"Por iniciativa de japoneses amigos de Portugal, com a ajuda dos respectivos diplomatas, criou-se em Lisboa um "jardim japonês" feito de cerejeiras vindas daquele país.
Foi há dois ou três anos. Ali à beira Tejo, junto dos restos da antiga Exposição do Mundo Português, perto de um farol, foi instalado um jardim feito de estranhos mas bonitos montículos de terra semeada de erva.
No cimo dos montículos, foram plantadas cerejeiras, árvores especialmente cultivadas no Japão. Cada árvore foi plantada com todo o cuidado, amarrada a uma estaca, regada e tratada.
Na altura, fiquei radiante. E tentei antever a beleza que seria aquelas árvores todas em flor! Estava tudo perfeito. A atenção ao pormenor era de rigor.
O melhor de Portugal associou-se a este empreendimento: governo, câmara, administração portuária, instituições públicas, as mais importantes fundações do país, as maiores empresas portuguesas e algumas das mais conhecidas empresas japonesas.
Há três anos que espero que as árvores cresçam e apareçam as primeiras flores e cerejas. Nada! Nenhuma cresce. De um total de cerca de 400 árvores, só três mostraram meia dúzia de miseráveis folhas ressequidas sem futuro, nem desenvolvimento. As restantes estão irremediavelmente secas e mortas! Ou parecem. Fui saber. Quem sabe explicou-me.
Primeiro, naquele sítio, com aquelas condições de clima e temperatura, com o sal marinho, o vento e a humidade (a salsugem), só um milagre faria florir e crescer as cerejeiras. Houve quem alertasse, na altura, mas as opiniões científicas foram consideradas cépticas e ignorantes.
Segundo, as plantas, quando chegaram do Japão, estiveram uns meses à espera de que a Alfândega as deixasse entrar!
É assim! Não se aprende nada!"
Foi há dois ou três anos. Ali à beira Tejo, junto dos restos da antiga Exposição do Mundo Português, perto de um farol, foi instalado um jardim feito de estranhos mas bonitos montículos de terra semeada de erva.
No cimo dos montículos, foram plantadas cerejeiras, árvores especialmente cultivadas no Japão. Cada árvore foi plantada com todo o cuidado, amarrada a uma estaca, regada e tratada.
Na altura, fiquei radiante. E tentei antever a beleza que seria aquelas árvores todas em flor! Estava tudo perfeito. A atenção ao pormenor era de rigor.
O melhor de Portugal associou-se a este empreendimento: governo, câmara, administração portuária, instituições públicas, as mais importantes fundações do país, as maiores empresas portuguesas e algumas das mais conhecidas empresas japonesas.
Há três anos que espero que as árvores cresçam e apareçam as primeiras flores e cerejas. Nada! Nenhuma cresce. De um total de cerca de 400 árvores, só três mostraram meia dúzia de miseráveis folhas ressequidas sem futuro, nem desenvolvimento. As restantes estão irremediavelmente secas e mortas! Ou parecem. Fui saber. Quem sabe explicou-me.
Primeiro, naquele sítio, com aquelas condições de clima e temperatura, com o sal marinho, o vento e a humidade (a salsugem), só um milagre faria florir e crescer as cerejeiras. Houve quem alertasse, na altura, mas as opiniões científicas foram consideradas cépticas e ignorantes.
Segundo, as plantas, quando chegaram do Japão, estiveram uns meses à espera de que a Alfândega as deixasse entrar!
É assim! Não se aprende nada!"
António Barreto in Retrato da Semana (Público, edição n.º 6643 de 8 de Junho de 2008)
4 comentários:
Pois, é o que dão as imitações!
Eu adoro os jardins japoneses, embora só os conheça de livros e da net, mas acho que não faz sentido fazê-los por imitação noutros lados.
Além da má adaptação das espécies que citaste, o jardim japonês reflecte uma filosofia e uma forma de estar muito próprias, e completamente diferentes das nossas. Por isso também, uma imitação é uma coisa tão pobre e desprovida de 'alma', a não ser que a concepção e a inserção estejam de acordo com a forma de estar deles. O que acho bastante difícil no nosso país.
Conheço vários exemplos do mesmo fenómeno, embora não atinjam tamanho grau de desperdício. Há a inauguração com sorrisos, presença de ministros, presidentes de câmara, empresas patrocinadoras e reportagens na televisão e nos jornais. Mas há depois o dia seguinte, que já não beneficia da mesma publicidade e de que só tomam consciência os habitantes locais mais atentos e menos desmemoriados. E o dia seguinte é o resultado do mau planeamento (tantas vezes com assinatura famosa) e da má gestão (em Portugal, é triste reconhecê-lo, quase não há jardineiros, mas tão só empresas de manutenção de espaços verdes estereotipados e sem diversidade). É também por isso que campanhas como a do Continente não prometem nada de bom.
É sobretudo isso: falta de planeamento. Na minha modesta opinião, o nosso maior defeito colectivo, ao nível da gestão dos espaços verdes das cidades, como de quase tudo o resto nos mais diversos sectores da nossa sociedade.
Este caso é, nesse aspecto, verdadeiramente exemplar...
Mas há muitos mais, como refere o Paulo, embora menos mediáticos.
Veja-se o seguinte caso: a CM da Covilhã prepara-se para inaugurar, no âmbito do Polis, o Parque da Goldra, uma obra que me parece extremamente bem concebida e de grande importância ambiental e paisagística para a cidade.
Mas eu também já estou a pensar no "dia seguinte"... E quem é que fará a sua gestão futura? As mesmas empresas contratadas pela CM Covilhã ou pela Águas da Covilhã EM, responsáveis pelas "podas destruidoras" que aqui denuncio?
É triste porque é assim um pouco por todo o país, onde as pessoas parecem apenas interessadas no aparato mediático do dia da inauguração. O que interessa é "ficar bem na fotografia".
É caso para esbarregar:
Arre porra!
Um abraço
António
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