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24 de maio de 2007 escrevia o seguinte texto aqui na
Sombra Verde:
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Se os blogues têm causas, e a Sombra Verde tem várias, gostaria de adicionar a essa lista a seguinte: ver reconhecida ao sobreiro o estatuto de árvore nacional de Portugal:
- Pela sua distribuição ao longo de todo o território do continente (as ilhas são, em termos botânicos, uma realidade completamente distinta): "O sobreiro é de todas as nossas árvores aquela que se encontra mais largamente distribuída. Encontramo-la no Norte, no solar do castanheiro, do roble e do carvalho-negral; junto ao litoral, do Tejo ao Minho, luta sem proveito nem glória com o pinheiro-bravo; associa-se ao carvalho-português na Estremadura, à azinheira e ao pinheiro-manso no Alentejo e vegeta a par da alfarrobeira nas quentes serras algarvias. (...) Se pusermos de lado as cumeadas de algumas serras ou as vertentes mais frias das montanhas nortenhas verifica-se que, do Minho à campina de Faro, o sobreiro não só vive em boas condições (...), senão ainda suporta o descortiçamento exagerado e as brutais mutilações na ramaria, indicação segura de que no território nacional encontra o seu óptimo ecológico".
Joaquim Vieira Natividade in "Subericultura"
De facto, que outra árvore autóctone podemos encontrar em todo o seu esplendor do coração do Minho à serra e litoral algarvios?
O sobreiro ocupa em Portugal perto de 737 000 hectares (dados do Inventário Florestal Nacional de 2006, não incluindo alguns povoamentos jovens), o que corresponde a cerca de 32% da área que a espécie ocupa no Mediterrâneo ocidental. Note-se que estes valores poderiam ainda ser superiores, não fosse o catastrófico Verão de 2003 em que arderam mais de 40 000 hectares desta espécie.
- Pela sua crucial importância ecológica: pelas inúmeras espécies (vegetais, animais, etc.) que dependem dos habitats dominados pelo sobreiro. Acresce a crucial importância no mundo rural português, sendo das poucas espécies que traz rentabilidade a uma população rural em claro declínio. E todos sabemos que o despovoamento traz consigo a desertificação, a qual é uma das mais sérias ameaças ambientais de parte significativa do território nacional.
Num país que todos os anos sofre o drama dos incêndios, em boa parte devido a uma política que apostou em espécies de crescimento rápido mas que favorecem a propagação das chamas, as florestas de sobreiro constituem verdadeiros corta-fogos naturais.
- Pela sua importância económica e social: o nosso país produz cerca de 200 000 toneladas de cortiça por ano (mais de 50 % do total), sendo o sector corticeiro o único onde Portugal tem uma posição de liderança a nível mundial, desde a matéria-prima até à comercialização, passando pela transformação.
A perda desta liderança representaria um descalabro económico, social e ambiental sem paralelo.
O mínimo que podemos fazer é proteger uma árvore que nos dá tanto exigindo tão pouco em troca...talvez apenas um pouco de respeito."
Estava longe de imaginar que, passados mais de quatro anos, assistiria à instituição do sobreiro como Árvore Nacional de Portugal, por decisão do Parlamento.
É preciso relembrar que este dia só foi possível pela mão dos milhares de portugueses que assinaram uma petição com este objetivo, lançada pelas associações Árvores de Portugal e Transumância e Natureza.
Hoje é um dia de festa, mas não nos podemos esquecer que há muito para fazer na defesa do sobreiro e dos seus povoamentos. A classificação do sobreiro como Árvore Nacional de Portugal é um ponto de partida, não um ponto de chegada...