Na Escola Secundária Sebastião e Silva, em Oeiras, foram abatidas mais de 100 árvores porque, segundo o arquitecto Luís Cabral, responsável pela requalificação do espaço, havia exemplares:
a) Infestantes;
b) Mal formados;
c) De folha persistente;
d) Localizados em locais onde é necessário edificar novos edifícios.
Vamos à análise dos pretensos motivos que justificariam tamanho barbárie:
Admito que não se pode ser preso por ter e por não ter cão. E eu que já, por tantas vezes, defendi que as espécies invasoras deveriam ser eliminadas dos espaços públicos, não critico esta opção (por princípio, pois admito excepções se estivermos a falar de exemplares notáveis).
Por este motivo, não me oponho a que, progressivamente, se vão substituindo estas espécies, existentes em jardins de edifícios públicos.
No entanto, tendo em conta que foram abatidas 120 árvores (!!!), não me deixo de questionar sobre quantas, destas árvores, seriam invasoras? Como não me deixo de interrogar sobre se este caso de Oeiras foi excepcional ou se, a partir de agora, todas as espécies invasoras existentes em jardins de escolas, ou de outros edifícios públicos, serão abatidas?
Obviamente, passando a outro argumento, é compreensível que se transplantassem os exemplares que colidissem com a construção de novos edifícios, dentro do recinto escolar. Admito mesmo que fosse impossível transplantar alguns desses exemplares, mas a decisão de as abater, pura e simplesmente, sem ponderar o transplante, mostra bem o valor que foi dado às árvores que existiam na escola.
Os restantes argumentos com que se pretendeu justificar este arboricídio são indecorosos! Abater árvores porque estão mal formadas é absurdo. As árvores não se querem perfeitas, querem-se seguras. Logo, ou bem que as árvores tinham problemas fitossanitários, que punham em sério risco os elementos da comunidade escolar, ou a decisão de as abater por não estarem muito perfeitinhas foi perfeitamente fútil.
Como fútil foi a decisão de abater árvores porque eram de folha persistente. Sim, é certo que as árvores de folha caduca têm a vantagem de renovar a folhagem, permitindo a passagem da luz solar no Inverno, mas pretende-se, como esse argumento, justificar o abate de árvores com dezenas de anos? Apenas porque eram de folha perene?!
Não satisfeito com esta argumentação, o Sr. arquitecto pretende que aceitemos o arboricídio de mais de uma centena de exemplares, com dezenas de anos, acenando com a plantação de novas árvores. O Sr. arquitecto acha uma chatice isto das árvores serem velhas e feias.
Chique a valer é plantar novas árvores, mais de acordo aos gostos do autor do projecto de requalificação. A história, essa, apaga-se ao som da motossera!
Deste modo, o arquitecto Luís Cabral ignorou o valor do pequeno ecossistema formado por esta centena de árvores no jardim desta escola, como ignorou o seu valor patrimonial e o valor sentimental que as mesmas tinham para dezenas de pessoas que estudaram e trabalharam neste lugar, ao longo dos anos.
Tudo isto foi feito em nome de uma requalificação para fazer nascer a escola do século XXI. Medo! A escola do século XXI está entregue à mais pura das ignorâncias, desrespeitadora da sua própria história e identidade.
Lamento apenas a aparente mudança de opinião do arquitecto face à preservação do arvoredo pré-existente.
O único argumento verdadeiramente válido para abater uma árvore é a sua falta de sustentabilidade e, logo, o risco da mesma cair e poder provocar danos, humanos ou materiais. É sintomático que este argumento não tenha sido referido, como justificativo, para abater nenhum dos 120 exemplares.
11 comentários:
E se a ideia pega e é transmitida aos humanos, principalmente aos infestantes?
O abate de algumas árvores, desde que justificado por razões fitossanitárias ou de estabilidade, não me choca, até porque se trata de uma escola (e no vídeo são visíveis alguns "cepos" completamente ocos, o que, nesses casos, justifica o abate). Agora remover 120 árvores duma só vez...
Se o problema era algumas serem infestantes ou proporcionarem demasiada sombra no Inverno, poderiam antes fazer uma remoção faseada, 1 ou 2 por ano, substituindo por outras, de porte e comportamento mais adequado ao local. Ainda assim, uma parte da beleza de um maciço verde resulta da alternância entre árvores de folha caduca e de folha persistente, como tal, embora compreenda os motivos energeticos por trás da decisão, não posso concordar com ela.
Ainda pior é irem plantar "árvores grandes"... É gastar (muito mais) dinheiro sem necessidade, correndo um risco muito superior problemas de adaptação ao local e de outros problemas futuros... É preferível plantarem plantas com 1 ou 2 anos de viveiro e fazerem uma manutenção adequada.
Quanto à possível transplantação de algumas árvores, penso tal seria de muito difícil praticabilidade e de sucesso muito reduzido. É um processo bastante caro, muito técnico e que envolve muitos meios. Acresce que o tipo de local, com tanto pavimento e edifícios em redor de algumas árvores, tornaria ainda mais difícil a operação. E, mesmo realizando-a, taxa de sucesso seria muito reduzida. Normalmente a transplantação só se justifica com determinadas espécies, ou com exemplares muito importantes. O que é necessário é bom senso e formação técnica adequada para a gestão do arvoredo urbano.
Saudações florestais
Caro Pedro,
Lamental esta situação, mas ao que parece bastante comum.Noto em Lisboa, nas referidas obras de requalificação em muitos espaços verdes o ocorrido´.Árvores seculares de jardins do seculo xix e inicio do século são abatidas para dar lugar a espaços "mal planeados". Quem no seu bom senso, e sendo profissional na área, opta por um canteiro de relva invés dos arbustos outrora existentes? ( habituados ao clima da cidade, "independentes" face a regas e até exercendo o papel fundamental de segurar as terras dos respectivos canteiros?).
Resta saber, se essas árvores caducas que serão ali plantadas, não serão árvores de grande porte em adultas, carecendo de uma " fantástica" pode de intervenção...
Será que somos tributados para para estas parvoices? para ser gasto dinheiro duas vezes? para requalificar locais ate apresentáveis, com tantos outros carecendo de ser qualificados?
Repara Pedro, os bons profissionais, que optam por jacarandás nas calçadas e por plátanos em ruas muito estreitas, ou mesmo o uso de espécies invasoras nas calçadas ( determinados locais de Lisboa apresentam robínias recentemente plantadas, nomeadamente numa variedade colunar, a quando poderia ter sido optado outras espécies, como robles tb colunares, entre outros).
Deixa-me só referir ainda que após ter contactado a câmara de Lisboa acerca dos ulmeiros doentes da avenida da liberdade, optaram por manter os doentes e surpreendentemente abaterem, ve bem, alguns exemplares saudáveis...
Desculpa o longo comentário,
abraços
Caro anónimo (das 10.22):
"O que é necessário é bom senso e formação técnica adequada para a gestão do arvoredo urbano."
Ora, nem mais. Pessoalmente, custa-me a leviandade com que se abatem 120 árvores. E, como professor, prometerem-me que se está a construir a "escola do século XXI"!
Cumprimentos.
Cumprimentos.
Olá Pedro,
São situações incompreensíveis as que descreves. E logo em Lisboa, que, supostamente, deveria ser um (bom) exemplo para o país.
Por exemplo, quando se abatem laranjeiras, na Praça de Alvalade, para as substituir por calçada de lioz (http://lisboasos.blogspot.com/2009/11/e-la-se-foram-as-laranjeiras-de.html), é difícil que as pessoas acreditem na bondade da CML sobre a requalificação do Jardim do Príncipe Real (http://lisboasos.blogspot.com/2009/11/requalificacao-ou-exterminacao.html). Nota: No Príncipe Real, supostamente, apenas seria para abater árvores com problemas fitossanitários.
E há ainda a ExperimentaDesign que quer fazer uma casa em metal, sobre uma tipuana classificada no Jardim de Santos, e por pessoas a subir e a descer da árvore, todos os dias. Árvores classificadas que é suposto terem um raio de protecção de 50 metros em seu redor!
Em relação a Oeiras...assusta-me o desprezo pelo que é velho e que isso venha a fazer escola no século XXI.
Abraço.
Caro Pedro,
Ao que parece, as árvores do jardim Principe Real vão ser substítuidas por lodãos e ...ROBÍNIAS!
Mas que técnicos são estes, que " inundam" os arruamentos de uma cidade com negundos e robínias.Certamente desconhecem o seu carácter invasor( até devem achar graça aos pequenos rebentos que surgem nos telhados e canalizações) ou, atrevo-me, haverá uma " negociata" com as respectivas espécies?
Algo está certamente mal nestes técnicos. Deixei a sugestão e pretendo obter resposta, a que as robinias e outras especies nao sejam ali plantadas, mas sim carvalhos, tilias ou outras que eles entenderem, mas certamente que não farei mais reclamações acerca de ulmeiros doentes e afins, pois " pior a emenda que o soneto"!!!
p.s : Pedro, não me esqueci da tua ida ao Algarve, eu eventualmente não estarei por lá, vou tentar obter localização exacta.
Abraço
Tenho plena consciência ( em resposta ao Sr. Domingos presente no video )que ficaram piores. Absolutamente incompreensível!!! Quanto ao pretenso arquitecto, um pouco mais de sentimentalismo de alma, não lhe ficava nada, mas mesmo nada mal, de modo a corrigir catastróficos erros tomados num passado, que venham justificar a existência de um desastroso futuro! Obrigado.
O que choca mais é a prepotência do Director da Escola que tudo decidiu sem ninguém informar.
O Arquitecto paisagista devia ganhar vergonha na cara. Em 120 não se aproveitou um? Há gente que tem lata e descaramento.
E tudo isto para gastar uma média de 200 Euros em 200 novas árvores. São 40000€. Deve dar jeito a alguém.
As árvores, como já disseram, poderiam ter sido substituídas progressivamente, mesmo que fosse num período de apenas 12 meses, até ser necessário abater algumas por causa das obras.
O que este senhor director teme é a democracia, neste caso a democracia escolar. E teme ele e temo o arquitecto que as suas razões sejam postas à prova. É o facto consumado. Aqui, em Lavalade, no Príncipe Real. São uns déspotas-inhos que odeiam a consulta pública, odeiam quem os elege, consideram todos uma maralha ignorante.
O directorzeco vive bem com a consternação dos outros. Pena é que seja difícil, com as novas regras que a Milú introduziu, os consternados fazerem ver que os sentimentos e opiniões são importantes e livrarem-se do sr director.
Uma tristeza o ar de gozo com que ele asserta o seu poder. "Não gostaram? Vivo bem com isso."
Uma tristeza.
Rui Pedro,
Receio que seja esta a dita escola do século XXI, arboricida e anti-democrática!
Palhaço... não são 130... são cerca de 120. Tá estúpido o homem?
O que? 10 a menos já não faz mal?
Era quem lhe cortasse as pernas e os braços.
Lamentável, mais um arboricídio numa secundária de Aveiro.https://www.facebook.com/rosa.pinho.14/posts/968139926539050
Enviar um comentário