Nas paisagens asturianas, no que respeita a árvores, o que mais me surpreendeu foi a profusão de azinheiras, em particular em vales abrigados (por exemplo: vale do rio Somiedo nas imediações da povoação de Pola de Somiedo) - ler mais aqui.
Habituados que estamos a associar a azinheira a terras mais meridionais, tendemos a esquecer que os limites bioclimáticos não são fixos e variam ao longo do tempo. A este propósito convém ler o que Jorge Capelo e Filipe Catry escreveram no volume 3 da colecção "Árvores e Florestas de Portugal": "...a azinheira atinge actualmente a Cordilheira Cantábrica em vales abrigados (...) sob clima temperado. Terá chegado a tais territórios tão setentrionais em fases climáticas de características mediterrânicas acentuadas, generalizadas em toda a Península Ibérica".
Azinheiras no vale do rio Somiedo
No entanto, a observação das folhas destas azinheiras asturianas, bem como de outras características, põe em evidência a questão que resumi no título deste texto: será que existe apenas uma espécie de azinheira, com duas subespécies ou, pelo contrário, poderemos distinguir duas espécies? Esta é uma questão que tem dividido e continua a dividir os botânicos.
Para alguns botânicos existe apenas uma espécie de azinheira: Quercus ilex L.; esta espécie teria duas subespécies: Quercus ilex subsp. ilex e Quercus ilex subsp. rotundifolia (o mesmo que Quercus ilex subsp. ballota).
(Nota: decidi suprimir o nome dos autores para evitar tornar esta explicação ainda menos perceptível.)
No entanto, mais recentemente, parece crescer o consenso quanto à existência de duas espécies distintas:
- Quercus rotundifolia Lam. - esta será a azinheira espontânea em Portugal, na maioria do território espanhol e no Norte de África. Possui folhas elípticas ou arredondadas, podendo as margens das mesmas ser inteiras ou apresentar dentes espinhosos.
- Quercus ilex L. - esta será a azinheira que cresce na Cordilheira Cantábrica e desde o Sul de França até ao Mediterrâneo oriental. Possui folhas oblongo-lanceoladas (semelhantes às folhas de loureiro).
Acresce que a distinção entre estas duas espécies (ou subespécies) é particularmente difícil em zonas de transição e contacto geográfico, dada a facilidade com que se observam exemplares com características intermédias.
Folhas de azinheira - Somiedo (Astúrias, Espanha)
2 comentários:
Há os separatistas e os federalistas. Eu vario conforme o dia e hoje sinto-me federalista! Penso serem ainda a mesma espécie, apesar de populações bastantes diferenciadas. Mas apenas porque me apetece! Que são árvores muito diferentes são. Mas espécies diferentes? Hoje acho que não.
Rui,
Os que defendem a existência de duas espécies argumentam com a existência de diferenças significativas ao nível do respectivo ADN.
Restará é "quantificar" estas diferenças, ou seja, a partir de que "limite" (no que concerne a diferenças) se passa a considerar a existência de espécies distintas; e não apenas em relação às azinheiras mas a qualquer outra espécie vegetal.
É que, como deves saber, esta questão da utilização do ADN para questões de sistemática é uma das maiores polémicas surgidas nos últimos anos na botânica. Se nos centrarmos na visão clássica, ou seja, que valoriza as características morfológicas dos órgãos reprodutores das plantas, provavelmente não existirão argumentos que justifiquem a existência de duas espécies.
Visões!...
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