quarta-feira, setembro 24, 2008

Arboricídios e surrealismos

Imagem retirada do blogue "Pedaços de Alcongosta"


Este Verão, pude observar um elevado número de árvores mortas em várias localidades, de Norte a Sul do país. Árvores que tinham sido podadas de forma violenta recentemente.

Cada um tira as conclusões que quiser! Confesso que tentei evitar falar do assunto, uma vez que uma pessoa também se cansa de denunciar a óbvia estupidez e irracionalidade destes arboricídios anuais.

Mas, nos últimos dias, duas situações fizeram-me relembrar estes casos e criaram em mim a vontade de voltar ao assunto das podas.

Uma das situações, retratada na imagem que acompanha este texto, aconteceu em Alcongosta (concelho do Fundão). Duas árvores jovens podadas de forma tão desajustada que não sobreviveram ao acto.
Se tiverem a curiosidade em ler o texto que denuncia este caso, poderão observar como um dos comentários retoma a temática de abater todas as tílias por causa da pintura dos automóveis! O que, obviamente, me remeteu para um dos primeiros textos que escrevi neste blogue, sobre a temática das podas em árvores ornamentais: Eu sou pelas tílias.


O segundo caso roça quase o "surreal"! O Presidente da Junta de Freguesia de Avelãs de Caminho (concelho de Anadia) está muito preocupado com a "causa de um fenómeno" que terá levado à morte de 12 árvores na referida localidade.
A preocupação levou-o ao extremo de chamar técnicos do Núcleo Florestal do Centro Litoral, para averiguar o caso. E o que constataram estes técnicos no local? Constataram, pasme-se, que as referidas árvores "foram submetidas a podas intensas recentemente e não possuem qualquer folha verde nem gomos de rebentação deste ano."

Entretanto, este caso chega ao ponto do Presidente da Junta querer apresentar uma queixa contra desconhecidos no Ministério Público! E que tal apresentar essa queixa contra os executantes das referidas podas e, ainda mais importante, contra os mandantes das mesmas?! Ou será que o mandante não terá sido a própria Junta?!

Aguardemos...

7 comentários:

Júlia Galego disse...

Pedro, adorei o seu comentário no blogue de Alcongosta.
Bj

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Obrigado, Júlia.

Digamos que esta "mania das aparências" dos portugueses me "leva aos arames"!

Todos nós sabemos como o automóvel é um símbolo de estatuto social em Portugal, muito antes de ser um meio de transporte. Se para manter as tais aparências for preciso sacrificar árvores, qual será o problema?!

Curiosamente, todos os defeitos na pintura ou qualquer outro problema com o meu csarro, dos riscos à chapa amassada, foram todos provocados por outras pessoas e não por árvores! Devo ter tido sorte (ou azar?!)...

Boa semana.

Anónimo disse...

Pedro, obrigado pela intervenção no Pedaços de Alcongosta. Uma participação que alerta, obriga a reflectir e mostra outra perspectiva desta questão, para quem tem mais dificuldade em libertar-se desse quase código genético da "mania das aparências", no sentido em que refere.

Já agora, um especial agradecimento por ter tomado a iniciativa de veicular a denúncia feita no Pedaços de Alcongosta.

Mas neste momento as minhas convicções relativamente a este caso encontram-se no limbo. Isto porque chegaram informações de que as títias em causa estariam a perfurar o canal de água da principal fonte da terra. Local emblemático e de romaria diária de forasteiros, que se deslocam propositadamente para se abastecerem com tantos garrafões quantos couberem na mala do carro.

A ser verdade, talvez a intervenção faça algum sentido. Embora tenha contornos estranhos...

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

A questão está precisamente naquilo que refere, ou seja, se de facto as raízes das tílias estavam a interferir com o canal de água, a solução seria (inevitavelmente) cortá-las.•
A poda praticada daquela forma bárbara e incompetente não pretendia resolver o problema; embora, ao provocar a morte das tílias, o tenha resolvido!

Não duvido que as raízes das árvores pudessem estar a interferir com o dito canal, mas a verdade é que estamos todos habituados a ouvir as mais variadas desculpas para podar as árvores.

Aquilo que tem que ser feito é planear a escolha das espécies a plantar, ou seja, plantar uma árvore não é um acto tão simples quanto aparenta. É preciso antever se a árvore irá ter espaço para desenvolver a sua copa ou se, por exemplo, as suas raízes poderão interferir com alguma linha de água (como parece ser este o caso).

Esta é a melhor maneira de resolver os problemas, ou seja, evitando-os!
O arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles já dizia: "se não há espaço para a árvore, plante-se o arbusto; se não há espaço para o arbusto, coloque-se um vaso com flores".
O que não é admissível é esta prática “terceiro-mundista” de mutilar as árvores. Se, neste caso em concreto, não era possível prever que as tílias iriam interferir com a linha de água, então a única alternativa no presente seria o respectivo abate. Sempre seria uma morte com dignidade!

Maria Lua disse...

Exactamente, Pedro!
Era engraçado (mas não tem piada nenhuma...) ter sido a própria Junta! Mas sabemos que a esses não chega nenhuma punição...
Obrigado e bom final de semana.
:-)

Anónimo disse...

Olá Sr. Pedro- como adorei o seu comentário, só queria ilucidar o seguinte: neste caso "Alcongosta" no que se refere à "poda de duas pobres árvores" - ñao houve qualquer poda em concreto - mas sim uma destruição total, e com conhecimento de causa, por parte de duas moradoras, com herbicida.
Poderão as raizes das mesmas estar a prejudicar a saída de águas, mas neste momento nada de concreto se pode afirmar, neste campo.
Causa para o vandalismo - "alergia" do polém das tílias, e vai daí- não se fala com quem de direito e toca de destruir.---
Boa continuação.- Obrigado

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Caro anónimo:

Procurei no "site" da Sociedade Portuguesa de Alergologia(http://www.rpaerobiologia.com/dicionario/?iml=PT&imr=3n23n) informação sobre o pólen das tílias. Infelizmente, não encontrei essa informação, mas duvido que tenha uma alergenicidade elevada.

A maioria dos problemas de alergias com plantas é provocado pelas gramíneas (trigo, cevada, centeio, etc.) ou por plantas como a alfavaca-de-cobra, que estão por todo o lado!

É um dado científico que a poluição do ar agrava os problemas respiratórios e que as árvores melhoram a qualidade desse ar. Não é por acaso que as pessoas que vivem nas cidades têm mais problemas respiratórios!

Essa acção foi, pura e simplesmente, um acto criminoso. Se eu fosse de Alcongosta e soubesse quem o tinha feito, apresentaria queixa na GNR (Sepna).

Infelizmente, se quem o fez sofre de problemas de alergias, duvido que tenha resolvido o seu problema com o corte das árvores. No entanto, mesmo que o tempo me dê razão, já será tarde para essas duas árvores.

Obrigado pelo seu comentário.