terça-feira, maio 27, 2008

O medo das "requalificações à portuguesa"



Ao projecto HiperNatura, iniciativa liderada pelo "Continente" e que visa a reconversão de diversos jardins públicos, já foram apontados alguns pontos negativos.

Em particular, o ponto mais criticado tem sido o relativo às árvores postas recentemente à venda nos hipermercados "Continente" e "Modelo".
Deste modo, criticou-se o preço de 2 € pedido por cada exemplar, argumentando-se que na maioria dos viveiros e noutras grandes superfícies, se conseguiria melhor preço por idênticos espécimes. Não o contesto, e não tenho vontade ou perfil para defender o "Continente", mas parece-me que os 2 € não se destinam "aos cofres do Eng. Belmiro", mas antes a ajudar a financiar a dita campanha (a menos que nos andem a enganar).

O que me parece certo é que, pelo menos a julgar pelo "Continente" da Guia e do "Modelo" de Albufeira, os portugueses não se deixaram convencer pela bondade da campanha e as pobres árvores lá vão secando nas prateleiras...Culpa do preço? Culpa do "Continente" que não soube explicar a campanha? Ou culpa dos portugueses que não estão virados para ajudar a renovar alguns dos jardins nacionais?

Também se criticou o facto de não serem folhosas e de não serem espécies autóctones. Louve-se um pormenor: não são espécies invasoras ou tidas como potencialmente invasoras.

A mim, em concreto, aborrece-me sobretudo que, por entre tantos mal-entendidos e boas intenções, acabe o inferno cheio de mais uns milhares de embalagens de plástico e de um igual número de árvores raquíticas e mal amadas!



E eu? Eu também não vou comprar nenhuma árvore, confesso! Não o faço pelo preço das árvores (se acreditasse na campanha até pagava o triplo) ou por serem pinheiros e ciprestes exóticos. Não o faço, porque na minha opinião há um problema de fundo na campanha HiperNatura: o destino do dinheiro!
Dito por outras palavras, não concordo que se auxiliem as autarquias portuguesas a renovar parte dos seus espaços verdes, quando estas são as responsáveis pela mutilação anual de milhares de árvores situadas no espaço público.

Atente-se na primeira imagem que acompanha este texto, e que resulta da digitalização da fotografia da página 10 da edição da revista "Visão" (n.º 794).
Esta imagem retrata o primeiro resultado prático do programa HiperNatura: a inauguração do parque infantil do Jardim Almeida Garrett, em Ovar.

Agora atente-se no pormenor que decidi realçar da dita fotografia, ou seja, a "poda camarária" de algumas das árvores que rodeiam este jardim.
Pois bem, não contem com o meu dinheiro e o meu apoio para "isto", ou seja, para requalificações à portuguesa!





Eu acredito que as intenções sejam boas, neste como noutros casos, mas delas está o inferno cheio...

As árvores nasceram sem culpa, se não têm imaginação para mais, deixem-nas em paz e sossego!

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Pedro,
Mais uma vez estou de acordo contigo.
Com um pequeno extra é que na minha área, Vila Real - Trás-os-Montes, a verba conseguida não servirá para requalificar nenhum espaço, mas antes para efectuar a manutenção de um já existente, o Parque Corgo.
Pensava que a manutenção estava já prevista aquando do projecto e execução da obra, havendo portanto verbas da Autarquia destinadas a esta despesa.
Abraço.
Nelson Lima

Anónimo disse...

Não passa tudo de GREENWASH à Tuga!!!

a d´almeida nunes disse...

Que grande trapalhada em que estes senhores nos metem. Dizem que vão fazer coisas bonitas em defesa da natureza, das árvores em concreto, mas não conseguem convencer ninguém.
Já estou como o Pedro diz: se não sabem fazer as coisas então estejam quietinhos ou peçam a opinião de quem tem formação e vocação para a área.
...
Pedro.
Mandei-lhe um e-mail a perguntar o que se passava com o seu blogue. Afinal foi problema meu que tente entrar com sombraverde somente.
Não lhe ligue, ao e-mail.
Um abraço
António

pedro disse...

Nelson,

Na Covilhã também se vai "requalificar" um jardim com pouquíssimos anos, inaugurado no âmbito do programa Polis.
Talvez aproveitem para plantar novas árvores, uma vez que muitas das que foram plantadas acabaram por morrer, talvez por deficiências no sistema de rega (ou por má escolha das espécies ou da altura do ano em que foram plantadas).

No entanto, ao lado deste jardim (Jardim do Lago), está a ser feito uma "piscina", pelo que não me admirava que o dinheiro do projecto "HiperNatura" ajudasse a financiar parcialmente esta obra.
Ficarei atento para ver o que será efectivamente apoiado neste caso.

Mas concordo contigo, pois é vergonhoso que já seja necessário intervir em jardins e parques com tão curto período de existência.

Mas o que me aborrece principalmente, tal como escrevi no texto, é que se apoie financeiramente as autarquias, quando estas são as responsáveis directas pela efectiva destruição de muito do "verde" que existe nas cidades.

Um abraço


António,

Ok! Um abraço.