segunda-feira, dezembro 01, 2008

De novo, a "época da estupidez"

Se a cada Verão que começa temo pelas árvores que morrerão queimadas, a cada Inverno temo pelas que cairão às mãos de podas incompetentes.

Chamo "época da estupidez" a esta fase do ano em que assistimos à mutilação de árvores que levaram dezenas de anos a crescer, às mãos de pessoas sem a mínima credencial técnica para este tipo de intervenção.

Fui informado, há alguns dias, da abertura de um concurso público para a poda de árvores ornamentais no concelho da Covilhã.

Como é evidente, temo o pior! E porquê? Porque suponho que o factor decisivo, no referido concurso, volte a ser o "factor preço".
Foi desta forma que o anterior concurso público, neste concelho, foi ganho por uma empresa local do sector das obras públicas! O resultado desastroso ficou à vista de todos...

Receio, pelos motivos expostos, que o mesmo se volte a repetir e que a poda de dezenas de árvores volte a ficar nas mãos de pessoas que nada percebem de arboricultura e de manutenção de árvores ornamentais.

O "factor preço" apenas pode ser levado em linha de consideração quando se comparam as propostas de duas ou mais empresas de igual grau de competência técnica. Ou será que, por hipótese, se uma empresa de arboricultura concorresse à construção de uma estrada ganharia o respectivo concurso público, caso apresentasse a proposta mais barata?

Deste modo, onde aparentemente existem boas medidas de poupança dos dinheiros públicos por parte das câmaras municipais, existem decisões danosas a médio e longo prazo.
Estas árvores, podadas de forma radical e incorrecta, irão ter uma longevidade menor e, desta forma, terão que ser substituídas por novos exemplares pagos, como é evidente, com o dinheiro de todos nós.
Acresce que as árvores podadas de forma desajustada, devido a ficarem mais fragilizadas e sujeitas a doenças, podem cair com maior facilidade sobre a via pública podendo, deste modo, dar origem a graves acidentes.

A cada novo Inverno, assistimos como o dinheiro dos contribuintes portugueses é colocado ao serviço da destruição do património arbóreo dos diversos municípios.

Mas a destruição das árvores na Covilhã já começou como atestam as duas imagens que se seguem, captadas no recinto do monumento a Nossa Senhora da Conceição.

À entrada do dito espaço pede-se "respeito". E ele, de facto, parece existir: não se observa lixo de espécie alguma e, aparentemente, qualquer acto de destruição. Puro engano... As árvores são a única coisa que não é digna desse mesmo tratamento de respeito.
Efectivamente, a única excepção, o único acto de vandalismo cometido em todo o recinto foi para com algumas tílias.

Desconheço qual o "pecado" que as condenou ao presente martírio! Não serão as árvores filhas de Deus?






Termino com a imagem de outras tílias existentes no mesmo recinto e que não sofreram a mesma humilhação. Para que se tenha um termo de comparação da asneira cometida por quem, de árvores e de amor, nada percebe!

3 comentários:

Sérgio Murra Martins disse...

Isto são coisas que entristecem uma pessoa..são aquelas coisas que nos fazem perguntar "Porque?". Porque raio é que as arvores tiveram que levar cortes daqueles? é que eu acho que na grande maioria dos casos as arvores nao precisam de podas...essas certamente nao precisariam(pelo menos plas imagens das sobreviventes), se as camaras querem poupar nao podem simplesmente, e não estou a considerar aquilo que as camaras fazem como poda. Tirando ramos mortos ou em vias disso porque cortar arvores daquela forma? eu ja vi cortes desses serem feitos na primavera(?!) assim numa unica arvore deixando outras ao lado incolumes ou apenas com um ramo decepado! Parece que precisavam de lenha! Sinceramente nao compreendo...

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Caro Sérgio,

É de facto difícil de encontrar explicação para este fenómeno que, em abono da verdade, está longe de ser exclusivo de Portugal.

Toda esta questão pode ser resumida num único ponto: falta de profissionalismo.
Falta de profissionalismo na hora de seleccionar as espécies a plantar, o número de exemplares e o local.
E falta de profissionalismo na hora de fazer a respectiva manutenção.

A maioria das pessoas considera a situação tão banal que nem sequer a questiona. E este facto é um enorme aliado da forma impune como as câmaras municipais destroem as árvores da via pública com o dinheiro de todos os contribuintes.

Resumindo: para desenhar estradas as câmaras contratam engenheiros; para fazer estudos arqueológicos contratam arqueólogos; para desenhar edifícios recorrem a arquitectos, etc.
Mas para podar árvores qualquer um é especialista, desde que faça o preço mais barato! Um dia destes toda esta negligência acabará por custar vidas humanas e, nesse dia, em vez de se pedirem responsabilidades às câmaras, ainda alguém se lembrará de culpar as árvores. As únicas, neste processo, incapazes de se defender...

Nuno Carvalho disse...

Se as árvores tivessem meios de se defender estariam, por certo, em guerra com a maioria dos portugueses.

O distanciamento de grande parte dos portugueses para com as árvores é de difícil explicação e é algo de profundamente revoltante para mim; o contrário sucede por exemplo no Reino Unido, onde as árvores são veneradas.

Encontrar uma árvore não mutilada, em Portugal, é uma tarefa cada vez mais problemática.

Outro aspecto caricato, da nossa sociedade, consiste em chamar à monocultura de Eucalipto, florestas!