domingo, julho 12, 2009

Reflexões sobre o seminário "Árvores Monumentais - Importância e Conservação" (I)

O seminário "Árvores Monumentais - Importância e Conservação" decorreu no Museu/Auditório Municipal do Sabugal, junto à sequóia-gigante [Sequoiadendron giganteum (Lindl.) Buchh.] classificada como árvore de interesse público no ano transacto.


O prometido é devido e ainda que com considerável atraso cabe-me, passadas que estão duas semanas sobre o evento, fazer uma pequena reflexão sobre o seminário "Árvores Monumentais - Importância e Conservação", que decorreu no Sabugal a 25 e 26 de Junho.

Recordo que este seminário foi co-organizado pela Associação Árvores de Portugal, da qual sou um dos 5 membros fundadores, juntamente com o Miguel Rodrigues, que comigo escreve no "Árvores Monumentais do Algarve e Baixo Alentejo", com o Rui Fernandes (autor de, entre outros blogues, o "Quinta do Sargaçal"), com o João Vaz (autor do blogue "O ambiente na Figueira da Foz") e com o Serafim Riem, pessoa ligada à génese de algumas associações ambientalistas como a Quercus e o FAPAS.

Relembro, no seguimento do texto anterior que, de momento, dispomos de uma página no Flickr e no Twitter e que, em breve, teremos operacional a página oficial da Árvores de Portugal (ver ante-projecto).


Mas voltemos ao Sabugal...

O primeiro dos dois dias do seminário, quinta-feira (25), foi dedicado a um conjunto de intervenções que se centraram sobre as árvores e as florestas, mas em diferentes perspectivas.

A primeira palestra ficou a cargo de Jorge Paiva, botânico, que numa intervenção onde aliou o rigor científico à emotividade, conseguiu cativar a atenção dos presentes para a importância das plantas, e das árvores em particular, bem como da importância de preservar a biodiversidade que as florestas comportam.
Particularmente esclarecedoras foram as imagens, da autoria do próprio, de destruição da floresta amazónica e dos perigos que a mesma comporta para o equilíbrio do planeta.




De seguida, Laura Alves e Serafim Riem, resumiram o trabalho de ambos no levantamento dos castanheiros monumentais do concelho do Sabugal.
Um trabalho que tem permitido descobrir um imenso património natural e cultural, dada a importância ancestral da cultura da castanha na paisagem e economia do interior das Beiras, como é o caso do concelho do Sabugal.
Os autores deste projecto enumeraram alguns factores que colocam em perigo a sobrevivência deste património, bem como apontaram possíveis medidas para o valorizar e defender.




A palestra que se seguiu, de minha autoria e do Miguel Rodrigues, resumiu o trabalho de 3 anos e de milhares de quilómetros percorridos na procura de árvores monumentais nos distritos de Faro e Beja.
Foram explicados os objectivos que norteiam o nosso trabalho, incluindo uma reflexão sobre os métodos de selecção das árvores incluídas no blogue "Árvores Monumentais do Algarve e Baixo Alentejo".

Por outro lado, mais do que identificar e enumerar factores que afectam a preservação deste imenso património, importou-nos igualmente salientar a importância de o proteger e, sobretudo, de o divulgar como forma de envolver as comunidades locais na sua preservação.



Seguidamente, o engenheiro Campos Andrada, da Autoridade Florestal Nacional, fez um resumo das medidas de protecção à floresta e às árvores ao longo da história do nosso país.

Deste modo, foi interessante descobrir que em 1914 foi promulgada uma lei que criava a Associação Protectora da Árvore, com o objectivo de criar um catálogo com as árvores notáveis do país, as quais deveriam ficar, posteriormente, sob a guarda do Estado.
E se, por um lado, é verdade que a Associação Protectora da Árvore acabou por não ter continuidade, por outro lado pode considerar-se que os objectivos que criaram esta associação acabaram por ser os mesmos que inspiraram, posteriormente, a elaboração do Decreto-Lei n.º 28 468, de 15 de Fevereiro de 1938, o qual, ainda hoje, regulamenta a classificação de árvores ou conjuntos de árvores.

Por último, o engenheiro Campos Andrada proferiu ainda algumas reflexões sobre a necessidade de proceder a algumas actualizações no referido Decreto-Lei n.º 28 468.




Antes da pausa para intervalo, a engenheira Susana Domínguez Lerena teve ocasião de descrever o extraordinário projecto Árboles, Leyendas Vivas, coordenado por si, e que tem promovido a recolha de dados sobre as árvores monumentais de Espanha.
A palestra foi abundantemente ilustrada por imagens de exemplares notáveis distribuídos por toda a geografia espanhola.

Por outro lado, Susana Lerena apresentou alguns motivos que justificam a necessidade de existência de uma lei de defesa da árvore, comum a todo o território espanhol, que unifique a diversidade de legislação existente ao nível das diferentes autonomias.

Por último, Susana Lerena falou dos prémios "Árvore e Bosque do Ano" de Espanha, criados com o objectivo de valorizar o esforço de todos os que protegem e cuidam do futuro das árvores.


Outro gigante vizinho do Museu/Auditório Municipal do Sabugal, um magnífico cipreste-do-buçaco (Cupressus lusitanica Mill.)


[Nos próximos dias darei continuidade ao relato do
seminário "Árvores Monumentais - Importância e Conservação", nomeadamente sobre a palestra de Ted Green e Jill Butler e sobre a saída de campo do segundo dia].


3 comentários:

Ana Ramon disse...

Obrigada Pedro. Este texto é óptimo para pessoas, como eu, terem ideia do que se vai fazendo por este país em relação ás arvores e á floresta. Voltarei para ler atentamente a continuação do resumo desses trabalhos.
Ainda bem que existem pessoas com este tipo de preocupação.
Um beijinho

pedro vicente disse...

Gostava de ter estado presente...uma pena.
Caro Pedro,já agora dá uma espreitadela no meu recente blog:http://taxustaxus.blogspot.com/

Abraço
Pedro Vicente

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Olá Ana,

Essa foi das melhores coisas no Sabugal, ou seja, perceber que existem várias pessoas em Portugal com interesse na defesa das árvores.

Um beijo.



Olá Pedro,

Já adicionei o teu blogue. Gostei muito da fotografia com os dois carvalhos. Gosto bastante destas árvores velhas, com sinais da passagem do tempo mas ainda com força para resistir.

Houve várias pessoas que manifestaram a pena em não poder participar no seminário. Ficará para uma próxima ocasião.

Um abraço.

P.S. - Não estou esquecido daquela questão dos ulmeiros. Respondo em breve.