"Um poema ou uma árvore podem ainda salvar o mundo." - Eugénio de Andrade
terça-feira, abril 20, 2010
Poucas vezes...
Poucas vezes li coisa tão acertada, e certeira, sobre as árvores do nosso país:
"Os países, como Portugal, preocupados em plantar muitas árvores mas sem a mínima noção de como se cuida delas, são como aqueles pais que têm muitos filhos mas depois não os educam." Blog de Cheiros.
Pois eu não gostei nem concordo. Não me parece que em Portugal se plante muitas árvores, antes pelo contrário o que se vê são antigos campos agrícolas abandonados. O esforço de florestação tem de ser maior. O território tem de ser gerido e explorado quer seja agricultura, floresta, pecuária, biodiversidade, etc. O que não pode continuar a acontecer é o abandono impune, a gestão absentista e o ordenamento casuístico. A continuarmos assim continuam os incêndios, continua a descapitalização dos proprietários e continua esta espiral de abandono. Há em Portugal muitos e bons profissionais que têm boa noção de como se constroi e se gere a floresta.
Em primeiro lugar, temos que distinguir duas situações. A situação da árvore nas cidades e a situação das nossas matas.
Penso, e esta é a minha opinião pessoal, que a frase da Rosa se refere, sobretudo, à situação nas cidades. Nas cidades portuguesas faz-se uma péssima manutenção das árvores ornamentais, ridicularizadas por rolagens incompreensíveis que mais não fazem do que acelerar o processo de decrepitude das mesmas. Os municípios tentam emendar esta situação, plantando, ano após ano (geralmente no Dia da Árvore), árvores que, passados alguns anos,sofrerão tratamento semelhante. Acresce que, bastantes vezes, a escolha das espécies é errada, plantando-se espécimes de grandes dimensões em espaços exíguos, e, de igual modo, plantando um número excessivo de exemplares dada a área disponível. Consequências? Passados poucos anos entra em acção a motosserra para corrigir a falta de planeamento.
Por isso, na minha opinião e na de muita gente que percebe de árvores muito mais do que eu, mais do que plantar dezenas de árvores todos os anos, (grande parte das quais estará a ser rolada em pouco mais de uma década), mais vale investir na correcta manutenção do património arbóreo que herdámos.
E, quando chegar a hora de plantar novas árvores, que se saiba escolher a espécie, e o número de espécimes, em função do espaço disponível.
O leitor não acha estranha a recorrente falta de sombras nas nossas cidades? Mas desengane-se, o problema não se resolve plantando árvores e mais árvores, se depois as vamos mutilar passados alguns anos, situação que depois acarreta uma precoce necessidade de as abater e substituir por novos exemplares. Fenómeno que, não duvido, deve dar bom dinheiro a ganhar a muita gente. Há, em Portugal, uma confrangedora falta de árvores velhas nas nossas cidades. Um estudo da UTAD, que me foi referenciado, referia que a idade média das árvores, no Porto, não chega sequer aos 30 anos. Como se quer ter sombras a sério se não deixamos as árvores atingir a idade adulta com copas bem desenvolvidas e as condenamos a uma morte lente a precoce?
Por outro lado, penso que a frase da Rosa também se referia às dezenas de campanhas que existem, hoje em dia, de plantação de árvores. Muitas das quais patrocinadas por empresas que, desta forma, tentam capitalizar a simpatia dos consumidores e fazê-los esquecer dos outros impactos que a sua actividade tem no meio ambiente. Hoje em dia, parece que plantar uma árvore é suficiente para apagar todos os problemas do mundo...
Claro que há empresas e há empresas, há campanhas e há campanhas...Ninguém gosta mais de árvores do que eu, acredite. Mas há muita hipocrisia em muitos destes actos.
Nas restantes campanhas, naquelas que são genuínas e mais ligadas à sociedade civil (e menos a empresas), há que apelar a que as mesmas sejam coordenadas pelas tais pessoas que refere, os nossos bons profissionais do sector florestal, para que não passem de actos bem intencionadas mas inconsequentes.
Sobre os assuntos que refere e com os quais, genericamente, concordo, muito haveria a dizer. Só isso, a nossa política para o mundo rural, daria textos para actualizar um blogue durante 10 anos.
Tem razão em tudo o que refere, apenas discordando num pequeno aspecto. O abandono de campos agrícolas agricultura tem, em certas situações,e dado esse abandono, propiciado uma reocupação dos mesmos por zonas de matos, que também têm uma importância ecológica para muitas espécies animais, e mesmo por pequenos bosques de árvores autóctones. Noutros casos, infelizmente, esse abandono tem propiciado o avanço de muitas espécies invasoras, como as acácias. Pessoalmente, conheço exemplos de ambas as situações.
No entanto, e voltando a sublinhar que é apenas a minha opinião e que a mesma se baseia, sobretudo, num conhecimento empírico, a uma escala nacional o abandono do nosso mundo rural tem, obviamente, muitas mais desvantagens do que vantagens. Também para as árvores e para a floresta.
Caro Pedro Nuno, Eu sei que não toma a “árvore pela floresta”. A floresta, ou bosque ou mata como lhe preferir chamar, tem certamente problemas que pelos vistos não era a intenção deste post abordar. Já que falamos de árvores em meio urbano há que distinguir também entre as árvores de arruamento e as árvores de jardim/parques porque as suas estratégias de gestão e os factores de risco e stress a que estão sujeitas são diferentes. Na verdade concordo consigo na denúncia desta mutilação sem sentido que ciclicamente padecem muitas das nossas árvores em meio urbano, nomeadamente as de arruamento. Eu tenho a sorte de viver numa cidade, Lisboa, que de uma maneira geral tem uma boa política de gestão das árvores de arruamento e onde a prática da rolagem não é felizmente a regra. Lisboa tem efectivamente uma quantidade de árvores que faz inveja a muitas cidades, basta olhar para baixo quando o avião aterra na Portela. Foi está situação invejável que serviu de inspiração a Santiago Calatrava quando desenhou as suas árvores estilizadas da Gare do Oriente. Por isso de falta de sombra ou de “espaços verdes” não me queixo em Lisboa. Relativamente à falta confrangedora de árvores velhas nas nossas cidades. Parece-me que não se deve referir a árvores em jardins e parques “consolidados” mas sim a árvores de arruamentos e de novos espaços verdes. A verdade é que o nosso espaço urbano revolucionou-se nos últimos 30 anos e obviamente nesta nova “cidade” há muitas árvores novas. Em relação às publicidades e empresas hipócritas eu também acho obscena aquela campanha que diz “um carro T. uma árvore” ainda para mais apadrinhada por uma associação do sector florestal. Mas enfim … Permita-me discordar apenas consigo em relação ao abandono dos campos agrícolas. Absentismo é absentismo e mesmo a regeneração natural deve ser gerida e acompanhada. Parabéns pelo seu blog e pela sua paixão pelas árvores que é partilhada por tantos de nós.
Também eu estou de acordo com o sentido da frase e com as opiniões expressas. Apenas um pequeno comentário a Lisboa. Em Lisboa regista-se neste momento uma grande dualidade, se por um lado até se renovam uns jardins e se plantam muitas árvores, algumas na linha do oportunismo politico e económico outras honestamente, por outro destroem-se árvores sem critério defenido, por vezes o critério até é o do gosto pessoal de quem manda de momento ou por puro interesse económico. O que se passa no Parque florestal de Monsanto, zona verde mais importante da cidade, é um exemplo real e bastante significativo do que acabo de descrever e é uma pena que assim seja. Obrigado e cumprimentos.
Caro A. Lourenço, As pressões sobre Monsanto não são de agora. Um pouco da história das pressões a que foi sujeito desde a sua criação pode ser consultada no site da CM Lisboa aqui http://webserver.cm-lisboa.pt/pmonsanto/MONS_Historia.htm. A subestação da REN é mais uma machadada no nosso património florestal como se pode ler no comunicado da plataforma por Monsanto http://www.aspea.org/PMonsantoComunicado.pdf. Felizmente Monsanto estar sujeito ao Regime Florestal Total ainda dá algumas pequenas garantias http://www.publico.pt/Local/supremo-considera-nulas-as-cedencias-de-terrenos-a-privados-em-monsanto_1411322. O problema são as decisões do Ministério do Ensino Superior, do Ministério da Economia, do Ministério da Defesa, ... que não tendo responsabilidades directas na gestão do espaço da "cidade" o vão deixando cada vez mais pobre e descaracterizado. Cabemos a nós cidadãos usar aquele espaço e denunciar as iniquidades.
Lisboa, que conheço mal, infelizmente, tem essa situação contraditória. Por um lado, e do pouco que conheço da cidade, não conheço situações de rolagem de árvores. Existirão alguns casos, eventualmente, mas, pelo menos, não será uma situação generalizada.
Por outro lado, há situações como a de Monsanto ou do Príncipe Real; ou ainda, apesar de menos faladas, umas laranjeiras saudáveis abatidas para colocar calçada, na Praça de Alvalade ou um jardim de cerejeiras onde, por negligência, todas ou quase todas morreram (http://sombra-verde.blogspot.com/2008/06/um-jardim-digno-da-nossa-pequenez.html)
É como o leitos ZMS disse, tudo depende de uma cidadania mais actuante por parte de todos nós. Quando mais forte for o movimento de apoio à causa da qualidade vida nas cidades, menos espaço terão os poderes ocultos para impor a "betonização" dos espaços públicos citadinos.
9 comentários:
Também gostei muito.
Pois eu não gostei nem concordo.
Não me parece que em Portugal se plante muitas árvores, antes pelo contrário o que se vê são antigos campos agrícolas abandonados. O esforço de florestação tem de ser maior. O território tem de ser gerido e explorado quer seja agricultura, floresta, pecuária, biodiversidade, etc. O que não pode continuar a acontecer é o abandono impune, a gestão absentista e o ordenamento casuístico. A continuarmos assim continuam os incêndios, continua a descapitalização dos proprietários e continua esta espiral de abandono. Há em Portugal muitos e bons profissionais que têm boa noção de como se constroi e se gere a floresta.
Acho que vou afixar esta frase na sala de professores da minha escola. De certeza que vai ser apreciada.
Caro ZMS:
Em primeiro lugar, temos que distinguir duas situações. A situação da árvore nas cidades e a situação das nossas matas.
Penso, e esta é a minha opinião pessoal, que a frase da Rosa se refere, sobretudo, à situação nas cidades. Nas cidades portuguesas faz-se uma péssima manutenção das árvores ornamentais, ridicularizadas por rolagens incompreensíveis que mais não fazem do que acelerar o processo de decrepitude das mesmas. Os municípios tentam emendar esta situação, plantando, ano após ano (geralmente no Dia da Árvore), árvores que, passados alguns anos,sofrerão tratamento semelhante.
Acresce que, bastantes vezes, a escolha das espécies é errada, plantando-se espécimes de grandes dimensões em espaços exíguos, e, de igual modo, plantando um número excessivo de exemplares dada a área disponível. Consequências? Passados poucos anos entra em acção a motosserra para corrigir a falta de planeamento.
Por isso, na minha opinião e na de muita gente que percebe de árvores muito mais do que eu, mais do que plantar dezenas de árvores todos os anos, (grande parte das quais estará a ser rolada em pouco mais de uma década), mais vale investir na correcta manutenção do património arbóreo que herdámos.
E, quando chegar a hora de plantar novas árvores, que se saiba escolher a espécie, e o número de espécimes, em função do espaço disponível.
O leitor não acha estranha a recorrente falta de sombras nas nossas cidades? Mas desengane-se, o problema não se resolve plantando árvores e mais árvores, se depois as vamos mutilar passados alguns anos, situação que depois acarreta uma precoce necessidade de as abater e substituir por novos exemplares. Fenómeno que, não duvido, deve dar bom dinheiro a ganhar a muita gente.
Há, em Portugal, uma confrangedora falta de árvores velhas nas nossas cidades. Um estudo da UTAD, que me foi referenciado, referia que a idade média das árvores, no Porto, não chega sequer aos 30 anos. Como se quer ter sombras a sério se não deixamos as árvores atingir a idade adulta com copas bem desenvolvidas e as condenamos a uma morte lente a precoce?
Por outro lado, penso que a frase da Rosa também se referia às dezenas de campanhas que existem, hoje em dia, de plantação de árvores. Muitas das quais patrocinadas por empresas que, desta forma, tentam capitalizar a simpatia dos consumidores e fazê-los esquecer dos outros impactos que a sua actividade tem no meio ambiente. Hoje em dia, parece que plantar uma árvore é suficiente para apagar todos os problemas do mundo...
Claro que há empresas e há empresas, há campanhas e há campanhas...Ninguém gosta mais de árvores do que eu, acredite. Mas há muita hipocrisia em muitos destes actos.
Nas restantes campanhas, naquelas que são genuínas e mais ligadas à sociedade civil (e menos a empresas), há que apelar a que as mesmas sejam coordenadas pelas tais pessoas que refere, os nossos bons profissionais do sector florestal, para que não passem de actos bem intencionadas mas inconsequentes.
Sobre os assuntos que refere e com os quais, genericamente, concordo, muito haveria a dizer. Só isso, a nossa política para o mundo rural, daria textos para actualizar um blogue durante 10 anos.
Tem razão em tudo o que refere, apenas discordando num pequeno aspecto. O abandono de campos agrícolas agricultura tem, em certas situações,e dado esse abandono, propiciado uma reocupação dos mesmos por zonas de matos, que também têm uma importância ecológica para muitas espécies animais, e mesmo por pequenos bosques de árvores autóctones. Noutros casos, infelizmente, esse abandono tem propiciado o avanço de muitas espécies invasoras, como as acácias. Pessoalmente, conheço exemplos de ambas as situações.
No entanto, e voltando a sublinhar que é apenas a minha opinião e que a mesma se baseia, sobretudo, num conhecimento empírico, a uma escala nacional o abandono do nosso mundo rural tem, obviamente, muitas mais desvantagens do que vantagens. Também para as árvores e para a floresta.
Caro Pedro Nuno,
Eu sei que não toma a “árvore pela floresta”.
A floresta, ou bosque ou mata como lhe preferir chamar, tem certamente problemas que pelos vistos não era a intenção deste post abordar.
Já que falamos de árvores em meio urbano há que distinguir também entre as árvores de arruamento e as árvores de jardim/parques porque as suas estratégias de gestão e os factores de risco e stress a que estão sujeitas são diferentes.
Na verdade concordo consigo na denúncia desta mutilação sem sentido que ciclicamente padecem muitas das nossas árvores em meio urbano, nomeadamente as de arruamento.
Eu tenho a sorte de viver numa cidade, Lisboa, que de uma maneira geral tem uma boa política de gestão das árvores de arruamento e onde a prática da rolagem não é felizmente a regra.
Lisboa tem efectivamente uma quantidade de árvores que faz inveja a muitas cidades, basta olhar para baixo quando o avião aterra na Portela. Foi está situação invejável que serviu de inspiração a Santiago Calatrava quando desenhou as suas árvores estilizadas da Gare do Oriente.
Por isso de falta de sombra ou de “espaços verdes” não me queixo em Lisboa.
Relativamente à falta confrangedora de árvores velhas nas nossas cidades. Parece-me que não se deve referir a árvores em jardins e parques “consolidados” mas sim a árvores de arruamentos e de novos espaços verdes. A verdade é que o nosso espaço urbano revolucionou-se nos últimos 30 anos e obviamente nesta nova “cidade” há muitas árvores novas.
Em relação às publicidades e empresas hipócritas eu também acho obscena aquela campanha que diz “um carro T. uma árvore” ainda para mais apadrinhada por uma associação do sector florestal. Mas enfim …
Permita-me discordar apenas consigo em relação ao abandono dos campos agrícolas. Absentismo é absentismo e mesmo a regeneração natural deve ser gerida e acompanhada.
Parabéns pelo seu blog e pela sua paixão pelas árvores que é partilhada por tantos de nós.
Caro ZMS,
Obrigado pelas suas palavras em relação ao blogue e esclarecimentos adicionais.
Cumprimentos.
Também eu estou de acordo com o sentido da frase e com as opiniões expressas.
Apenas um pequeno comentário a Lisboa.
Em Lisboa regista-se neste momento uma grande dualidade, se por um lado até se renovam uns jardins e se plantam muitas árvores, algumas na linha do oportunismo politico e económico outras honestamente, por outro destroem-se árvores sem critério defenido, por vezes o critério até é o do gosto pessoal de quem manda de momento ou por puro interesse económico.
O que se passa no Parque florestal de Monsanto, zona verde mais importante da cidade, é um exemplo real e bastante significativo do que acabo de descrever e é uma pena que assim seja.
Obrigado e cumprimentos.
Caro A. Lourenço,
As pressões sobre Monsanto não são de agora.
Um pouco da história das pressões a que foi sujeito desde a sua criação pode ser consultada no site da CM Lisboa aqui http://webserver.cm-lisboa.pt/pmonsanto/MONS_Historia.htm.
A subestação da REN é mais uma machadada no nosso património florestal como se pode ler no comunicado da plataforma por Monsanto http://www.aspea.org/PMonsantoComunicado.pdf.
Felizmente Monsanto estar sujeito ao Regime Florestal Total ainda dá algumas pequenas garantias http://www.publico.pt/Local/supremo-considera-nulas-as-cedencias-de-terrenos-a-privados-em-monsanto_1411322.
O problema são as decisões do Ministério do Ensino Superior, do Ministério da Economia, do Ministério da Defesa, ... que não tendo responsabilidades directas na gestão do espaço da "cidade" o vão deixando cada vez mais pobre e descaracterizado.
Cabemos a nós cidadãos usar aquele espaço e denunciar as iniquidades.
Lisboa, que conheço mal, infelizmente, tem essa situação contraditória.
Por um lado, e do pouco que conheço da cidade, não conheço situações de rolagem de árvores. Existirão alguns casos, eventualmente, mas, pelo menos, não será uma situação generalizada.
Por outro lado, há situações como a de Monsanto ou do Príncipe Real; ou ainda, apesar de menos faladas, umas laranjeiras saudáveis abatidas para colocar calçada, na Praça de Alvalade ou um jardim de cerejeiras onde, por negligência, todas ou quase todas morreram (http://sombra-verde.blogspot.com/2008/06/um-jardim-digno-da-nossa-pequenez.html)
É como o leitos ZMS disse, tudo depende de uma cidadania mais actuante por parte de todos nós. Quando mais forte for o movimento de apoio à causa da qualidade vida nas cidades, menos espaço terão os poderes ocultos para impor a "betonização" dos espaços públicos citadinos.
Obrigado a ambos pelos comentários.
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