terça-feira, agosto 17, 2010

Sobre a imbecilidade humana



Petrópolis (Brasil). Mas podia ser em muitas outras cidades, não apenas da América Latina, mas também da, supostamente evoluída, Velha Europa.

Adenda: mais informações sobre este caso de Petrópolis.

8 comentários:

Unknown disse...

Obrigado Pedro!

Seu blog foi de grande valia para encontrar amigos dedicados a essa causa em todo o mundo.
Com as orientações, os comentários e a experiência de vocês estamos orientando nossas ações para mobilizar a sociedade de Petrópolis.
A contribuição de vocês é muito importante.
Que nosso próximo vídeo seja para mostrar o lado belo de tudo isso. Aquilo que nos motiva lutar pela preservação.

Abraços da equipe da Televisual aos irmãos portugueses.

Heber Lobato Jr.
www.televisual.com.br
www.youtube.com/televisualfilmes
www.twitter.com/TelevisualFilms

Marcelo disse...

É terrível a forma como algumas pessoas acabam por fazer isso com as árvores, e pelas imagens, os exemplares estão em área pública, cuja responsabilidade é do municipio.

Eu trabalho na Secretaria de Meio Ambiente de Vitória, capital do Espírito Santo, estado vizinho ao Rio de Janeiro, onde está localizada a cidade onde aconteceu este crime. Aqui, todas ás arvores públicas são georreferenciadas e há uma maior fiscalização por quatro fatores: 1) por ser justamente a capital do estado; 2) por dotar de bons recursos orçamentários para realizar este trabalho; 3) pela área do município ser relativamente pequena (81 km², sem área rural, com ocupação urbana na maior parte da area e o restante parques e reservas ambientais de mata atlantica, mata paludosa, restinga e mangue). Aqui, as multas aplicadas pelo municipio são altíssimas: uma poda irregular ou uma retirada de um exemplar de mata nativa é uma infração de R$ 4.000,00 (algo aí em torno de 2.000 euros ou 2.200 dólares americanos). E como as árvores são todas georrefenciadas não fica difícil saber muitas das vezes quem é o responsável, muitas das vezes é o proprietário do imóvel, supostamente se sentindo prejudicado pela presença da árvore na calçada, no passeio público, é quem faz isso.

Anónimo disse...

Parece "podada" à cornada! (só pode né?)

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Caro Heber,


Muito obrigado, também, por ter sabido colocar de forma artística as preocupações que tantas pessoas têm, de ambos os lados do oceano, em relação às árvores.

Este problema das podas está longe de ser um exclusivo de certos municípios do Brasil e ocorre também em muitas cidades europeias, sobretudo no Sul do continente. A Norte e nas Ilhas Britânicas, as pessoas têm outra relação com as árvores urbanas.

Aí no Brasil, penso que ninguém melhor do que os Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho, em cujo blogue descobri este vídeo, poderá ajudar-vos, em Petrópolis, nessa luta.

Um forte abraço e força para essa luta. A vossa vitória será também de todos os que, em qualquer parte do mundo, lutam pela defesa das árvores.

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Olá Marcelo,

Muito obrigado pelo seu comentário. O que você refere é muito curioso e vai no seguimento do que já tinha lido noutros blogues brasileiros, ou seja, que as podas irregulares são feitas, muitas vezes ou mesmo na maioria, pelos próprios cidadãos.
Em Portugal, por exemplo, as podas das árvores em espaço público são todas feitas pelas respectivas autoridades municipais. É extremamente invulgar um cidadão assumir a iniciativa de podar uma árvore que se situe numa rua ou avenida, mesmo que se sinta prejudicado pela mesma. O que ele vai fazer é pressionar as autoridades municipais para fazerem essa poda.

No entanto, apesar das podas serem feitas a mando das autoridades, na maioria dos municípios elas são feitas de forma errada, porque, muitas vezes, as empresas contratadas para fazer esse serviço não possuem técnicos qualificados para tal. Ou seja, muitos municípios adjudicam essas podas às empresas que apresentam o orçamento mais baixo, sem verificarem sem possuem capacidade para o executar.
Mas esse nem seria o verdadeiro problemas, se as pessoas, posteriormente, se revoltassem com a forma como as árvores das suas cidades são podadas. No entanto, por ignorância, a maioria das pessoas, apesar de gostarem de árvores, acham estas podas normais.

Este fato tem uma explicação cultural muito simples que tem a ver com a cultura europeia. Ou seja, para nós, as árvores são vistas quase que exclusivamente, há centenas e centenas de anos, como elementos produtivos. Ou seja, a árvore na cidade é vista como se estivesse no campo, onde ela necessita de ser podada para fornecer aquilo que o ser humano precisa, quer seja um determinado fruto, quer seja madeira, por exemplo.

Este conceito de árvore de produção (ou "pollard" em terminologia inglesa) está muito bem representado neste quadro de Van Gogh (http://www.1st-art-gallery.com/Vincent-Van-Gogh/Pollard-Birches.html) que representa o aspecto típico de uma árvore num campo agrícola europeu.

O verdadeiro problema é que as árvores nas cidades têm outra função e não necessitam desse tipo de podas.

Marcelo disse...

As podas irregulares de árvores públicas são muitas vezes realmente são feitas pelo cidadão, mas isso acontece mais em cidades menores. No Brasil, há a cultura de tornar privado o bem público e isso é horrível. Não acontece só com o dinheiro público mas com as arvores também. As pessoas pensam que, se arvores estão na frente de sua casa ou se ela causam algum incomodo, mesmo estando em área pública ela pensa que tem o direito de fazer o que bem pensar: está minha calçada, me incomoda, então eu vou cortá-la.

Em Vitória acontece sim esse tipo de poda irregular, mas é menor o número de casos, porque a multa é pesada e por causa do georreferenciamento dos exemplares. E dependendo do exemplar, um pau-brasil, um jequitibá, que além de espécimes nativos da flora local estão em risco de extinção, além das multas, corre o risco da pessoa responder a um processo criminal previsto na Lei de Crimes Ambientais.

Aqui a poda regular é feita pela Prefeitura, o cidadão tem que pedir a Gerencia de Areas Verdes este serviço. Mas se houver fiação elétrica cabe a Companhia de Energia Elétrica fazer o serviço (e a poda quando feita neste caso é terrível). Se for um espécime nativo da Mata Atlantica, tem que ver qual é melhor maneira de fazer a poda, ver se realmente é necessário (extrair o espécime nem pensar). Até a pessoa conseguir o serviço vão se passar meses. Ele mesmo vai lá com um facão e faz por conta própria em 30 minutos, isso quando ele não consegue uma husqvarna ou uma sthil e corta bem ao solo. Nessa época de eleição não duvidaria nada que conseguiria maquinários e gente necessária para conseguir realizar esse serviço na própria prefeitura em cidades do interior.

Na capital ou em cidades maiores isso é mais dificil. Mas na mesma prefeitura há políticas diferentes quanto a poda de arvores por exemplo e não há troca de informações. Tem um caso aconteceu aqui na minha cidade, que explica bem isso. Um cidadão, de posses, foi pedir autorização de retirada de arvores do seu terreno na secretaria do meio ambiente. Mas a secretaria não autorizou, porque pelo georrefenciamento, á area do terreno era uma Area de Proteção Ambiental, e pior, uma area de risco geológico (uma area de morro com muitas pedras). Era uma area com muito mato, capim alto, e algumas arvores nativas aos fundos ficava a area de mata, mas a linha da Area de Proteção Ambiental do Municipio passava exatamente no terreno dos fundos da casa, onde ele queria roçar o mato e arrancar as arvores que havia lá. Ele não conseguiu pelo meio ambiente, então pediu autorização à secretaria de saude para poder a mesma poda, o mesmo roçado, sob a alegação de ser um terreno baldio e que havia risco de haver focos de mosquito aedes aegipti (o mosquito da denque, que todos os anos acontece milhares de casos de dengue aqui no estado). A secretaria saúde autorizou o serviço e o cidadão limpou o terreno mesmo. Ou seja: a mesma prefeitura que não autorizou o serviço, é a mesma que autorizou depois, sem troca de informações nem nada. Os fiscais do meio ambiente foram lá para lavrar a multa devido ao problema e o cidadão mostrou a autorização da Secretaria de saúde... só que depois ele viria a ser multado por desmonte de rocha... o cidadão queria limpar o terreno para fazer uma churrasqueira e uma piscina, mas era uma area de morro muito ingreme com algumas arvores, ele conseguiu a poda, mas ele teve que cortar a rocha para terminar o serviço... e a multa foi pesada, os fiscais não tinha engolido á tatica dele pedir a outra secretaria sob alegação de um falso motivo para desmatar um terreno em área de proteção ambiental.

Unknown disse...

Amigo Pedro,

Além do seu apoio agradeço o seu comentário e o do Marcelo. Fiquei com vontade de ter aqui em Petrópolis alguém na Secretaria do Meio Ambiente com essa mentalidade.

Aqui quem está fazendo toda essa destruição é o poder público, com a supervisão da Secretaria do Meio Ambiente que diz que isso é normal! Se vocês leram as informações postadas junto com o vídeo, viram que a mentalidade é criminosa. Um Presidente da fundação de Cultura e Turismo manda cortar uma árvore sadia e duplamente protegida por lei e, logo em seguida, é premiado com o acúmulo de mais uma secretaria no governo.

Afirmo que toda essa ajuda de vocês será positiva para conscientizar mais e mais pessoas. Se quiserem ter mais detalhes de como a coisa está crescendo, publiquei ontem em nosso site uma matéria sobre o tema cujo link tomo a liberdade de compartilhar com vocês:

http://www.televisual.com.br/Televisual/NOTICIAS/NOTICIAS.html

Um forte abraço!

Heber Lobato Jr.
www.televisual.com.br
www.youtube.com/televisualfilmes
www.twitter.com/TelevisualFilms

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Caro Marcelo,

Em Portugal, também é nas maiores cidades que as árvores são melhor cuidadas. As populações estão melhor esclarecidas e exercem, elas próprias, directamente ou através da comunicação social, uma melhor vigilância sobre as autoridades municipais.

Espero que continue esse bom trabalho no seu município, sobretudo na denúncia desses "chicos-espertos" que refere no seu último comentário.




Caro Heber,

Actualizei o texto colocando uma ligação para o endereço que menciona.
Já agora, aconselhava que partilhasse esta trsite história com outra grande defensora e conhecedora das árvores brasileiras, a Juliana Gatti, do blogue:http://arvoresvivas.wordpress.com/

Um abraço de solidariedade!