sexta-feira, maio 18, 2012

Um país sem memória

Museu da Cortiça (Fábrica do Inglês) - Silves   Fotografia: Museu Cortiça Silves

Pode um país que tem o sobreiro como um símbolo oficial, permitir-se ter um museu dedicado à cortiça fechado e em risco de ser vendido em hasta pública?

Terá sido a classificação do sobreiro como Árvore Nacional de Portugal, em dezembro passado, um mero ato simbólico e efémero, ou estará o Estado, central e municipal, interessado em preservar um espaço museológico único no mundo?

Estará a Amorim e, por arrastamento, a APCOR, interessada em ajudar a salvar e valorizar um património ímpar da indústria corticeira portuguesa? Será indiferente para a Amorim, e para a APCOR, que se esforçam por vender lá fora a imagem da cortiça, ver desaparecer um arquivo industrial de valor incalculável?
O que pensariam os consumidores norte-americanos e europeus, se soubessem que o país que os tenta convencer da modernidade e pujança da sua indústria da cortiça, e das virtudes deste produto natural e renovável, é o mesmo país que não preserva e respeita a sua memória, assistindo impávido e sereno ao desaparecimento de um dos melhores museus industriais da Europa?


E o que estará disposta a fazer a sociedade civil por esta causa? Fazer "gosto" nas redes sociais é fácil e demora apenas um segundo. Assim sendo, o que estarão dispostos a fazer, pelo Museu da Cortiça, em Silves, os mais de 700 amigos que a sua página ostenta no Facebook? Sairão à rua, ou assinarão uma petição, em sua defesa? Ou, como é hábito em Portugal, vamos esperar sentados no sofá que os outros decidam por nós?

Uma coisa é certa, um país que não sabe preservar o seu passado e a sua memória, é um país sem futuro.

P.S. - Uma parte dessa sociedade civil começou hoje, no Dia Internacional dos Museus, a dar a sua resposta. Porque, às vezes, são os mais novos a desbravar caminho...

2 comentários:

Arlindogarden disse...

NÃO CONHEÇO O MUSEU, PORÉM, SUBSCREVO INTEIRAMENTE. APESAR DE ATRAVESSARMOS MOMENTOS MENOS BONS, DEVEMOS PRESERVAR A BOAS MEMÓRIAS. DEVE SER O CASO!

Anónimo disse...

Conheço e recomendo. Neste museu está uma réplica de um azulejo que retrata a extração da cortiça, o original é possível vê-lo na estação de caminhos-de-ferro de Santiago do Cacém. Este comportamento só pode surpreender quem não conhece a situação do montado numa extensão de milhares de hectares que foi divulgada no biosfera, mais de um milhão já abatidas e a mesma quantidade pronta para o ser. Os ambientalistas nem uma palavra, os políticos idem e curiosamente os ditos cientistas teimam em tapar o sol com a peneira e recusam-se a ver a realidade. Alguém sabe dizer porquê?