segunda-feira, janeiro 05, 2009

Insistir no erro



"Jamais haverá ano novo, se continuarmos a copiar os erros dos anos velhos". (Frase atribuída a Luís de Camões).



Ao contrário do que muito boa gente pensa, os professores estão constantemente a ser avaliados. Porque um professor não se limita a ensinar História, Francês ou outra qualquer matéria. Um professor é também um educador, alguém que transmite ideais e valores.

Por este motivo, os comportamentos e as atitudes de um professor, no meio em que se insere, estão permanentemente a ser escrutinadas pelos demais. É daquelas coisas que advêm da profissão...

Do mesmo modo, uma escola, enquanto colectivo de pessoas, tem um papel perante a sociedade do qual não pode demitir.

Uma escola dever ser, antes de tudo o resto, um espaço de respeito...De respeito para com as pessoas que aí estudam e trabalham e de respeito para com o próprio espaço físico da escola, o construído e o natural.

Para mim, uma escola onde não se respeita a árvore não tem moral para pregar a sua importância no mundo. Não se pode pretender ensinar as crianças a amar as árvores fazendo cartolinas no "Dia da Árvore" e, em simultâneo, ser conivente com a mutilação das árvores existentes na própria escola.

Nenhuma cartolina, por mais bonita que seja, pode apagar, da memória de um jovem, a imagem destes monstros retorcidos pela ignorância humana.

Se eu sou a pessoa que sou, com todo o amor às árvores que tenho, não o devo a qualquer desenho ou composição que alguma vez possa ter feito sobre a árvore.
Devo-o, entre outras coisas, à imagem das duas enormes tílias do recreio da minha antiga escola primária. São as imagens das brincadeiras sob as suas copas que eu retenho quando fecho os olhos...

Tivesse eu lá estudado uns anos depois, quando a ignomínia as mutilou e transformou em dois tocos disformes, e não seria o mesmo Pedro...

P.S. – Quer-me parecer que algumas escolas, ao invés de estarem tão preocupadas com processos burocráticos ilusórios, deveriam preocupar-se mais com a educação dos que aí estudam...

Se 2009 operou em mim alguma transformação, foi a de diminuir a pouca vontade que sempre tive para pactuar com certas hipocrisias. A passagem do tempo acentua-nos o mau génio!


4 comentários:

Artemísia disse...

é criminoso de facto...
e esse crime repete-se de norte a sul. Há meses, fiquei chocada em Constancia com as pobres arvores mutiladas q lá vi. Agora estão as oliveiras na moda como árvores ornamentais: Na Amadora, existem umas pobres oliveiras a bordejar um parque de estacionamento. Algumas até de tronco largo, a evidenciar uma idade já avançada... mas mesmo assim, cortam a direito, a ver quem consegue fazer a escultura mais modernista, nesta época da poda desenfreada! fico doente só de ver.
é como os Plátanos na estrada que liga Covilha à Guarda, e ali no Ginjal, onde param as camionetas, em vez de uma dúzia de copas frondosas devidas em árvores daquela idade (troncos q precisam de 2 pessoas para os abarcar com dificuldade), existem uns ramos diminutos e folhagem esparsa, do que poderiam ser árvores maravilhosas...

Anónimo disse...

Excelente post mais uma vez Pedro. Aqui em Loulé tenho as imagens de abate numa escola em arquivo. Pode ser que um dia venha a fazer uma exposição.

Concordo em absoluto.
Cumprimentos
João Martins

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

Caro João,

Essas denúncias têm que feitas; Não é uma coisa que me agrade, criticar colegas, mas a educação tem que começar nas escolas a todos os níveis, começando no respeito pelas árvores.

Um abraço.

Artemísia,

Esses plátanos do Ginjal doem-me particularmente, pois, como estudei em Aveiro, passava semanalmente por lá nas viagens de e para a Covilhã. Vi-os em toda a sua glória e na infâmia.

A questão das oliveiras é outra história mal contada. Aqui no Algarve podemos ver, na maioria dos viveiros, dezenas de oliveiras amontoadas sem qualquer copa. O motivo é bem simples...Enquanto uma camioneta consegue transportar 3 oliveiras com copa, a mesma camioneta conseguirá transportar, por cada viagem, o triplo de oliveiras decepadas. É apenas uma questão de lucro!

E depois há o outro lado da história, ou seja, o facto de estarmos a delapidar parte do nosso património natural. Neste momento, temos empresas que compram terrenos com o único intuito de ficarem com as oliveiras e as venderem a "peso de ouro" para campos de golfe e jardins de "resorts" ou mesmo para o estrangeiro. Em muitos casos, estamos a falar de exemplares centenários.
Claro que a situação é diferente quando se trata de transplantar uma oliveira que estava condenada pela execução de qualquer obra, por exemplo.



P.S. - Por razões pessoais, entre outras, não me foi possível ir a Gonçalo fotografar o dito carvalho. Talvez no Carnaval...

Jorge N. disse...

Boa! Em cheio. E o que angustia é que os "chefes" da Escola continuam mais "preocupados com processos burocráticos ilusórios" e menos "com a educação dos que aí estudam...". Venha o mau génio!