sexta-feira, setembro 29, 2006

Carvalhos no Algarve

O carvalho-de-monchique (Quercus canariensis Willd.) é uma espécie que deve o seu nome comum ao facto de, no nosso país, crescer de forma espontânea apenas nesta serra algarvia. Por este motivo, dada a sua restrita distribuição geográfica, seria sempre uma espécie ameaçada, mas este facto tem vindo a agravar-se dramaticamente com a eucaliptização de Monchique e os subsequentes incêndios de grandes proporções! E claro que, após as chamas, temos logo as nossas "amigas" australianas, como as mimosas (Acacia dealbata Link) e as austrálias (Acacia melanoxylon R. Br. ex Ait. f.) que ocupam hectares e hectares de terreno, impedindo a regeneração natural da paisagem com espécies autóctones. Neste particular, a Serra de Monchique é a zona do Algarve com maiores problemas com este género de infestantes australianas.

Mas voltemos aos carvalhos-de-monchique...esta árvore possui folhas marcescentes, o que representa uma espécie de estado intermédio entre as espécies de folha caduca e as de folha persistente. Dito de outra maneira, nas espécies marcescentes, como no carvalho-de-monchique e no carvalho-cerquinho (Quercus faginea L.), a renovação das folhas ao longo da estação fria é tão lenta que, quando chega a Primavera, algumas das folhas do ano anterior ainda não caíram da árvore.

Folhas do carvalho-de-monchique


Este exemplar, em concreto, situa-se na estrada de Monchique para Alferce (N267), a escassos quilómetros de Monchique, mesmo à beira da estrada (do lado direito no sentido Monchique-Alferce). Está classificada como árvore de interesse público desde 1993.
Trata-se de um exemplar notável, com mais de 20 m de altura e aproximadamente 3, 6 m de P.A.P.



Carvalho-de-monchique na N267


Na encosta acima deste exemplar situa-se um sobreiral, onde também podemos observar medronheiros, castanheiros e vários rebentamentos de carvalho-de-monchique.



Rebentamento de carvalho-de-monchique

Nesta mata de espécies maioritariamente autóctones, que ainda sobrevive ao cerco dos eucaliptos, encontrámos ainda um sobreiro de dimensões generosas, com cerca de 4, 28 m de P.A.P. (nota: medido antes da 1ª ramificação a 1,1 m de altura do solo).


Sobreiro com mais de 4 m de perímetro do tronco (a 1,1 m do solo)


Infelizmente, no Algarve e em Monchique, em particular, ninguém parece muito preocupado com a sorte do carvalho-de-monchique, desconhecendo que a mesma seja utilizada em projectos de reflorestação ou como árvore ornamental.

5 comentários:

Anónimo disse...

Eis um candidato, portanto, ao infantário de árvores... Será muito mau tentar espalhar a árvore pelo resto do país? Ou será um atentado ecológico? (claro que deveria, em primeiro lugar, repovoar o seu local de origem...)

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Caro Manuel:

Sem dúvida que voltarei a Monchique daqui a uns dias, quando as bolotas estiverem maduras, para tentar apanhar algumas e ver nascer alguns carvalhos na minha varanda algarvia...

Em segundo lugar, em relação às árvores autóctones lusas (pelo menos as da parte continental), dificilmente alguma delas se poderia tornar infestante se plantada noutra zona do país...o carvalho-de-monchique até se poderia adaptar bem a zonas onde o carvalho-cerqinho é dominante, uma vez que são ambas espécies de transição entre, digamos assim, zonas de domínio atlântico e zonas de domínio mediterrânico.

Mas, de facto, o ideal seria garantir a sua subsistência em Monchique e não estar a difundi-la artificialmente pelo resto do país...embora se devesse plantar abundantemente como ornamental! Agora se pensarmos na lista de árvores que encontramos no nosso país, que consideramos como "nossas", mas que no fundo foram sendo introduzidas ao longo dos séculos: castanheiros, nogueiras, nespereiras, amendoeiras,laranjeiras, etc., não haverá razões que nos impeçam de plantar um carvalho no jardim!

Por isso, e para concluir, podemos ficar de consciência tranquila que não estaremos a fazer nenhum crime ecológico, se plantarmos alguns carvalhos-de-monchique fora do algarve...

a d´almeida nunes disse...

Caro amigo
relativamente ao carvalho de Reguengo do Fetal com 1.000 ou mais anos(?) vou comparar as folhas com estas. Mas parece-me que são menos recortadas.
Estaremos na presença do típico carvalho português.
Um abraço
A Nunes

Anónimo disse...

Realmente gosto do design gráfico e de navegação do site, fácil sobre os olhos e bom conteúdo. outros sites são apenas demasiado transbordando com propagandas

Unknown disse...

Boa noite,

Há algum tempo que procuro este carvalho mas não consigo encontrar nenhum local de venda (jovens plantas e/ou bolotas).

Como gostava de o juntar à colecção de carvalhos que tenho o privilégio de ter (Q. robur, Q. pyrenaica, Q. faginea, Q. suber, Q. ilex, Q. coccifera e alguns estrangeiros... Q. petraea Q. coccinea, Q.rubra.), gostaria de saber se me pode indicar onde adquirir árvores jovens ou bolotas de Q. canariensis.

Desde já, muito grato pela atenção