quinta-feira, novembro 09, 2006

Tanta euforia para quê?

É com grande admiração que vejo a felicidade estampada no rosto de tanta gente por, neste ano, apenas terem ardido 72 mil hectares de floresta! Apenas 72 mil hectares!!!...
Toda a gente parece encantada da vida, a própria comunicação social (em especial as televisões) parece não ter nada a questionar acerca deste assunto...compreende-se, entretanto o país está submerso em água e o assunto já não terá interesse ... pois! Embora, em muitos pontos, ambos os problemas estejam interligados...

Felizmente temos os jornais...quer dizer, temos o "Público". Aconselhava a leitura do artigo de Pedro Almeida Vieira do passado Sábado, dia 4, sob o título: "O fogo não morreu, invernou".

De facto, independentemente de termos evoluído nalguns aspectos, este é um problema de gerações, que levaria décadas a resolver se o começássemos a resolver, com seriedade, hoje mesmo.
Porquê então esta euforia? Porque um final de Agosto anormalmente húmido acabou com um ciclo infernal de devastadores incêndios, como o da Mata do Ramiscal? Porque os milhares e milhares de hectares ardidos em 2003 e 2005 serviram de zonas tampão a grandes incêndios, nomedamente no martirizado distrito de Castelo Branco? Expliquem-me, porquê esta euforia?

Podemos até chegar a um ponto em que tenhamos um sistema de primeira intervenção exemplar, como na Galiza...mas ainda que, resolvidos vários problemas, conseguíssemos dentro de alguns anos implementar um sistema semelhante ao daquele região espanhola, como este Verão dramaticamente mostrou aos nossos irmão galegos, tal não resolve o essencial da questão!...

Enquanto tivermos uma florestação à base de espécies altamente inflamáveis (pinheiros e eucaliptos); um litoral altamente ocupado e desordenado com inúmeras construções espalhadas por áreas florestais; um interior abandonado com milhares de minúsculas propriedades sem qualquer espécie de gestão, bem podemos continuar eufóricos...pelo menos até ao próximo Verão!!!

Resumindo, como há anos andam a dizer pessoas como o arquitecto Ribeiro Telles ou o biólogo Jorge Paiva, o problema dos incêndios no nosso país é, antes de mais, uma questão de (falta) de ordenamento do território e de (falta) de políticas florestais sustentáveis!

Continuem a discutir aviões...isso significa que ainda não aprenderam nada!

2 comentários:

Al Cardoso disse...

Eu tambem pensei precisamente o mesmo, Que tristes sao quando ja se contentam porque so ardeu essa quantidade de hectares.
Tristes politicos temos e infelizmente vamos continuar a ter.
Pois quando nem o proprio governo cumpre as leis que promulga, o que estamos a espera?

Um abraco da encosta norte da "Serra" (a Estrela claro)

Pedro Nuno Teixeira Santos disse...

A mediocridade está no poder há demasiado tempo...

Um abraço serrano