; segue o e-mail: invader@ci.uc.pt
Paulo,
Concordo contigo...a 99,9% para não dizer a 100% !
Isto é, os Quercus possuem um conjunto de características que dificultam o assumir de características invasoras: produzem um reduzido número de sementes (quando comparadas com outras espécies) e estas têm uma capacidade de germinação muito reduzida em termos temporais. Se é certo que alguns animais (como os gaios ou os esquilos) as ajudam a propagar, a verdade é que ao não serem sementes que se propaguem pelo vento acabam por também, nesse aspecto, estarem limitadas.
Acrescem depois outros factores específicos como no caso do Q. rubra. Concordo até que é uma espécie com potencial ornamental e mesmo florestal (nesse aspecto não sou fundamentalista); concordo plenamente é que dentro de uma Área Protegida, criada para defender os valores naturais do nosso país, não fará grande sentido plantar espécies alóctones. Veja-se o caso da mata de Albergaria no Gerês...em vez de se ajudar na preservação daquele carvalhal único de Q. robur, os serviços florestais andaram durante anos mais entretidos e empenhados a introduzir faias ou ciprestes-de-Lawson, para dar alguns exemplos.
Embora no caso do carvalho-americano até possa admitir que o impacto sobre a flora herbácea e arbustiva autóctone possa ser mínimo; aliás o castanheiro, por exemplo, tem um sub-bosque quase idêntico em composição ao carvalho-negral.
E de facto, dado o problema gigantesco que temos com as acácias, a começar pelo Gerês, apetece dizer que todos os nosso problemas com espécies exóticas se resumissem à questão dos carvalhos-americanos.
No entanto, nesta questão temos que jogar sempre "à defensiva"; as condições ecológicas podem sempre ser alteradas e favorecer dramaticamente uma espécie em relação a outras, criando desequilíbrios difíceis de corrigir; por exemplo, na Serra da Estrela, o "insuspeito" Acer negundo e algumas coníferas exóticas parecem estar a propagar-se e são casos que, tanto quanto sei, estão a ser seguidos.
Mas claro, são situações pontuais,fácilmente controláveis quando comparadas com a questão das acácias e outras.
Só lamento que não se tenha dado continuidade a um congresso que se realizou sobre invasoras, precisamente no Gerês, há cerca de 6/7 anos e onde se debateram muitas destas questões.
Um abraço
excelentes dicas, abraço
Em relação ao congresso sobre invasoras que decorreu no Gerês, e de que falei no meu último comentário, tive entretanto a informação de que teve pelo menos mais uma edição, embora sem a mesma divulgação.
Estou encantada com tantos conhecimentos!
Olá Pedro, eu sou do Brasil e gostei do seu blog. tenho 15 anos e estou em busac de mudas e sementes de carvalho para plantar aqui no Brasil. O lugar onde eu moro tem 4 estações anuiais bem definidas. Verão quente e úmido, outono ameno, inverno bem frio e seco(ás vezes cai neve) e primavera amena. Eu gostaria de saber se você está interessado em trocar algumas sementes comigo, eu te envio por correspondência e vc também me envia. Creio que demore 1 mês a chegar até portugal, mas não custa tentar. Vou deixar meu e-mail, e gostaria que escrevesse para trocarmos experiências, Posso te mandar sementes de arucária, cedro, jabuticabeira. etc...
Agradeço a atenção, espero que me escreva. meu e-mail: manoaurelio.r@hotmail.com
Muito obrigado,
MARCO AURÉLIO ROCKENBACH
Olá boa tarde! Estive a ler o seu artigo e as bolotas que descreve não são as que eu tenho...a s bolotas que tenho não têm cúpulas e são compridinhas e pouco largas! qual espécie poderá ser??
se quiser que lhe mande uma fotografia da bolota comunique-se comigo através do meu email: rosaloa@sapo.pt
Muito obrigado pelo esclarecimento, sempre pensei que a bolota viesse exclusivamente do carvalho!
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