sexta-feira, outubro 06, 2006

Salvem as árvores da minha cidade - Parte II

O cognome para estes dois plátanos (Platanus orientalis L. var. acerifolia Aiton), situados junto ao eixo TCT (antiga nacional que ligava a Covilhã à Guarda), à beira da ribeira que atravessa o Canhoso, poderia muito bem ser "Os sobreviventes". E passo já a justificar o porquê da escolha deste epíteto...

"Os sobreviventes"

Esta via era toda ela ladeada por dezenas de plátanos de dimensões semelhantes ou até superiores a estes dois exemplares. Durante anos eles não pareceram incomodar ninguém, até que em meados da década de 90 eles começaram a ser um empecilho! O que é que se seguiu? O habitual...foram decepados, posteriormente foram adquirindo várias doenças, tendo começado a definhar rapidamente até que, há cerca de dois anos, alguém decidiu acabar-lhes com o sofrimento e foram arrancados e substituídos por novas árvores. Restaram apenas estes dois exemplares, porque até os pobres de espírito terão tido um pouco de pudor e decidiram poupá-los ao massacre que perpetraram nos demais! Se acham estes dois exemplares magníficos, tentem imaginar esta via com dezenas de outros plátanos de um lado e outro da estrada...

A poda dos plátanos pode provocar-lhes uma doença mortal, conhecida vulgarmente como "cancro dos plátanos", provocada por um fungo do grupo dos que infectam mortalmente os ulmeiros (doença designada por grafiose). Este cancro tem dizimado os plátanos na zona central da Europa e já chegou ao nosso país, tendendo a alastrar-se através das podas incorrectas perpetradas um pouco por todo o lado. De igual modo, também as folhas dos plátanos podados estão mais sujeitas ao ataque de um oídio (Melanospora platanii Howe), tendo esta outra doença dos plátanos sido identificada no nosso país pela primeira vez em 1980. (Nota: recomendo a leitura do livro do Professor Jorge Paiva, "A Crise Ambiental, Apocalipse ou Advento de uma Nova Idade II, uma edição da Liga dos Amigos da Conímbriga).

Quanto às causas que levam a tamanho ódio aos plátanos por parte dos portugueses, estas permanecem para mim um mistério insondável...Embora, em muitos casos, estas podas resultem da falta de planeamento das câmaras municipais, que plantam estas árvores de grande porte em zonas urbanas onde estas vão ter pouco espaço físico para crescer. Bastaria para tal, plantar árvores de menor porte!....
Noutros casos, são as pessoas que solicitam a poda às juntas de freguesia e câmaras municipais. Porquê? Incomoda-lhes a sombra? Têm medo que estas lhes caiam em cima? Neste caso, só estaríamos seguros se cortássemos todas as árvores! Mas é curioso, que muitas dessas pessoas não se incomodam por ter as casas rodeadas de mato a cada Verão que passa!

Há também quem se incomode com o pólen que suja os carros ou com os pássaros que escolhem as árvores para repousar e que, sendo criaturas desprovidas da gloriosa inteligência dos humanos, decidem fazer as suas necessidades mais prementes sobre os nossos automóveis...Podamos as árvores ou abatemos os pássaros?
E os insectos que se colam à dianteira dos carros nas auto-estradas? Pois bem, deveremos fumegar as auto-estradas com insecticidas? E o que deveríamos fazer em relação aos cães que urinam nas rodas dos carros? Deveríamos fazer carros sem rodas ou abater todos os cães das cidades ou talvez mesmo os seus donos?! (num país onde se abandonam milhares de animais por ano tenho até medo de saber a resposta a estas interrogações).

Há, por último, os que solicitam as podas porque as flores, o pólen, os frutos ou as sementes, lhes causam reacções alérgicas...vai daí, toca de podar! Excelente solução...excepto pelo facto de que a poda vai no ano seguinte aumentar a floração e, logo, a produção de frutos e sementes! Aliás, é por isso que as ditas "árvores de fruto" são podadas. Acrescento que, como é óbvio, tenho o maior respeito pelas pessoas alérgicas ao pólen das plantas, a minha mãe é aliás bastante alérgica ao pólen de uma planta que cresce vulgarmente nos muros das cidades e dos campos, a alfavaca-de-cobra (Parietaria sp.), e que lhe causa grandes transtornos de saúde.
Aliás, algumas das plantas que causam maior número de alergias são as gramíneas, como os cereais, e não penso que se esteja a considerar a hipótese de deixar de plantar o trigo ou o centeio, com o qual fazemos o pão que comemos todos os dias! Além de que as pessoas tendem a esquecer que na base de muitas alergias estão precisamente muitas substâncias libertadas por várias indústrias e pelos automóveis! Mas é mais fácil descarregar nas árvores...as tais que nos fazem o favor de renovar o ar que respiramos.

Assim sendo, apesar de ainda haver muito a acrescentar, ajudem-me a salvar estes dois plátanos porque, nunca se sabe, podem estar a incomodar alguém...

Sem comentários: