quarta-feira, outubro 14, 2009

O patinho feio

Igreja da Santíssima Trindade. Bairro da Estação, Covilhã.


Desde miúdo que me lembro deste cedro (Cedrus sp.). E desde miúdo que me lembro dele assim, escanzelado.

É como se o passar dos anos lhe fosse indiferente, como se tivesse cristalizado no tempo. Como dele não tenho outra memória, nunca percebi o que o fez assim, enfezado, se é resultado de obra humana ou se é resultado da sua própria natureza.

No entanto, com os anos, habituei-me a aceitá-lo assim, um patinho feio comparado com outros cedros monumentais que crescem no Bairro da Estação, na Covilhã.

Nos anos mais recentes, o terreno que o viu crescer passou de descampado a estaleiro de uma igreja, cujas obras se arrastaram durante anos.

Nunca tendo partilhado esta certeza com ninguém, sempre suspeitei que o dia de conclusão da obra da igreja ditaria o seu fim. Mas enganei-me...

Por uma vez, num acto de humildade, quem decidiu a construção da igreja, quem a desenhou e construiu, decidiu aceitá-lo. Não o entendeu como uma afronta na paisagem, como um obstáculo à contemplação da obra humana.

Curiosamente, a Igreja da Santíssima Trindade reduz-se no espaço com a presença do cedro, na mesma proporção com o cedro aumenta a sua marca na praça, com a vizinhança do templo humano construído a seus pés.

Nesta história todos ganharam algo. E eu não perdi o meu patinho feio!