Como escrevi na resposta a um comentário, de um texto anterior, muitas árvores são mal podadas, porque as empresas que executam esses trabalhos não possuem técnicos qualificados para tal tarefa. O que, por sua vez, deriva do facto das autarquias atribuírem essas empreitadas às empresas que apresentam o orçamento mais baixo, mesmo que se trate de empresas que nada têm a ver com árvores e espaços verdes, em detrimento dos verdadeiros profissionais do sector.
Mas esse nem seria o verdadeiro problema, se os cidadãos, posteriormente, se revoltassem com a forma como as árvores das suas cidades são podadas. No entanto, por ignorância, a maioria das pessoas, apesar de gostarem de árvores, acham estas podas normais e até essenciais para a sobrevivência e vigor das mesmas.
Este facto, no meu entendimento, tem uma explicação muito simples, que tem a ver com a cultura europeia, nomeadamente na dimensão do nosso relacionamento com o mundo rural. Na nossa cultura, as árvores são vistas, quase que exclusivamente, há centenas e centenas de anos, como elementos produtivos. Ou seja, a árvore na cidade é vista como se fosse uma extensão da árvore no campo, onde esta necessita de ser podada para fornecer aquilo que o ser humano precisa, quer seja um determinado fruto, quer seja madeira, por exemplo.
Este conceito de árvore de produção (ou "pollard" em terminologia inglesa) está muito bem representado neste quadro de Van Gogh, que representa o aspecto típico de uma árvore num campo agrícola europeu.
O verdadeiro problema é que as árvores nas cidades têm outra função e não necessitam desse tipo de podas: Porque é que, simplesmente, não as abatem? (texto do blogue da Árvores de Portugal.)
Este facto, no meu entendimento, tem uma explicação muito simples, que tem a ver com a cultura europeia, nomeadamente na dimensão do nosso relacionamento com o mundo rural. Na nossa cultura, as árvores são vistas, quase que exclusivamente, há centenas e centenas de anos, como elementos produtivos. Ou seja, a árvore na cidade é vista como se fosse uma extensão da árvore no campo, onde esta necessita de ser podada para fornecer aquilo que o ser humano precisa, quer seja um determinado fruto, quer seja madeira, por exemplo.
Este conceito de árvore de produção (ou "pollard" em terminologia inglesa) está muito bem representado neste quadro de Van Gogh, que representa o aspecto típico de uma árvore num campo agrícola europeu.
O verdadeiro problema é que as árvores nas cidades têm outra função e não necessitam desse tipo de podas: Porque é que, simplesmente, não as abatem? (texto do blogue da Árvores de Portugal.)
7 comentários:
intéressante question...
la taille a une longue histoire
et aussi les instruments de taille
avec la maitrise des aciers
la cisaille date de la renaissance,
le sécateur date du XIX°
la grande innovation depuis 20 ans est le taille haie mécanisé ou à moteur électrique qui permet de transformer les arbres en blocs de béton
terriblement destructeur
la taille des arbres fruitiers avait atteint un haut niveau de fantaisie au début du XX siècle
grace au sécateur
Olá,
"Pollard" não representa o conceito de árvore de produção. "Pollarding" é um tipo de poda utilizado para promover um crescimento acentuado de ramos e folhas. Nas árvores florestais é utilizado com o objectivo de obter folhas e ramos para alimento para o gado ou lenha. Apenas se utiliza com algumas espécies, como bétulas (na figura, choupos, amieiros, entre outras). Hoje em dia é uma prática em desuso, devido, entre outras razões, ao abandono do meio rural. Julgo que a tradução mais correcta de "pollarding" será "talhadia de cabeça" (sendo a talhadia comum - corte do tronco ao nível do cepo,aproveitando a boa capacidade de rebentação a partir do cepo ou raízes de determinadas espécies - utilizada, por exemplo, em castinçais para a selecção de varas).
A ignorância das pessoas "vindas do campo", resulta, acima de tudo, da utilização de técnicas similares em árvores de fruto (e também das chamadas podas de rejuvenescimento das oliveiras). Ou seja, a razão não será tanto devido à experiência dessas pessoas com árvores florestais, mas sim com outro tipo de culturas agrícolas ou agro-florestais.
E atenção, que esta afirmação é algo ousada e não fundamentada: "... que representa o aspecto típico de uma árvore num campo agrícola europeu." A Europa é grande e diversificada...
Saudações Florestais
(Resposta: Parte I)
Caro Florestal,
Muito obrigado pelas suas considerações e acrescentos. A vida de um blogue faz-se mais dos comentários e ideias que se trocam e não tanto, ou não apenas, dos textos em si.
Efectivamente, não fui a um dicionário à procura do sinónimo, em português, para "pollard", mas as minhas deduções também não resultaram de especulação pura e simples.
A Árvores de Portugal co-organizou, no ano transacto, um seminário sobre árvores com a presença de Ted Green e Jill Butler, do Woodland Trust (pode consultar as suas biografias no blogue da Árvores de Portugal), que são dos maiores, se não os maiores, especialistas do Reino Unido em árvores históricas e na relação da cultura humana com as árvores, ao longo da história, na Europa. É essa a vida deles, ou seja, passar o ano a visitar a Europa na descoberta da forma como os europeus exploram as árvores, em ambiente rural e florestal.
Foi com eles que ouvi o termo "pollard" pela primeira vez. A acepção que eles deram ao termo, eles que são ingleses e especialistas na matéria, foi que um "pollard" é uma árvore de produção (este termo “árvores de produção” é meu), quer seja um castanheiro bravio conduzido em talhadia ou alto fuste para aproveitamento da madeira, quer seja num castanheiro podado de forma a maximizar a produção de castanha.
Não depreendi que, para um britânico, ainda para mais, um estudioso de "pollards" por toda a Europa, este conceito se aplique em exclusivo a um único tipo de poda ou a número limitado de espécies e, muito menos, apenas a árvores em ambiente estritamente florestal.
Aliás, a título de exemplo, o "pollard" que mais os entusiasmou e emocionou foi o espectacular e multi-centenário sobreiro de Pai Anes, no Alentejo (http://sombra-verde.blogspot.com/2008/02/o-sobreiro-de-portugal.html). Para eles, as árvores de um montado, por exemplo, são “pollards” e, tanto quanto sei, nem as quercíneas que formam os montados alentejanos são exploradas em talhadia, nem um montado pode ser reduzido a um ambiente florestal.
(continua...)
(Parte II)
Quanto à Europa e à minha ousadia, voltemos novamente ao simpático casal britânico e a uma pequena história que me contaram à mesa de um restaurante alentejano. Falávamos da paisagem europeia e de como era difícil, ou quase impossível, encontrar habitats e paisagens (incluindo as paisagens florestais) na Europa, que não tivessem sido já alterados, em menor ou maior grau, pelo ser humano.
Por entre umas considerações acerca da evolução da paisagem no Parque Nacional Białowieża, na Polónia, (supostamente o último refúgio dessa “Europa dita selvagem”), contaram-me o desabafo de um estudioso canadiano de árvores, que visitava o nosso continente pela primeira vez: “Será que não há árvores intocadas por estas bandas?”. Ao que o casal britânico respondeu que para tal, para ver as tais paisagens de árvores não exploradas, tinha o Canadá!...
O que é que significa esta história, que na Europa todas, rigorosamente todas, as árvores são exploradas? Claro que não.
Que, no caso das árvores que são exploradas, não há diferenças profundas consoante a região do continente em análise? Claro que não.
Para ver essas diferenças, aliás, nem é preciso sair do nosso país.
O que aquela história quis dizer, e que em parte foi o que tentei dizer no meu texto, é que no nosso continente, por ser profundamente humanizado há muitos séculos, é muito difícil observarmos paisagens (agrícolas, pastoris, florestais,…), em que o homem não tenha intervindo sobre as árvores.
Na Europa, as ditas “paisagens naturais” (e aqui também está um conceito que nos podia levar longe) escasseiam e a maioria das “paisagens com árvores” mostram árvores nas quais o ser humano interveio, porque são árvores que têm propósitos produtivos: pode ser um pomar de macieiras, pode ser um montado de sobreiros, pode ser um castinçal, pode ser uma paisagem agrícola minhota recheada de “pollards” de choupos ou salgueiros para produção de varas, podem ser muitas coisas…
O que eu fiz, com aquela frase do texto, foi generalizar e as generalizações valem o que valem. A minha generalização é propositadamente pouco fundamentada porque serve o propósito geral do texto (que eu explicarei mais adiante, já que não foi entendido). Se um dia escrever um livro ou um artigo científico sobre a árvore na paisagem europeia, aí sim terei que ter mais cuidado com as ousadias e as generalizações.
(Continua…)
(Parte III)
Por último, caso não tenha ficado claro, no texto e nos dois comentários anteriores, na minha opinião (e que fique bem claro que é na “minha opinião), esta relação dos europeus com as árvores, ou seja, esta permanente intervenção sobre as árvores na paisagem ao longo dos séculos ajuda a explicar (porque não explica tudo…) esta necessidade de, igualmente, “domesticar” as árvores em meio urbano.
Aplicando-lhes, muitas vezes, conceitos que podem estar certos, por exemplo, para uma árvore de fruto, mas que, se aplicados a uma árvore ornamental se revelam totalmente errados.
Por outro lado, a imagem que muitos de nós tem das árvores, nomeadamente das nossas raízes no mundo rural, é a da poda como algo natural e desejável. Aliás, não é por acaso que a falta de “poda e limpeza” das árvores costuma ser vista como sinal de desleixo.
No meu entendimento, e sublinho que é no “meu” entendimento, é esta cultura que explica, em certos casos (Não em todos!) a forma como aceitamos a poda desastrosa das árvores ornamentais nas cidades. Ou seja, para mim, a maioria dos cidadãos aceita estas práticas porque as consideram naturais e até benéficas para as árvores.
Cumprimentos.
P.S. – Para mim, sublinho “para mim”, uma “árvore de produção” é toda a árvore sobre a qual o homem intervém no sentido de obter um dado produto. Se a utilizei como sinónimo de “pollard” é porque não gosto de usar terminologias estrangeiras (sobretudo em inglês) e porque, na minha ignorância, não conheço um termo, na nossa língua, que se possa aplicar a todos os casos referidos, ou seja, a um castanheiro que produz castanha, a um salgueiro que produz varas ou a um sobreiro que produz cortiça.
P.S. S. – E claro que nem todos os europeus são iguais, felizmente. Nem todos transplantam para as cidades e as árvores ornamentais, este desejo de “domesticar” a árvore.
Olá,
Obrigado pela sua explicação. Eu percebi o seu texto, e concordo com grande parte dele. Apenas referi o meu desacordo com alguns pormenores nele contidos.
Concordo integralmente que a milenar presença humana na Europa alterou substancialmente a paisagem, sendo inclusive altamente duvidoso que existam muitos habitats verdadeiramente naturais (isto é, pristinos, nunca tendo sofrido a influência humana) no Continente Europeu (e nas Ilhas Britânicas).
Poderei estar enganado, mas, como Silvicultor, continuo a não concordar com a definição generalista utilizada do termo "pollard" (seja por si, seja pelo Ted Green e a Jill Butler). Na silvicultura há uma distinção muito clara entre a "talhadia de cabeça" e a "talhadia comum" (em ambas as línguas). Mais uma vez, obviamente que é um pormenor, e que em nada desvirtua a ideia do seu texto. Mas achei que valia a pena chamar a atenção para o facto. Como refere,a meu ver muito bem, são os comentários e trocas de ideias que dão vida aos blogs!
Saudações florestais
Olá Florestal,
Provavelmente, o termo "pollard" teve, em Inglaterra, inicialmente essa designação específica que refere e, com o tempo, foi-se generalizando a outras situações. Ou há ainda a possibilidade, que queria ter referido e me esqueci, de poder ter sido eu que não compreendi bem a explicação do dito casal britânico.
Cumprimentos e obrigado pelos esclarecimentos adicionais que proporcionaram um enriquecimento do texto.
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