sexta-feira, janeiro 27, 2012

Troféus de caça



Se há coisa de que eu não gosto são troféus de caça. E, hoje em dia, as oliveiras monumentais, com vários séculos de história, transformaram-se numa espécie de troféu que todos querem ter no seu jardim, quer seja um novo rico, um hotel ou campo de golfe ou mesmo uma fundação, como Serralves.

Que não restem dúvidas, como qualquer pessoa, não me oponho ao transplante de uma oliveira, ou de outra árvore, se estivermos perante uma situação em que a mesma corra o risco de ser destruída devido à construção de uma estrada, de uma barragem ou de outro tipo de infraestrutura. Foi assim, por exemplo, no caso do Alqueva, o que permitiu salvar centenas de árvores. Nada a opor, como é óbvio, quanto à salvação dessas árvores, considerações à parte quanto à utilidade de algumas dessas infraestruturas.

Não é o caso... O que temos aqui é uma marca de azeite que, ao invés de preservar este monumento natural in situ, decidiu embarcar numa campanha de marketing, a pretexto da renovação de um olival, oferecendo esta oliveira para poder ser exibida, qual "troféu de caça" capturado na savana, nos jardins de Serralves.

Que a dita marca de azeite tenha apostado nesta estratégia para promover o seu nome, tentando mesmo passar uma imagem de preservação de um património biológico ímpar, não me surpreende. Mas que a Fundação de Serralves, com provas dadas na forma como cuida das suas árvores, tenha cedido à tentação de ter nos seus jardins esta "jóia", a quem mutilaram as raízes e a copa, para exibir e impressionar os seus visitantes, já me custa mais a compreender e a aceitar.

A Fundação de Serralves, ao contrário de outras instituições, tem obrigação de ter técnicos que saibam compreender que uma árvore milenar é, em si mesmo, um micro habitat, que perde o seu valor biológico e paisagístico, quando sujeito a este tipo de operações.

domingo, janeiro 15, 2012

E se...?

Fonte da imagem (aqui)
Em Espanha, um projeto piloto aposta na valorização e defesa de oliveiras com mais de 400 anos, incluindo exemplares milenares. Em vez de acabarem numa rotunda, no jardim de um hotel ou campo de golfe, enriquecendo os intermediários que as vendem, estas oliveiras serão preservadas, promovendo-se e vendendo-se o seu azeite, como produto de alta qualidade.

E se alguém se lembrasse de replicar este exemplo no nosso país, preservando um património natural, paisagístico e cultural único e premiando os proprietários destas árvores, ao invés de intermediários gananciosos? Não é um sonho, pode ser realidade. Ou amamos menos as nossas árvores e o nosso mundo rural, do que os nossos vizinhos espanhóis?