Comigo andou o Miguel Rodrigues, o Luís Baiona (antigo colega e natural de Monchique) e ainda o senhor Mário Duarte (autor do magnífico O Parente da Refóias) e o seu compadre Joaquim Assunção (tirador de cortiça e grande conhecedor de todos os recantos da serra).
Foi uma proveitosa tarde de convívio e de descoberta de alguns recantos menos visitados da Serra de Monchique, sendo que para nós a colaboração dos senhores Mário Duarte e Joaquim Assunção foi indispensável para a descoberta de algumas árvores que ambicionávamos conhecer e fotografar.
Infelizmente, sabíamos que algumas destas árvores tinham sido atingidas pelos grandes incêndios dos últimos anos, em concreto os que ocorreram em 2003. Tal foi o caso do sobreiro (Quercus suber L.) do Barranco dos Pisões*, classificado em Maio de 2002 e que, pouco mais de um ano depois, viria a sofrer as dramáticas consequências da passagem das chamas (podem ver aqui uma imagem tirada um ano após o incêndio pelos amigos do Dias com Árvores).
Como podem constatar pelas imagens que se seguem, este magnífico sobreiro (com um perímetro de tronco que ronda os quatro metros e meio), apesar de ter sobrevivido à passagem do incêndio, encontra-se num avançado estado de degradação e receio que não resista mais do que alguns escassos anos. É uma coisa que dói e que, simultaneamente, nos comove ao observar-se a forma algo desesperada como este gigante de 200 anos ainda se agarra à vida...
Um gigante que, como nos contou o compadre Joaquim Assunção, chegou a dar 50 arrobas de cortiça!
Sobreiro (Quercus suber L.) - Barranco dos Pisões
Sobreiro (Quercus suber L.) - Barranco dos Pisões
Sobreiro (Quercus suber L.) - Barranco dos Pisões
Apesar do descrito, este sobreiro do Barranco dos Pisões consta ainda da lista das árvores classificadas do nosso país. Por último, e como nota de esperança, ao medirmos e fotografarmos esta árvore, acabámos por descobrir ao longe um outro sobreiro de grandes dimensões, o que nos encheu a alma de esperança de que, apesar de tudo, ainda subsistem outros gigantes que sobreviveram incólumes ao inferno das chamas.
No entanto, tal não foi o caso deste outro sobreiro situado no Lugar da Maia, retratado nas duas fotografias que se seguem. Apesar de ter sido menos atingido pelas chamas e de, por este motivo, aparentar maior vitalidade, não mais voltará a ser a árvore que já foi em tempos...E que árvore, com um perímetro de tronco de cerca de 4,80 metros!
Sem nunca ter sido classificado, este sobreiro é ainda assim, amputado de parte da sua anterior grandiosidade, uma árvore que nos seduz e nos remete à humildade e ao silêncio da contemplação. Nem mesmo a estupidez humana foi capaz de lhe retirar a beleza. A Natureza age de forma misteriosa...
Sobreiro (Quercus suber L.) - Lugar da Maia
Sobreiro (Quercus suber L.) - Lugar da Maia
P.S.- Este tipo de tragédias, que ciclicamente afectam as nossas paisagens, não me podem deixar sossegar sobre o futuro de sua majestade, como carinhosamente o decidi baptizar, e que será hoje o maior sobreiro de Monchique e um dos maiores de Portugal.
2 comentários:
Obrigado pelas referências.
Em meu nome e do meu compadre Joaquim que, entre muitas outras coisas, aprendeu a tirar cortiça como poucos, mas, infelizmente, não teve oportunidade de frequentar uma escola para poder ler as suas simpáticas palavras.
Ficamos à espera da parte II.
Um abraço.
Amigo Mário,
Foi uma tarde muito bem passada...e embora estas palavras possam soar a "cliché" não deixam de ser menos verdade: o seu compadre Joaquim tem aquela sabedoria imensa que a vida nos dá e só ela sabe ensinar.
Um abraço aos dois.
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