Árvores decepadas pelo tornado de 16 de novembro de 2012 - Silves |
No passado dia 16 de novembro, a cidade de Silves foi atingida por um devastador tornado, fenómeno relativamente raro no nosso país. Passou a menos de 200 metros do meu local de trabalho e a escassos 50 metros da creche do meu filho.
Ainda hoje me custa pensar nesse dia, voltar ao exato sítio onde o monstro entrou na cidade, e recordar os momentos que se seguiram: a cara de incredulidade e de pânico das pessoas, os carros de rodas para o ar, projetados a dezenas de metros como brinquedos, as árvores arrancadas pela raiz, as casas e os muros derrubados. Um cenário de guerra, igual aos que vemos habitualmente nas televisões, mas que julgamos impossível de acontecer à porta de nossa casa.
De forma quase miraculosa, felizmente, não houve vítimas humanas1, mas houve avultados danos materiais. E houve adicionalmente outro tipo de danos, habitualmente não contabilizados neste tipo de catástrofes, como os que foram infligidos ao património arbóreo da cidade. Foram dezenas de árvores com ramos arrancados e o tronco descascado, decepadas ou, simplesmente, arrancadas pela base.
Porém, neste mês que se passou desde esse dia fatídico de novembro, ao passar diariamente neste cenário de destruição, não tenho deixado de pensar e refletir no seguinte…Quem chegue a Silves, sendo desconhecedor do tornado que se abateu sobre esta cidade, talvez se interrogue sobre os muros derrubados ou os telhados ainda destruídos, talvez questione o motivo de ver alguns restos de troncos derrubados, mas estou certo que não estranhará ver dezenas de árvores estropiadas. E não estranhará porque esse é o cenário que todos conhecemos das vilas e cidades portuguesas, centenas e centenas de árvores destruídas todos os anos por podas mal executadas.
O que em Silves foi provocado por um tornado, fenómeno de natureza imprevisível, em centenas de outras urbes portuguesas é provocado, todos os anos, por “tornados” perfeitamente evitáveis, perpetrados por funcionários autárquicos ou por empresas sem qualquer tipo de preparação técnica, pagos pelo dinheiro dos contribuintes.
Em Silves, as árvores não são roladas e é seguido o princípio de que a poda de árvores ornamentais se deve confinar ao mínimo indispensável. Por isso, custou-me ainda mais ver a natureza destruir em segundos, o que a sabedoria de quem cuida das árvores desta cidade soube preservar da ignorância que alastra em tantos outros municípios.
E essa sabedoria tem nome e tem cara. Nos últimos anos, o engenheiro João Garcia, da câmara local, mudou procedimentos, apesar de no início ter sido criticado precisamente por ter acabado com a prática da rolagem das árvores dos jardins e das ruas de Silves. Eu próprio, enquanto professor, já contei com o seu apoio, na minha escola, para evitar o corte de alguns choupos vistos, erradamente, como responsáveis de tudo o que são alergias primaveris.
Sendo certo que o ser humano pouco ou nada pode fazer para alterar a imprevisibilidade do que a natureza nos reserva, estou certo que, no futuro, as árvores da outrora capital do Algarve, continuarão a salvo do terrorismo arbóreo causado pela mão humana.
1 Adenda: infelizmente, soube-se hoje, dia 28 de dezembro, do falecimento de uma das pessoas gravemente feridas na sequência deste tornado.
(Texto publicado originalmente no blogue da Árvores de Portugal.)
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