Recebi há tempos um curiosíssimo e-mail do Sul do Brasil, mais propriamente de Curitiba, de alguém que partilha comigo, e com muitos dos leitores deste blogue, um imenso amor às árvores.
Foi assim que conheci o Mauricio Valle, pelo interesse comum nas árvores que nos rodeiam.
No Sul de Portugal, onde os Invernos são mais amenos, é possível encontrar algumas espécies ornamentais com origem no Brasil, como a
bela-sombra e a
paineira, apesar de não serem tão frequentes como outras espécies sul-americanas, caso do
jacarandá e da
tipuana.
Por outro lado, no Sul do Brasil, onde o clima se aproxima mais dos padrões europeus, é possível encontrar algumas espécies do Velho Continente, levadas por sucessivos fluxos migratórios de europeus em direcção a terras de Vera Cruz.
E foi esta viagem transatlântica de algumas das árvores mais comuns da nossa paisagem, que levou o Mauricio a escrever-me...
Tudo começou com um passeio do Mauricio por Curitiba e com a descoberta de uma árvore, cujas folhas despertaram nele a maior das curiosidades.
Uns meses depois, o Mauricio encontrou, na biblioteca local, a resposta à sua curiosidade: tratava-se da folha de um carvalho europeu, o nosso alvarinho ou roble (
Quercus robur L.).
Mas, longe de ter visto a sua curiosidade saciada, esta descoberta apenas aguçou o seu interesse pela descoberta e identificação de carvalhos. Foi assim que ele descobriu, em Curitiba, vários exemplares de alvarinho, mas também um
Quercus cerris L. (cujo nome em português poderia ser "carvalho-da-turquia") e ainda vários carvalhos da América do Norte (
Quercus rubra L.,
Quercus palustris Muenchh e
Quercus coccinea Muenchh); curiosamente, estas são igualmente as espécies de carvalhos norte-americanos mais plantadas em Portugal.
A ocorrência de carvalhos europeus não se restringe a Curitiba, no estado do Paraná, e segundo refere o Mauricio é possível encontrá-los um pouco por todo o Sul do país, em particular no estado mais meridional do Brasil, o Rio Grande do Sul.
Esta situação está relacionada com factores climáticos e com o facto deste ter sido o destino preferencial dos imigrantes com origem na Alemanha e na Polónia, que procuraram terras brasileiras em finais do século XIX, e que terão sido os principais responsáveis pela introdução de carvalhos na flora ornamental do Brasil.
No geral, estes carvalhos têm um porte reduzido mas um
gigante esperava o Mauricio bem perto das suas origens familiares.
Carvalho monumental (Quercus sp.) - Nordeste do estado do Rio Grande do Sul (Brasil)Foi numa viagem ao nordeste do estado do Rio Grande do Sul, bem perto do local onde nasceu o seu avô, que o Mauricio encontrou o maior de todos os carvalhos que já pôde observar no Brasil, o fantástico exemplar ilustrado na imagem anterior.
Apesar de todos os seus esforços, pouco mais conseguiu saber, junto dos habitantes locais, sobre este belíssimo carvalho que, presumivelmente, será um roble.
O único facto que conseguiu apurar é que o mesmo terá sido plantado, há muitos e bons anos, por um senhor de apelido Teixeira, imigrante ou descendente de imigrantes portugueses. Provavelmente, há bem mais de um século, a julgar pelas dimensões dessa majestosa árvore.
Sabendo como o apelido Teixeira é comum no Norte de Portugal, não me custa imaginar um português saudoso do seu Minho ou Beira natal, a tentar recriar, no além-mar, as paisagens da terra que o viu nascer. Mas isto já é a minha imaginação a construir um filme...
Pudesse o Sr. Teixeira vir de novo a este mundo, a terras do Rio Grande do Sul, e ficaria profundamente orgulhoso do momento em que decidiu por uma bolota na terra que o acolheu.
E é um pouco desse amor que o Mauricio tenta recriar nos vasos da sua varanda...
O amor do Sr. Teixeira pelos carvalhos sobreviveu ao passar das gerações e continua vivo em cada pessoa que coloca uma bolota enterrada num vaso.
(Continua...)