domingo, fevereiro 11, 2007

Notas de um Domingo de chuva



Aproveitando uma aberta no dilúvio, regressei à minha escola primária para votar no referendo (a mesma que agora aparece sempre nas notícias, por ser o local onde também vota o actual primeiro-ministro).

Voltar a pisar o soalho daquelas salas é como que voltar, por breves instantes, a um passado feliz...Sim, foram quatro anos felizes, incluindo muita brincadeira sob as ramos das tílias, com duras batalhas de neve no Inverno e com a sua sombra reconfortante nas tardes de Junho...

Dou comigo a olhar para os trabalhos expostos nas paredes, das crianças que agora aí estudam e correm nos intervalos, e penso que também elas terão tudo para aqui serem felizes...Falta-lhes a neve e a sombra que alguém roubou às tílias.



P.S. - No "Público" de ontem, no suplemento Fugas, vinha mais uma reportagem sobre a Serra da Estrela, com as mesmas frases e as mesmas sugestões, que já lemos vezes sem conta em outros tantos jornais e revistas.
No entanto, o jornalista Adriano Miranda, a dada altura, num assomo de verdade, escreve:"...A Estrela tem ainda a vantagem de ser acessível de carro. É o que se pode chamar uma estância popular. O reverso é o caos automobilístico, o lixo e a sensação de que não se chega a estar verdadeiramente em comunhão com a Natureza, tamanha é a algazarra, sobretudo ao fim-de-semana".

Talvez, a tal acessibilidade de carro, seja na verdade não uma vantagem, mas um dos grandes motivos que ajudam a explicar o porquê da Torre estar convertida numa autêntica lixeira, o que muito me envergonha como português e me dói como serrano.


O autor do blogue Estrela no seu melhor lamentava-se há dias de alguma incompreensão e de ter sido alvo de críticas, por ter denunciado uma situação de esgotos a céu aberto na Covilhã, directamente no seu blogue e não ter feito uma denúncia prévia às autoridades.

O mesmo não me nomeou, nem necessita que eu seja o seu advogado de defesa; ele próprio já explicitou (e bem) por que não o fez.

Este tipo de situações deriva do país que ainda somos mais de 30 anos passados sobre o 25 de Abril. Penso que foi Salgueiro Maia quem um dia disse, do nosso país: "existe o estado da democracia, o estado da ditadura e o estado a que tudo isto chegou". Passado todo este tempo, o maior problema do nosso país é precisamente a falta de credibilidade dos diversos braços do Estado (dito de direito...), incluindo a própria justiça, o que leva os cidadãos a recorrerem a outras formas de denúncia, caso queiram ver as situações resolvidas.


Somos um país que se alimenta da desgraça alheia e temos órgãos de comunicação social (nomeadamente as televisões) que adoram explorar este tipo de cultura; pois bem, utilizemos estas armas para denunciar as desgraças que por aí vamos encontrando!


Se isto não é típico de países do dito 3º Mundo? Pois claro que é!...Mas é isso precisamente que somos, ainda que nos últimos anos tenhamos tentado disfarçá-lo com um novo-riquismo parolo que apenas serviu para aumentar o endividamento geral...


Mas o mau cheiro não se disfarça com perfumes caros e por todo o lado cheira a podridão...
Os blogues são uma arma de denúncia e a Sombra Verde fará uso dela sempre que necessário, com respeito mas sem subserviências...Tenho a certeza que o Estrela no seu melhor e todos os demais blogues que lutam por um Portugal melhor continuarão a fazer o mesmo.


Bom Domingo para todos.

1 comentário:

ljma disse...

É bem verdade issso da estrada para a Torre. Com o argumento de que assim se aproximam as pessoas das maravilhas da Serra, acaba-se mas é a eliminar essas maravilhas da Serra!
Um abraço do Cântaro Zangado!