Infelizmente, parece-me evidente a conclusão, pelas imagens enviadas
por um leitor, que o extraordinário sobreiro da Herdade de Pai Anes, na
freguesia de Póvoa e Meadas (no concelho de Castelo de Vide), terá
morrido.
Se o sobreiro é a Árvore Nacional de Portugal, este exemplar seria,
por ventura, o mais emblemático de entre todos os seus pares. Apesar dos
danos sofridos pelo ciclone de 1941 e da queda de um dos ramos
principais em anos mais recentes, quando o visitei pela primeira vez, em
2008, a copa apresentava ainda um considerável vigor.
No entanto, já nessa altura, à vista de um leigo, eram imprevisíveis
os efeitos que este evento poderia ter na sustentabilidade futura da
árvore. Este facto, levou-me a escrever, em fevereiro de 2008, as
seguintes palavras no
meu blogue pessoal (A sombra verde):
(…) É certo que a árvore está no estado que as fotos
documentam, isto é, uma das pernadas principais caiu, abrindo algumas
fendas na zona de inserção no tronco. Mas acreditem que, apesar do
descrito, a parte restante da árvore aparenta respirar vitalidade.
No entanto, parece-me imprescindível que seja feita, por técnicos
competentes, uma análise criteriosa ao estado de saúde da mesma, como
forma de garantir que este sobreiro não corre o risco de colapsar sob o
seu próprio peso.
É certo que o seu proprietário, o Sr. Manuel Carmona, que tivemos o
prazer de conhecer na ocasião, já tinha alertado os serviços competentes
do Ministério da Agricultura para o estado de conservação da árvore.
Mas, sem querer desculpar a inoperância destes serviços, nada nos
garante que a queda da referida pernada fosse um processo evitável. Pelo
contrário, a perda de uma pernada mais frágil e doente, poderá mesmo
garantir uma maior longevidade da restante parte da árvore. Resta apenas
garantir, tal como escrevi atrás, que as pernadas restantes suportam o
peso da copa; podendo para tal ser necessário recorrer a estruturas
metálicas de suporte, tal como no caso do afamado plátano classificado
de Portalegre.
Pelo que referi anteriormente, parece-me evidente que os serviços
florestais não podem “abandonar” as árvores e os seus proprietários,
após o processo de classificação. O Estado não se pode furtar ao seu
papel de auxiliar, pelo menos de um ponto de vista técnico, as pessoas
que aceitam a classificação de uma parte dos que lhes pertence.
Afinal de contas, estamos perante património de todos que compete ao Estado ajudar a salvaguardar.
Não pretendo fazer um julgamento público dos responsáveis do
Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), sabendo bem
da escassa, para não dizer nula, importância que o departamento de
Arvoredo de Interesse Público tem dentro da própria orgânica do
ICNF.
Sei bem do amor que o engenheiro Campos Andrada devota às árvores
monumentais do nosso país e da imensidão da sua tarefa de vistoriar as
centenas de árvores classificadas espalhadas de norte a sul do
território, com os (praticamente) inexistentes recursos de que dispõe.
Em abono da verdade, manda o elementar princípio de
inocente até prova em contrário,
admitir que neste espaço de tempo a árvore tenha sido visitada por
técnicos do Ministério da Agricultura e que estes tenham concluído pela
inevitabilidade do processo de decadência da mesma. Desconheço
igualmente se o temporal de 18 e 19 de janeiro último, que causou a
queda de centenas de árvores por todo o país, provocou danos adicionais
neste exemplar.
É tarde para lamentar o sucedido, mas a dúvida ficará para sempre.
Uma inquietante pergunta martela o meu pensamento enquanto escrevo estas
linhas: poderia este desfecho ter sido evitado?
(Texto publicado originalmente no blogue da
Árvores de Portugal.)