quinta-feira, abril 16, 2009

Um país de cobardes





No Montijo, como um pouco por todo o lado, a cobardia cívica anda à solta. Pela calada, quando ninguém vê, revelamos a pequenez e a mesquinhez dentro de nós.

De um país onde se abandonam os animais de estimação como quem abandona um brinquedo, não se poderia esperar uma atitude de maior dignidade face à árvore.

Assim, da forma mais ignóbil que se possa imaginar, alguém tentou matar um conjunto de plátanos, injectando os mesmos com ácido.

De nada interessa o papel da árvore na cidade, que vai muito além do plano estético e que inclui a melhoria do microclima local (com impacto na redução dos consumos energéticos) ou a redução da poluição atmosférica (responsável pelo aparecimento e agravamento de várias doenças, incluindo as alergias).


No fundo, o que queremos são cidades sem árvores nos passeios: aumenta-se o espaço para o estacionamento (em cima do próprio passeio), acaba-se com o aborrecimento das folhas que entopem as sarjetas e afastam-se, de uma vez por todas, os pássaros e as borradelas em cima dos automóveis, o bem mais precioso do lusitano e pelo qual todos os sacrifícios são válidos.

Não nos esqueçamos que, no nosso país, ninguém valoriza uma pessoa que goste de árvores mas que ande a pé. Por oposição, um energúmeno capaz de injectar ácido numa árvore mas que conduza um carrão alemão, tem tudo para ser um herói no bairro.

As pessoas têm liberdade para não gostar de árvores, para implicar com elas e querer que as mesmas sejam cortadas. Mas ao menos tenham a dignidade e a coragem de dar a cara e de formalizarem, às claras, a vossa vontade junto da respectiva Câmara ou Junta de Freguesia.

Nestes dias que correm, a crise não é apenas económica, mas também de valores. Por estes dias, a vida está facilitada para a cobardia...


8 comentários:

Ezequiel Coelho disse...

é difícil comentar....

a d´almeida nunes disse...

Requeria-se uma investigação criminal.
Porque não comunicar o facto ao Ministério Público?
Cobardes, é um mimo para esses bandalhos que cometeram tal crime.

António

Paulo disse...

Estou sem palavras.

Miguel Rodrigues disse...

Desenganem-se, caros amigos. Estes casos só têm tendência para aumentar em frequência e barbárie.

A forma egocentrista como lidamos com tudo, acabará por arrasar com qualquer ser ou objecto, por mais valioso que seja, que nos incomode minimamente.

As árvores parecem ser o exemplo paradigmático disto mesmo. Qualquer parvoíce serve para dar cabo delas.

O que o imbecil responsável por este acto não ponderou, foi o risco gravemente acrescido para todas as pessoas e bens na proximidade destes plátanos, potencialmente enfraquecidos.

Haja esperança em jovens que pensam desta forma e que os bacocos dos adultos tenham a inteligência de conseguir aprender alguma coisa com eles.

pedro vicente disse...

Uma vergonha...mas uma manifestação da nossa mentalidade: planeta com recursos inesgotaveis,especismo,o que está longe nao se sente,entre outras...
Pobres árvores...

Rosa disse...

Requintes de malvadez!
Curioso é aquele dono da esplanada, cujo sonho é ter uma esplanada sem árvores por perto. É muito dificil de perceber.

Miguel Jorge disse...

Chama-se a isto Analfabetismo Funcional Oral?
Tanto as míudas parvas que não se sabem explicar e não estão muito segurar do que devem dizer/defender,como o senhor de bigode que não foi às aulas de ciências da natureza e não sabe o que é pólen...enfim.

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

A questão do pólen e das alergias é importante que seja desmistificada.

É certo que o pólen dos plátanos tem uma alerginicidade moderada, segundo a SPAIC (Sociedade Portuguesa de Alergologia).

No entanto, a maioria dos problemas com alergias resultam, não de árvores, mas de outras plantas não lenhosas, como as gramíneas, que estão por todo o lado e que incluem espécies com elevadíssimo valor económico/cultural (trigo, cevada, centeio,...).

Pelo contrário, as árvores melhoram a qualidade do ar nas cidades, contribuindo para diminuir os factores que provocam ou agravam muitas doenças do foro respiratório.

Se as plantas, incluindo as árvores, fossem as principais responsáveis pelas alergias teríamos uma maior prevalência destes problemas nas populações rurais. Será isto sustentado com base nalgum estudo científico? Ou, pelo contrário, terão estes problemas aumentado nos últimos anos, no seio da população que vive nas cidades, fruto da progressiva degradação da qualidade do ar que respiramos?