segunda-feira, setembro 23, 2013

António Ramos Rosa (1924-2013)

Fotografia: Público

(...) Este homem que esperou à sombra de uma árvore mudar a direcção ao seu pobre destino (...) Este homem que parou no meio da sua vida e se sentiu mais leve que a sua própria sombra. - António Ramos Rosa


Morreu o poeta, mas a sua poesia, feita árvore no pensamento, será eterna.



quarta-feira, setembro 18, 2013

Morreu "O sobreiro de Portugal"

Sobreiro da Herdade de Pai Anes - Fotografia de Luís Rodrigues

Infelizmente, parece-me evidente a conclusão, pelas imagens enviadas por um leitor, que o extraordinário sobreiro da Herdade de Pai Anes, na freguesia de Póvoa e Meadas (no concelho de Castelo de Vide), terá morrido.

Se o sobreiro é a Árvore Nacional de Portugal, este exemplar seria, por ventura, o mais emblemático de entre todos os seus pares. Apesar dos danos sofridos pelo ciclone de 1941 e da queda de um dos ramos principais em anos mais recentes, quando o visitei pela primeira vez, em 2008, a copa apresentava ainda um considerável vigor.


No entanto, já nessa altura, à vista de um leigo, eram imprevisíveis os efeitos que este evento poderia ter na sustentabilidade futura da árvore. Este facto, levou-me a escrever, em fevereiro de 2008, as seguintes palavras no meu blogue pessoal (A sombra verde):
(…) É certo que a árvore está no estado que as fotos documentam, isto é, uma das pernadas principais caiu, abrindo algumas fendas na zona de inserção no tronco. Mas acreditem que, apesar do descrito, a parte restante da árvore aparenta respirar vitalidade.
No entanto, parece-me imprescindível que seja feita, por técnicos competentes, uma análise criteriosa ao estado de saúde da mesma, como forma de garantir que este sobreiro não corre o risco de colapsar sob o seu próprio peso.
É certo que o seu proprietário, o Sr. Manuel Carmona, que tivemos o prazer de conhecer na ocasião, já tinha alertado os serviços competentes do Ministério da Agricultura para o estado de conservação da árvore.

Mas, sem querer desculpar a inoperância destes serviços, nada nos garante que a queda da referida pernada fosse um processo evitável. Pelo contrário, a perda de uma pernada mais frágil e doente, poderá mesmo garantir uma maior longevidade da restante parte da árvore. Resta apenas garantir, tal como escrevi atrás, que as pernadas restantes suportam o peso da copa; podendo para tal ser necessário recorrer a estruturas metálicas de suporte, tal como no caso do afamado plátano classificado de Portalegre.
Pelo que referi anteriormente, parece-me evidente que os serviços florestais não podem “abandonar” as árvores e os seus proprietários, após o processo de classificação. O Estado não se pode furtar ao seu papel de auxiliar, pelo menos de um ponto de vista técnico, as pessoas que aceitam a classificação de uma parte dos que lhes pertence.
Afinal de contas, estamos perante património de todos que compete ao Estado ajudar a salvaguardar
.
Não pretendo fazer um julgamento público dos responsáveis do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), sabendo bem da escassa, para não dizer nula, importância que o departamento de Arvoredo de Interesse Público tem dentro da própria orgânica do ICNF. Sei bem do amor que o engenheiro Campos Andrada devota às árvores monumentais do nosso país e da imensidão da sua tarefa de vistoriar as centenas de árvores classificadas espalhadas de norte a sul do território, com os (praticamente) inexistentes recursos de que dispõe.

Em abono da verdade, manda o elementar princípio de inocente até prova em contrário, admitir que neste espaço de tempo a árvore tenha sido visitada por técnicos do Ministério da Agricultura e que estes tenham concluído pela inevitabilidade do processo de decadência da mesma. Desconheço igualmente se o temporal de 18 e 19 de janeiro último, que causou a queda de centenas de árvores por todo o país, provocou danos adicionais neste exemplar.

É tarde para lamentar o sucedido, mas a dúvida ficará para sempre. Uma inquietante pergunta martela o meu pensamento enquanto escrevo estas linhas: poderia este desfecho ter sido evitado?

(Texto publicado originalmente no blogue da Árvores de Portugal.)

quarta-feira, setembro 04, 2013

Uma árvore chamada vida

Carvalho (Quercus robur L.) de Calvos

(…) here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life;which grows
higher than soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that’s keeping the stars apart

i carry your heart (i carry it in my heart).
E.E. Cummings


(Mais imagens no blogue da Árvores de Portugal.)

domingo, setembro 01, 2013

Sobre a origem das oliveiras na Argentina

Fotografia recebida via Facebook de Guillermo Octavio Rivarola

Em relação à origem dos olivais na Argentina há duas versões: uma delas afirma que os integrantes da embaixada espanhola, Hernan Mexia Mirabal, Rodrigo de Quintero, Bartolomé de Mansilla, Nicolás de Garnica e Pedro de Cáceres, foram os primeiros a trazer esta espécie para a Argentina, apesar de nenhum deles se referir concretamente a oliveiras nos seus escritos, referindo-se apenas a árvores frutíferas.

Outra versão aponta que não seria estranho que as primeiras oliveiras tivessem surgido em Santiago del Estero, a primeira cidade fundada na Argentina, em 1554, por exploradores vindos de Norte, provenientes do alto Perú. Mais tarde, conquistadores espanhóis procedentes do Chile terão trazido espécimes que foram plantados no que é hoje a província de La Rioja, mais precisamente na cidade de Arauco.

Devido ao desenvolvimento da cultura em terras americanas, o rei Carlos III, sendo vice-rei do Perú, Pedro Fernandez de Castro - Conde de Lemos (1667-1672), ordenou abater os olivais indiscriminadamente desde o alto Perú até Rio de la Plata, temendo que a prosperidade da oliveira nesta região conseguisse suplantar o papel de Espanha como o maior produtor mundial. 


Como resultado desta destruição, apenas uma planta terá restado de pé, localizada na cidade de Ainogasta, na província de La Rioja, na propriedade dos Ávila, descendentes de Don Baltasar de Ávila Barrionuevo (homem do grupo de Juan Ramirez de Velazco, fundador de La Rioja), e foi Expectación Fuentes de Ávila, quem a salvou, cobrindo-a com um recipiente. Por seleções sucessivas, cruzamentos e multiplicações, a partir deste exemplar sobrevivente, a oliveira espalhou-se para outras províncias como Córdoba, Mendoza e San Juan. Também foram levados rebentos para o Chile e o Perú, dando origem a uma variedade totalmente Argentina: a Arauco.

A árvore histórica mantém-se no seu habitat natural, uma propriedade agrícola onde se aplicam os métodos tradicionais de cultivo. Quando a árvore foi declarada monumento histórico, a fazenda torna-se propriedade nacional, tendo sido última proprietária do terreno Luisa de Quiroga. A estrutura que atualmente envolve esta árvore menciona as visitas de personalidades proeminentes do campo da agricultura originárias de países como a Espanha, Itália, França, Israel e os Estados Unidos, existindo ainda placas de homenagem dos governos de âmbito nacional, provincial e departamental.

Como dados adicionais esta história, é de assinalar que esta árvore colossal com mais de 400 anos ainda produz mais de cem quilos de azeitonas por ano.



(Nota: Comentário recebido via Facebook da autoria de Guillermo Octavio Rivarola, cuja tradução e adaptação é de minha exclusiva responsabilidade.)