sexta-feira, novembro 27, 2009

E a seguir, José, que árvores vais mandar cortar?

Jardim de Santos - Fotografia da Rosa


O que se passa em Lisboa, as pessoas perderam o juízo e embarcaram numa fúria arboricida?

Primeiro, surgiu a intenção da Câmara Municipal de Lisboa (CML) instalar uma casa em metal sobre uma tipuana classificada no Jardim de Santos. A ninguém ocorreu consultar o Decreto-Lei n.º 28468/38, de 15 de Fevereiro, e aquilo que o mesmo diz sobre as medidas de protecção a exemplares classificados. A ninguém ocorreu questionar os serviços técnicos da Autoridade Florestal Nacional (AFN) ou outros técnicos em arboricultura, sobre os efeitos da instalação da dita estrutura sobre a árvore e o constante movimento de pessoas a subir à mesma.

Aliás, estou plenamente convicto que a CML se está perfeitamente borrifando para os técnicos da AFN e para o Decreto-Lei n.º 28468/38. O que lhes interesse é o pretenso chique da modernidade que a ExperimentaDesign distribuirá sobre o espaço, como se fossem pozinhos de magia...

E se os ramos da árvore não aguentarem o peso da estrutura e das pessoas? Pormenores, o que interessa é o brilho do design!


Fotografia do blogue Lisboa S.O.S.

Em segundo lugar, temos o abate, já concretizado, de dezenas de laranjeiras, na Praça de Alvalade, apenas para prolongar uma calçada em lioz. Árvores saudáveis, que não colidiam com nenhuma estrutura urbana.


Mais uma vez, pretensos valores estéticos ditaram o abate de árvores. Pormenores diria a CML.

Fotografia de Leonor Areal

Por último temos o inenarrável caso do Príncipe Real e das árvores que estão a ser abatidas no seu jardim. Primeiro eram 20, agora serão perto de meia centena. Primeiro era porque estavam em más condições mas, afinal, parece que algumas estavam apenas mal formadas, ou seja, eram feias...coitadas!

Diz o assessor de imprensa do Sr. vereador dos Espaços Verdes que o projecto foi aprovado pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico. Pessoalmente, só ficaria sossegado se o mesmo tivesse sido aprovado por técnicos de arboricultura, ou será que estes não existem numa cidade com as universidades e os institutos que Lisboa tem?!

Termino pois com a pergunta que faço no título deste texto, dirigida ao Sr. vereador dos Espaços Verdes da CML, José Sá Fernandes: E a seguir, José, que árvores vais mandar cortar?


quinta-feira, novembro 26, 2009

Mais um ano. Mais do mesmo.




Imagens do blogue Rapoula do Côa

Chegou a altura do ano em que as autarquias, Câmaras e Juntas, gastam dinheiro dos contribuintes para nos fazerem o "favor" de nos defender das árvores.

Está aberta a época de caça às árvores! Olhem bem para as árvores cuja beleza vos enche os dias, pois podem não sobreviver a este Outono/Inverno...

terça-feira, novembro 24, 2009

Arboricídio em Oeiras




Na Escola Secundária Sebastião e Silva, em Oeiras, foram abatidas mais de 100 árvores porque, segundo o arquitecto Luís Cabral, responsável pela requalificação do espaço, havia exemplares:

a) Infestantes;
b) Mal formados;
c) De folha persistente;
d) Localizados em locais onde é necessário edificar novos edifícios.


Vamos à análise dos pretensos motivos que justificariam tamanho barbárie:

Admito que não se pode ser preso por ter e por não ter cão. E eu que já, por tantas vezes, defendi que as espécies invasoras deveriam ser eliminadas dos espaços públicos, não critico esta opção (por princípio, pois admito excepções se estivermos a falar de exemplares notáveis).
Por este motivo, não me oponho a que, progressivamente, se vão substituindo estas espécies, existentes em jardins de edifícios públicos.

No entanto, tendo em conta que foram abatidas 120 árvores (!!!), não me deixo de questionar sobre quantas, destas árvores, seriam invasoras? Como não me deixo de interrogar sobre se este caso de Oeiras foi excepcional ou se, a partir de agora, todas as espécies invasoras existentes em jardins de escolas, ou de outros edifícios públicos, serão abatidas?


Obviamente, passando a outro argumento, é compreensível que se transplantassem os exemplares que colidissem com a construção de novos edifícios, dentro do recinto escolar. Admito mesmo que fosse impossível transplantar alguns desses exemplares, mas a decisão de as abater, pura e simplesmente, sem ponderar o transplante, mostra bem o valor que foi dado às árvores que existiam na escola.

Os restantes argumentos com que se pretendeu justificar este arboricídio são indecorosos! Abater árvores porque estão mal formadas é absurdo. As árvores não se querem perfeitas, querem-se seguras. Logo, ou bem que as árvores tinham problemas fitossanitários, que punham em sério risco os elementos da comunidade escolar, ou a decisão de as abater por não estarem muito perfeitinhas foi perfeitamente fútil.
Como fútil foi a decisão de abater árvores porque eram de folha persistente. Sim, é certo que as árvores de folha caduca têm a vantagem de renovar a folhagem, permitindo a passagem da luz solar no Inverno, mas pretende-se, como esse argumento, justificar o abate de árvores com dezenas de anos? Apenas porque eram de folha perene?!

Não satisfeito com esta argumentação, o Sr. arquitecto pretende que aceitemos o arboricídio de mais de uma centena de exemplares, com dezenas de anos, acenando com a plantação de novas árvores. O Sr. arquitecto acha uma chatice isto das árvores serem velhas e feias.

Chique a valer é plantar novas árvores, mais de acordo aos gostos do autor do projecto de requalificação. A história, essa, apaga-se ao som da motossera!

Deste modo, o arquitecto Luís Cabral ignorou o valor do pequeno ecossistema formado por esta centena de árvores no jardim desta escola, como ignorou o seu valor patrimonial e o valor sentimental que as mesmas tinham para dezenas de pessoas que estudaram e trabalharam neste lugar, ao longo dos anos.


Tudo isto foi feito em nome de uma requalificação para fazer nascer a escola do século XXI. Medo! A escola do século XXI está entregue à mais pura das ignorâncias, desrespeitadora da sua própria história e identidade.


P.S. - Esta situação é, para mim, tanto mais absurda quanto o arquitecto Luís Cabral foi o autor do Jardim do Lago, na Covilhã, obra em que soube aproveitar as velhas árvores da quinta onde o referido jardim foi implantado. Elogiei-o por isso e mantenho esses elogios.
Lamento apenas a aparente mudança de opinião do arquitecto face à preservação do arvoredo pré-existente.

O único argumento verdadeiramente válido para abater uma árvore é a sua falta de sustentabilidade e, logo, o risco da mesma cair e poder provocar danos, humanos ou materiais. É sintomático que este argumento não tenha sido referido, como justificativo, para abater nenhum dos 120 exemplares.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Arboricídio em Madrid



"Los árboles son en las ciudades elementos de ornato, y en arquitectura ornato es la parte superflua del edificio." Bernabé Moya


Fotografia, citação e notícia completa: La Crónica Verde.


sexta-feira, novembro 20, 2009

Um projecto interessante

Um grupo de cidadãos de Lisboa tomou a iniciativa de se juntar para plantar árvores. Interessante porquê? Por ser uma iniciativa de um grupo de cidadãos. Para mim, isto é que torna esta iniciativa original e a distingue de tantas outras iniciativas similares.

Árvores são árvores, bem sei, independentemente de quem as planta. Mas agrada-me particularmente que, ao contrário de tantas outras situações, não estejamos a falar de marketing verde de uma qualquer empresa que quer apagar o seu dióxido de carbono, plantando árvores.

Nada disso, são apenas pessoas que gostam de árvores e as querem plantar! Agrada-me...


Plantar uma árvore: http://www.plantarumaarvore.org/


quinta-feira, novembro 19, 2009

Plátanos em risco

Imagem retirada do blogue Rio das Maçãs


A seguir com muita atenção a intenção da Estradas de Portugal (EP) intervir em 572 árvores no concelho de Sintra.

Entre as árvores visadas, encontram-se os plátanos situados junto à Adega de Colares (visíveis na imagem retirada do blogue Rio das Maçãs, que tem dedicado alguns textos ao assunto).

Espero estar profundamente enganado mas, por situações anteriores, antevejo que esta intenção não augure nada de positivo para este património natural. Actualmente, a EP olha para as árvores que estão sob a sua alçada, apenas como uma fonte de conflitos e de despesas.
Deste modo, qualquer desculpa é boa para a EP abater algumas árvores. Para os seus administradores, tal actos são sempre geradores de poupança e de simpatias entre os muitos portugueses que destilam ódio pelos nossos arvoredos. Resumindo, menos árvores são sempre sinónimo de menos dores de cabeça.


Podem, igualmente, ler um artigo mais extenso que escrevi no blogue da Árvores de Portugal.

terça-feira, novembro 17, 2009

Poderá o amor matar uma árvore?



No seguimento do seminário sobre conservação de árvores monumentais realizado em Madrid, e divulgado aqui, uma reflexão interessante que aconselho a ler: Amores que Matam Árvores (texto em língua espanhola).


Nota pessoal: a falta de civismo pode matar uma árvore ou, no mínimo, danificá-la (ver a imagem do plátano monumental, situado em Monchique, que acompanha este texto). Não discordo.

No entanto, a meu ver, tal constatação deverá levar-nos a educar as pessoas no sentido de modificar as suas atitudes para com as árvores e a acautelar a protecção de alguns espécimes, em particular, mais sensíveis à pressão humana. Mas não nos deverá levar nunca a esconder todas as árvores em cercados, longe dos olhares humanos.

Só se ama o que se conhece. Se é inegável que o "excesso de popularidade" pode danificar uma árvore, não deixa de ser menos verdade que a divulgação dos exemplares monumentais é essencial para a causa da defesa da importância do património arbóreo. Em Espanha como em Portugal.